terça-feira, 27 de outubro de 2009

Hora de desistir?

Domingo fui cumprir minha planilha lá no Riachove Grande. Mari e eu. Claro que choveu. Já no finzinho do treino, enquanto a Mari corria um pouco, meu pneu furou. Estava numa leve descida e pof! Um estouro, barulho metálico e roda da frente no chão.
Nunca consegui trocar um pneu. Como não passava ninguém, disse a mim mesma que tentaria fazer a troca. Tirei a roda. O pneu estava totalmente murcho. Peguei as espátulas. Encaixei a primeira, empurrando o pneu pra fora da roda e prendendo no aro. Encaixei a segunda, com um pouco mais de dificuldade. A terceira eu já não conseguia enfiar entre a roda e o pneu. Tentei escorregar a segunda espátula, tentando tirar o pneu da roda. Sem sucesso. Finalmente uma dupla de mountain bikers imundos passou e eu fiz aquela cara sem graça de “socorro, por favor!” e eles perguntaram: “Precisa de ajuda?”
Em seguida, Cacau, seu marido e mais uma amiga pararam e aquele batalhão começou a me ajudar. Até que eu estava equipada. Mas, no último minuto, quando encaixamos a cápsula de CO2 na válvula... O bico da válvula quebrou. Não tínhamos mais CO2 e nem câmera. Como eu já tinha esfriado e faltava pouco mais de 10k pra terminar meu volume, resolvi dar o treino por encerrado.
Ontem me lembrei de comprar duas câmeras. Pensei “eu mesma vou trocar!”. À noite consegui tirar a câmera de dentro do pneu com um pouco mais de facilidade. Encaixei a nova câmera dentro do pneu e fui encher com a bomba de pé. Bombava, bombava, bombava... E nada do pneu encher. Sei lá... Parecia que tinha algo de errado com o bico. Só não sabia se o da bomba ou o da câmera. Abri a outra. Tentei dar aquela sopradinha – que aprendi que ser necessária pra poder encaixar bem a câmera. Mas soprava, soprava, soprava... e nada de a câmera encher. Sei lá... Parecia estar colada. Bufei. Xinguei. Como uma pessoa tão cheia de competências como eu podia ser derrotada numa tarefa tão banal? Bem... pensei, não se pode acertar todas. Que sejam essas as minhas fraquezas.
Sondei o marido pra ver o que ele estava fazendo. Mas ele estava tenso, cuidando de seus afazeres, pois viajaria hoje. Cheguei perto, suspirei, falei em voz alta que eu não tinha conseguido trocar o pneu... Mas ele não pegou a deixa.
Resolvi então que levaria as duas rodas e as duas câmeras. Alguma alma caridosa, com uma bomba eficiente, haveria de me ajudar no treino. Isso SE houvesse treino. Pois a chuva parecia que não iria parar.
Na madrugada a chuva parou. Fui pegar a bike, na esperança de que o marido tivesse se apiedado de mim e resolvido meu problema. Nada. Tudo estava como eu havia deixado.
Levei tudo. No treino, o Sahan encheu minhas duas rodas. O bico da válvula não estava quebrado. Eba! Mas aí... Pof! A câmera estourou na mão dele. “Puxa... acho que enchi de mais...”. Então enchemos a Zipp.
Começa o treino. Saímos já forte. Os primeiros saem sem olhar pra trás, nós vamos tentando alcançá-los. Na raia, antes da entrada do remo... Adivinha? Pof! Estoura o pneu tubular da minha Zipp!
Inacreditável. Obviamente não tenho outro pneu tubular. Volto andando no escuro e pensando “Talvez eu não devesse ter saído da cama... Não seria hora de desistir?” Mas logo em seguida, eu mesma respondo. “Não. Afinal acordei cedo, e estou aqui”.
Minha única chance de treinar é tentar aquela câmera.
Chego ao meu carro. Pego a outra roda, tiro a câmera furada com facilidade! Passo a mão por dentro do pneu. Não parece haver nada de errado. Examinho o aro. Nada. Pego aquela câmera que não conseguia encher e... consigo! Cuidadosamente, encaixo-a dentro do pneu e encaixo o pneu na roda! Milagre!! Nem eu acredito. Mas não tenho bomba. Chico, um atleta da MPR passa. Peço a bomba, ele joga a chave do carro. Emerson, meu técnico, chega e me ajuda a encher. Nem precisava. De repente... Pof! Era minha última câmera. Hora de desistir? Ainda não.
Chega o Marquinhos. Ele tem uma câmera. Mas precisamos descobrir o que há no pneu ou na roda que está fazendo as câmeras estourarem. Emerson examina e não acha nada. Vira o pneu do avesso. Eu pego e consigo achar! O pneu já era. Está com um rasgo na lateral. Hora de desistir? Não. Emerson improvisa um manchão com um pedaço da minha superbananinha. E finalmente, às 6h50m eu saio pra treinar. Sozinha.
Tenho 30 km pra fazer. Logo depois da primeira volta, uma garoinha começa a cair. No início da segunda, ela engrossa. Faço mais duas voltas debaixo de chuva. Na quinta volta ela diminuiu, na sexta e última, ela pára. Mas não dá tempo de eu me secar. Termino o treino ensopada. Mas feliz por não ter desistido. E o melhor: acho que agora sei trocar um pneu!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Não li, mas já gostei


Rodolfo Lucena lança seu segundo livro na próxima 4ª feira, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.
Para quem não o conhece, ele é jornalista, editor do caderno de informática da Folha de São Paulo, autor da coluna Mais corrida, no caderno Mais, além de ter um blog no site UOL/Folha.
Fora isso, é figura ímpar, que pode ser encontrado correndo pela USP, Ibira ou nas ruas do Sumaré. E quando escrevo “pode ser encontrado” não é modo de dizer. Ele é fácil de encontrar. Se você corre, com certeza já viu o Rodolfo e reparou nele. É que ele tem cabelos e barba bastante longos. Não é, de modo algum, o estereótipo dos corredores que estamos acostumados a ver.
Uma série de coincidências me levou ao Rodolfo. Um belo dia, minha irmã que é veterinária, me perguntou se eu toparia ir ao lançamento do livro de um amigo dela. Na verdade, o dono de um “cliente”. “Ele é assim, que nem você, louco por corrida. Está lançando um livro sobre maratona”. Era unir o útil ao agradável, concordei na hora. E ela não me disse o nome do autor, nem o do livro! Não me lembro o que aconteceu, mas minha ela não pode ir e, sem ela, acabei desistindo.
Alguns meses depois, quebrei meu pé. Fratura por estresse no 2º metatarso do pé esquerdo. De tanto correr. Fiquei abalada. Mas não deixei de ir à academia nadar e fazer musculação – de muletas e robofoot. Numa dessas manhãs, encontrei Ricardo, o nutricionista da academia que me disse: “tenho um presente pra você.” E me estendeu o livro Maratonando. De quem? Do próprio.
Abro o livro e o que leio nos agradecimentos? Instituto Vita! Onde eu estava indo duas vezes por semana para me tratar.
Grudei no livro. Como estava imobilizada, a leitura era um jeito de um correr um pouco. Rodolfo narra sua participação em várias corridas e maratonas. Um texto fácil, envolvente, com detalhes que fazem a gente sentir que está na competição com ele.
Quando terminei de ler, deixei o livro com Cacau pra ela pegar uma dedicatória com o autor. Neste período, não o encontrei nem uma vez. Ou seja, continuava sem conhecê-lo pessoalmente.
Mas, logo que voltei a me exercitar, fui dar uma caminhada na Sumaré e reconheci o Lucena. Não tive a menor dúvida: interrompi seu trote, pra me apresentar. Sou a Claudia, irmã da Silvia, cliente da Cacau no Vita, li seu livro e adorei porque me fez companhia enquanto eu me recuperava!
Ele foi super simpa. Já era sua fã, fiquei mais um pouco.
Quando ele começou o blog, enviei uma contribuição, relatando minha primeira corrida de São Silvestre, que ele postou na seção “Fala, leitor”. Sempre que posso, leio o blog. Tem muita informação, cobertura das corridas, entrevistas e os relatos deles, gostosos de ler. Adoraria ter um “Lucena do triathlon”.
Segundo palavras do próprio autor, o livro “editado pela Publifolha, traz crônicas publicadas em minha coluna mensal na "Folha de S. Paulo" e textos selecionados de meu blog. São pensamentos sobre a vida corrida, relatos de provas bacanas ou dramáticas, conversas com treinadores e especialistas em atividade física e entrevistas com algumas figuras muito especiais.”
O lançamento é segunda-feira e estão todos convidados.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Berti-Água-Maresias 2009

David, Paéco e Paula, - metade da equipe, antes da largada. Os outros estavam no PC1.


Este sábado participei junto com uma eclética equipe, da (ultra)maratona de revezamento Bertioga-Maresias.
Arrumei uma encrenca com meu técnico que achava que eu deveria me poupar, não fazer a prova e, em vez disso, participar do Troféu Brasil que será no próximo domingo. Bati o pé. Disse a ele que nem sempre entro nas competições visando resultado ou treino. Tem horas que é para me divertir. No final, ele acabou entendendo.
Gosto dessa prova porque as equipes têm, de fato, de trabalhar em equipe. Como o percurso é dividido em trechos de diferentes distancias e níveis de dificuldade, há que se negociar quem vai ficar com qual(ais) trecho(s). Fizemos a prova em seis pessoas e, como são nove trechos, algumas pessoas teriam de fazer mais de um. Depois, é preciso organizar a logística do apoio: os corredores precisam ser levados e apanhados nos postos de controle (onde o bastão é passado). A prova acontece ao longo do litoral norte, saindo da balsa, em Bertioga e chegando em Maresias, na praia. Não são voltas numa mesma rota, como no caso das tradicionais maratonas de revezamento como a do Pão de Açúcar, por exemplo. Para dificultar mais um pouquinho, um mesmo corredor não pode fazer dois trechos seguidos.
Então, por conta disso, é preciso reunir todos um tempo antes da prova, negociar e repartir os trechos para que cada um possa treinar de acordo com as características de seu percurso: plano, com subidas, piso de terra, asfalto, areia fofa, areia dura, poças de água, horário de sol quente, curto, longo etc. No nosso grupo, meu marido e eu que treinamos mais forte, demos prioridade de escolha às pessoas que nunca haviam feito a prova, as que estavam inseguras quanto à sua resistência. O Paéco, nosso vovô voador de mais de sessenta anos, foi valente e, como ja havia feito conosco a prova dois anos antes, escolheu um trecho de mais de 10 km, classificado como difícil. Os outros – Mariana, Paula e David, também foram corajosos. Pegaram etapas mais fáceis, mas duas cada um! Roger ficou com a penúltima, considerada bem difícil e eu com o “muito difícil” – que incluía a travessia da serra de Boiçucanga pra Maresias.
Fábio, marido da Mariana, ficou de organizar a logística do apoio. Mas ele não é corredor e nunca tinha participado de um evento destes. Ou seja, quando, na sexta-feira, já em Camburizinho, fomos dar uma passada na planilha, alguns furos apareceram. Quer dizer, havia chance de passarmos algum estresse, de um dos corredores não chegar a tempo no seu PC (posto de controle). Então fizemos uma troca e ficou redondinho!
O carro 1, que foi dirigido por mim até a hora da minha largada, levou os corredores que deveriam partir/chegar dos/nos PCs pares. O carro 2, dirigido pelo Fábio, levou os corredores dos PCs ímpares.
Foi perfeito! Ninguém atrasou. Ninguém se estressou:
Carro 1: Claudia, David, Paula e Paéco. Carro 2: Fábio, Mari e Roger.
Carro 1 (com Clau, Paéco e Paula) deixa David na largada e dirige-se ao PC2. No caminho, tomamos um café sossegados, no novo Pão de Açucar. Chovia cântaros.
Carro 2 (com Fábio e Roi) leva Mari ao PC 1. Aguardam David, que chega feliz e sorridente. E molhado. Dirigem-se então ao PC3.
Carro 1 (com Clau, Paéco e Paula) chega ao PC2. Paula, um pouco tensa, com temor dos trovões que soavam, parte para seu primeiro trecho. Mari chega feliz e sorridente. E molhada. Dirigem-se ao PC4.
Carro 2 (com Fábio, Roi e David) chega ao PC3. Paula chega feliz e sorridente. Nada tensa. Muito molhada. Falante. Davi parte para seu derradeiro trecho. Dirigem-se ao PC5.
Carro 1 (com Clau, Paéco e Mari) chega ao PC4. Davi chega, mais feliz e mais sorridente. Mais molhado. Pergunta quando vai ser a próxima. Mari parte para seu derradeiro trecho. Dirigem-se ao PC6.
Carro 2 (com Fábio, Roi e Paula) chega ao PC5. Mari chega, mais feliz e mais sorridente. Paula parte para seu derradeiro trecho. Dirigem-se ao PC7. Chove chove chove.
Carro 1 (com Clau, Paéco e David) chega ao PC6. Paéco aguarda ansioso. Paula chega, mais feliz e mais sorridente. Paéco parte para seu primeiro e único trecho. Dirigem-se à Camburuzinho. Chuva chuva chuva.
Carro 2 (com Fábio, Roi e Mari) chega ao PC7. Paéco chega feliz e sorridente. Roi larga, feito um foguete. Carro 1, over. Dirigem-se à Camburizinho.
Minha largada era a última. E era na porta da casa onde estávamos. Então, fomos até lá, comi alguma coisa, descansei. Quase dormi. Então fui com o David esperar o Roger que iria me passar o bastão.
Larguei eram duas da tarde. Subidinha de Camburi-Boiçucanga, logo de cara. Engato a primeira, a segunda e vou. Chuva na caichola o tempo todo. Algumas ultrapassagens. Principalmente do pessoal que fez “solo”. Na descida, o santo ajuda, mas o joelho, não.
Passo Boiçucas e dá-lhe serra. Vou a dois por hora. Mas me recuso a andar. Troto. Sempre um dos pés está fora do chão. E vou. O apoio de uma equipe me passa um gatorade. Tomo um pouco e, mais adiante, ao ultrapassar uma corredora, entrego o gatorade a ela. Sigo concentrada. Muita gente andando.
David e Roi passam por mim de carro. Fotografam, mas entrou água na máqui, ficou uma droga.
Lá pelas tantas, vejo um corredor simplesmente entrar no seu carro de apoio e ir embora!!! As testemunhas vaiam e protestam. Não consigo ver o número da equipe. A cena se repete. Inacreditável. Que graça tem roubar numa brincadeira dessas? (Leia o texto do meu amigo marcos sobre o assunto, no blog da minha amiga Thelma).
Uff. Depois de 3,5km de subida forte e ininterrupta, hora de ir ladeira abaixo. Chão molhado, carros passando ao lado, solto o freio e vou o mais rápido que posso. O santo ajuda, o joelho, implora.
O melhor trecho é no finzinho da serra: um retão, com uma pequena inclinação. Vou com tudo. Curva em cotovelo à direita, poça poça poça, curva em cotovelo à esquerda – parede de um lado, parede do outro. Um cara daqueles grandes, tipo armário, teria dificuldades de passar por ali. No chão pooooooooooooooooooooooooooooooooooooooça até o fim, onde haviam três degraus. Então areia flof flof flof chhhhhhua fofa e molhada.
Vou pela beira. É mais firme. Mas também mais inclinada. E aí vem a onda e... banho scholoft chof chof. Subo. Fofa, irregular, depois de tantas pisadas. Dá medo de torcer o pé. Volto pra beira. Mais onda choft chof chof. Sinto a areia dentro do tênis. Não sei mais o que é meu pé.
É chato. Mas é rápido. E eu chego. Feliz e sorridente. E molhada. E cheeeeia de areia. Meu tempo, fraquinho. 1h04. Acima de 6 min o km. Mas tudo bem – não entrei no carro de ninguém.
Depois, só diversão. Na casa da Mari, em Camburizinho, churrasco, cerveja e bom papo. Todo de bom humor. Rimos, comentamos e tivemos aquelas conversas que só quem participa dessas maluquices, aguenta. O Fábio, que não corre, mas que acompanhou tudo, conseguiu sentir e entender um pouco mais a empolgação.
Mesmo depois que o assunto – a prova – se esgotou, continuamos, mesmo cansados, mas sob o delicioso efeito da endorfina, conversando e falando bobagem até meia-noite.
Mas todos da equipe, sem exceção, não deixaram de dizer que querem participar da prova ano que vem. Faça chuva ou faça sol.
Roi e eu, já com as medalhas

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Correndo com as galinhas

Comecei a treinar em outra academia e isso significa fazer algumas adaptações na rotina de treino. Horários, duração, locais, professores. Por isso, entre outras coisas, tenho experimentado novos percursos.
Outro dia, deixei o carro na frente da academia antes que ela abrisse e fui correr na Sumaré. No meio do caminho decidi sair da avenida e rumar para o parque da Água Branca.
Era bem cedo. O parque estava vazio – de humanos. Em compensação estava repleto de galináceos animados: galinhas, galos, frangos, frangas, pintinhos, pintinhas (?), pavão (é galináceo?). E, pasmem, ao lado deles, passeando entre eles... gatos! Nunca pensei que gatos e aves pudessem conviver pacífica e harmoniosamente. Talvez porque sejam minoria, talvez por estarem bem alimentados... o fato é que os felinos não dão a mínima bola para aquelas refeições bípedes.
Os gatos, entretanto, são ligados. Mesmo com aquele jeito blasé e preguiçoso que lhes é peculiar, passam longe do alcance dos bípedes humanos. Esse já não é o caso das galinhas e companhia. Ô bicho estúpido. Bom mesmo é quando está assado. Ficam pelo meio do caminho, com aquele jeito de quem não sabe que rua está, se é ali mesmo, se a casa que estão procurando fica um pouco mais pra frente ou se já passou.
O pior é que quando a gente se aproxima, a indecisão parece aumentar: se ela estava atravessando a pista, pára no meio do caminho e fica sem saber se vai pra frente ou pra trás. Você tenta se desviar e, claro, ela se posta à sua frente. O pior é que lá no parque, andam de bando, e ficam todas com aquele ar aparvalhado, andando em círculos, para todos os lados, enquanto você tenta adivinhar por onde passar sem pisar em alguma delas.
Várias vezes tive o impulso de chutar umas e outras. Mas me contive. Comecei a me divertir com a situação e a encarar como uma corrida com obstáculos móveis. Afinal, no meio de uma cidade como São Paulo, ter um privilégio de sentir uma atmosfera tão rural? Não dava pra ficar nervosa. Ridícula, eu!
Para completar o quadro, alguns galos, retardatários, anunciavam o amanhecer que havia acontecido duas horas antes. Seu canto entrava pela fresta do meu fone de ouvido e parecia fazer parte da música.
Depois de uma meia dúzia de voltas, os humanos circulantes aumentaram e as aves, talvez um pouco intimidadas, recolheram-se a lugares mais escondidos.
Voltei às ruas da cidade, peguei a Avenida Sumaré, barulhenta, fumacenta e lotada de fretados, para chegar à academia.
Novesfora, gostei de minha modalidade de treino. Principalmente a parte de correr com as galinhas!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Clearwater 2008 – venturas e desventuras – parte 4 (parte 1, 2 e 3 estão logo ali)

Nunca imaginei que a Florida pudesse ser tão interessante. Quando pensava em Florida só me vinha Mickey Mouse, velhas aposentadas e compras. Nada muito atraente. Ainda bem que me enganei.

Do aeroporto de Tampa, fui com o Diogo (colega de treino) e sua noiva que, gentilmente, me deram uma carona, com mala bike e tudo. Eles pegaram um carrão, com uma GPS que falava português com sotaque de Portugal. A moça realmente não era lá muito esperta. Logo de cara, na saída do aeroporto, nos mandava fazer uma caminho que resultava em círculos. Obviamente, sem saída.
Ainda bem que por trás da direção havia um cérebro que se rebelou contra a máquina e, entendendo a direção que tínhamos de ir, recalculou a rota, deixando a nossa bússola um pouco atordoada. Depois ela se comportou bem. Também... até eu. Era praticamente uma reta só.
Chegamos à cidade de Clearwater Beach, já madrugada. A primeira impressão foi ótima. Uma cidade simpática e arrumada, mas sem excesso de maquiagem. Um batonzinho e lápis no olho – era o que ela usaria, se fosse uma moça.
No hotel, grande notícia: minhas rodas Zipp estavam lá, bonitinhas, me aguardando. Cai na cama e apaguei.
Na manhã seguinte, da janela do quarto, vi o oceano, imenso e azul. Atlântico, meu velho conhecido. Mas aquela areia, não. Essa, era novidade. Branca de doer os olhos.
Tomei um café da manhã deplorável no próprio hotel e fui fazer um reconhecimento do local. Iria aproveitar para fazer meu check-in e pegar o kit.
Do meu hotel até o centro dos acontecimentos a distância era cerca de 1,5 km talvez um pouco menos. Mas era uma caminhada à beira-mar, num calçadão, cheio de canteiros.
Nessa caminhada me deixei invadir por uma imensa felicidade. Eu sabia que estava vivendo um momento ímpar. Era muito mais do que uma competição. Então deixei meus sentidos o mais aguçados que eu conseguia: deixei a intensidade das cores entrar pelos meus olhos – era um céu azul de outono, iluminado por um sol já oblíquo, que não castigava, mas aquecia, um mar esverdeado e sereno, um asfalto preto e liso (colírio para os olhos de quem pedala na USP). Parecia que tinha tomado um ácido.
No check-in fui recebida por um senhor britânico, cujo filho iria participar da prova. Ele estava lá como voluntário. Só faltou me pegar no colo. Explicou tudo, perguntou o suficiente para eu sentir que se interessava por mim e depois me passou para as mãos dos outros que me trataram igualmente bem. E eles não recebem um tostão por isso.
N parte da tarde fui levar minha bike para montar. Segui a dica do Duda, atleta da MPR que havia feito a prova no ano anterior, que me falou de uma loja chamada Chainwheels.
Era do outro lado da ponte. Mas como eu queria conhecer um pouco do lugar, achei ótimo.
Enquanto a bike estava na oficina, aproveitei para dar uma corridinha. Sai pelo bairro adentro. Era um bairro residencial, com um campo de golfe bem no meio. As ruas não tinham quase movimento. As casas, de classe média, sem cerca ou muro que as separasse, pareciam habitadas, pois havia carros à sua frente, janelas aberta, às vezes alguns objetos do lado de fora. Mas vi pouquíssimas pessoas. Pouquíssimos carros circulando.
Corri durante uma hora, num ritmo bem tranqüilo. Poderia ter feito mais duas horas, só explorando o ambiente.
Voltei para loja e, quem encontro? A Nilma!!! Ela e o Neto, por acaso, estavam lá, do outro lado da cidade. Foi uma festa. Ainda por cima me deram carona até o hotel. Nossos hotéis eram menos de 100 mts de distância!
À noite havia um jantar de confraternização. À beira-mar. Desinformada, achei que era nas proximidades da área de transição, da feirinha, no epicentro de Clearwater. Ledo engano. Era do outro lado. No Sand Key Park. Estava indo a pé quando cruzei com uma família simpática e perguntei se caminhava na direção certa. Eles não só me informaram que eu estava redondamente enganada como me ofereceram carona. Era um casal de americanos com seu jovem filho que iria competir.
Fomos conversando, mas, quando chegamos lá, achei melhor deixá-los.
Estava friozinho. Ventava. A comida não era grande coisa. Os pratos e talheres eram de plástico mas eu estava achando tudo uma delícia. Na hora em que entraram os meninos carregando as bandeiras dos países participantes e eu vi a bandeira do Brasil... adivinha? Caí no choro.
Fiquei um pouco ali, um pouco acolá. Conheci o Vilela (Velho Ligeiro) e sua animada turma de Santos, encontrei um e outros. Porém, estava curtindo sozinha.
No dia seguinte, fui para o treino de natação, organizado pela prova, experimentar o mar. Pelo caminho, as varandas dos hotéis exibiam bandeiras de vários países e wetsuits pendurados, como sombras inanimadas, nas calçadas gente forte e magra, correndo, nas ruas, desfiles de bikes. Mundo do triátlon. Era onde eu estava. Clearwater Beach é uma cidade do veraneio. Portanto, é um período em que está vazia. Nós, triatletas, invadimos a praia, vindos de todas as partes do mundo. Fincamos nossas bandeiras. Instituímos nosso modo de ser. (Continua)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Clearwater 2008 – venturas e desventuras – parte 3 (parte 1 e 2 estão logo ali embaixo)


Comecei a tremer. Esfreguei os olhos para tentar acordar do pesadelo. Na minha cabeça passava eu já me via no filme “O Terminal”, lembram? Aquele em que o Tom Hanks, por questões burocráticas, fica morando num terminal de aeroporto americano. Pronto. Este seria o meu destino. Afinal, como é que iria sair dali sem passaporte e sem passagem?
Desesperada, fui até pessoal da America Airlines que estava por ali. Expliquei minha situação, pedi ajuda. Eles me ajudaram a procurar e começaram a anunciar pelos alto-falantes que uma pessoa havia perdido uma bolsinha com os documentos.
Esperei alguns minutos. Quase chorando. De repente, olhei pro relógio e vi que faltava apenas uma hora pra minha conexão. Se eu não saísse dali logo, perderia o vôo pra Tampa. Conversei com outra pessoa da AA e ela me disse que se eu tivesse qualquer documento com foto e meu nome, eu conseguiria emitir outro cartão de embarque. Por sorte, na última hora, eu havia pego a minha CNH. “Nunca se sabe”, eu havia pensado, “quando será preciso dirigir um carro!”.
Peguei minhas bagagens e saí. Fui até o balcão das conexões e disse– Claudia Aratangy – para a atendente. Ela não encontrou a reserva. Eu ia começar a chorar, mas antes, pedi “try Rosenberg, Claudia”. Lá estava. Despachei as malas. Ufa. Até Tampa eu conseguiria chegar. Ainda que sem passaporte.
Fui até o achados e perdidos. Ninguém havia entregado nada. Preenchi um formulário e fui andar, pensando no que deveria fazer. Eu tinha alugado um celular. Lembrei que o marido da Élida, a amiga na casa de quem eu planejara passar uns dias depois da prova, trabalhava na American Airlines, naquele aeroporto. Se, por acaso, minhas coisas fossem encontradas depois de eu ir para Clearwater, eu poderia pedir para ele resgatá-las para mim. Isso me deixou um pouco mais calma. Liguei para ela, mas deu caixa postal.
De repente, me dei conta de que não havia acertado meu relógio. Isso significava que eu tinha duas horas a mais do que eu pensava! Quem sabe não daria tempo de minhas coisas reaparecerem?
Sentei-me num dos bancos e me lembrei de Ana, uma amiga muito sábia, e pensei: “o que ela faria nesta situação?”. Então, fechei os olhos e imaginei uma pessoa encontrando pegando o carrinho onde estava meu envelope verde, levando pra longe sem perceber o que fazia. Daí, imaginei outra achando o envelope, abrindo, vendo meu passaporte, imaginado minha angústia. Então essa pessoa perguntaria onde era o “lost and found”, iria até lá e entregaria aos responsáveis. Como não tinha dinheiro e nem cartões dentro dele, havia esperança. Fiz quase uma prece, de tão fervorosa que eu estava.
Liguei pra minha mãe, contei meu infortúnio. Pedi que ela não comentasse nada com meu marido. Imagina o tanto que ele iria me alugar se soubesse?
Passados uns 30 minutos decidi voltar até o balcão dos achados e perdidos. E...
SIM! Uma alma caridosa havia encontrado e devolvido meu querido envelope verde de lona.
Quase beijei o pessoal na boca de tão feliz e aliviada que fiquei. Comprei um moletom típico escrito “Miami” – porque estava morrendo de frio e, novamente livre, leve e solta parti para a sala de embarque.Pensa que o vírus da distração e do esquecimento me largou vez? Que nada

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Acúmulo

A proposta deste blog é ser um diário dos percursos e percalços na preparação para o Iron 2010. Bem. Ando num momento de percalços. Mal consigo tempo para escrever. Marido fora de novo há mais de 10 dias, portanto, estou acumulando as funções de pai e mãe, além, é claro, das já rotineiras, de profissional e dona-de-casa. No horário de escrever, preciso ficar com os kids. Agora, por exemplo, tem um no banho, o caçula gêmeo colocando o pijama, o mais velho no computador e outro no skate lá fora. Daqui a pouco tenho de dar aqueles berros: Iaaaan sai do banho, Féééééélix sai dessa lama e sobe pro banho, Theeeeeeeeo, chega de computador e Maaaaaaartim, para de enrolar e veste o pijama.
E vão os três menores dormir no meu quarto. Um na cama e dois em colchões no chão. Um verdadeiro acampamento. E, claro, vou ler uma história.
Mesmo assim, amanhã, 5h30 tou de pé. E vou nadar e correr.
Lá vou eu. Como diz uma amiga minha "viver não é para principiantes".