sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Brinquedinho novo

Já faz um tempo que estou devendo um post sobre meu novo brinquedo – um Garmin Forerunner 405. Mas atenção! Não se iluda. Não vou fazer uma resenha sobre o produto ou dar dicas e truques sobre os seus recursos e funcionalidades. Nada disso. Vou escrever sobre voltar a se sentir como criança diante de um brinquedo novo.
Este é um dos baratos do triathlon. E sem querer fazer um trocadilho infame, este barato geralmente sai caro. Mas vale a pena. Ao ingressar no mundo do triathlon abre-se uma vasta gama de possibilidades de ser feliz. A lista de desejos aumenta. Quanto mais você vai adentrando este universo, mas longa e específica ela vai ficando. Há três anos, por exemplo, eu só queria uma bicicleta para fazer triathlon. Mas nem sabia que existiam bikes de contra-relógio e bikes de ciclismo. Roda, para mim, era parte do veículo. Nunca me passaria pela cabeça comprar rodas que não viessem numa bicicleta. Não nasci sabendo, ok? E eu entrei muito solitariamente nessa vida de triathleta – não convivi com eles até que começasse a treinar portanto, era uma ignorante, literalmente falando. Mas aprendo rápido e, em pouco tempo, fui aprendendo a desejar: uma bike de triathlon, um par de rodas Zipp, uma jaqueta cortavento importada e assim por diante.
Gosto de almejar esses objetos. Não fico obcecada em possuí-los, mas vou acalentando o desejo, sonhando com eles, planejando o momento de adquiri-los e o de usufrui-los.
Foi assim quando passei da Vicini pra Giant. Levei meses para tomar a decisão, namorei várias bikes, conversei com algumas pessoas, naveguei por sites, negociei um parcelamento, pedi um subsídio em nome do meu aniversário e, no início de 2008, estava com a nova magrela. Totalmente apaixonada.
Depois foram as rodas Zipp. Discuti com mestres no assunto qual a melhor relação custo-benefício, fiz cotação em vários sites americanos, regateei e, por fim, comprei-as às vésperas de ir pra Clearwater. Chegando ao hotel, lá estavam as minhas lindinhas. Dormi abraçada com elas.
Levei mais de um ano para decidir comprar um Garmin. Achava muito caro, não sabia se ia ter mesmo utilidade pra mim, se valeria a pena. Mas, a hora chegou. Mudei de academia, estou correndo mais vezes na rua (e não sei qual a quilometragem percorrida), ano que vem, nos treinos pro Iron, vou ter de fazer muitos longões, o dólar baixou, o Garmin criou um modelo que não fica parecendo uma televisão no meu pulso. O marido da Eliana, que trabalha comigo, foi para os States e trouxe um pra mim.
E eu estou a-do-ran-do meu brinquedinho. Acredite se quiser: até o manual eu li! Aperto os botões, exploro todos os comando, jogo no link da web, corro com os olhos grudados nele, brincando de manter ou apertar meu pace!
É legal e gostoso ter vontades. É bom lembrar que, geralmente, quem não tem vontades e apetite (que não deixa de ser uma vontade), é porque está em depressão. Sem exageros, sem abusos. Claro que se você começar a ficar obcecado por bicicletas top de linha, última geração, de US$ 15,000, isso pode se tornar um problema. Pelo menos no meu caso. Mas sei até onde posso cultivar os meus sonhos.
Não sou consumista, não gosto de jóias, não ligo pra roupas – não reparo nas marcas, não dou bola pra bolsa (uso a mesma faz uns 5 anos) e nem pra carteira, sapatos são uma encrenca na minha vida (um dia escrevo sobre eles e meus pés) mas, fico feliz como uma criança no Natal quando ganho ou compro os equipamentos e acessórios do meu esporte.
E não é mesmo uma delícia?

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Peixe que ronca, galo que canta ou Pirassununga 2009



Sexta-feira, 20 de novembro, dia da consciência negra e do aniversário da Thelma, passamos no super e partimos rumo à Pirassununga: Marcos (meu amigo triatleta citado neste blog toda hora) e Thelma (idem!). Sobrei com o Uno Mille do marido que bravamente enfrentou a long distance até a terra do peixe que ronca.
Lá chegando passamos na DOÇARIA da LAURA onde pegamos a cheesecake que eu havia encomendado para comemorarmos o cumpre anos, passamos no depósito PIRA FESTAS onde pegamos a chave de nossa chácara e dali fomos para a Cachoeira das Emas.
Chegamos ao entardecer, debaixo de uma chuva esparsa, que ia pingando suas últimas gotas depois de uma pancada mais forte. A casa, antiga e rústica, tinha, em sua localização e vista, seu ponto alto. Ficamos à beira do rio Mogi, num terreno com muitas árvores. Sentamos na varanda, aspirando aquele arzinho molhado, com cheiro de terra fresca e jogamos um pouco de conversa fora enquanto comíamos uns pãezinhos.
A chuva parou e o clima estava convidativo. Decidimos sair pra uma corridinha fart-lek. Corremos naquele ritmo pré-prova, bem tranqüilo, que dá vontade de ficar horas e horas sem parar. Ainda mais naquela paisagem, falando besteira, dando risada, sem nenhuma preocupação a não ser abrir mais um pouco o apetite para um jantar no restaurante Beira-rio.
Jantamos bem, com direito à torta de sobremesa e tudo e voltamos ao lar doce lar.
Passamos a manhã seguinte também de papo pro ar, como manda o figurino. Maior esforço foi o de picar cebolas e amassar alhos. A cozinha era um enorme galpão, de frente ao rio, com direito à piscina e tudo. O melhor lugar da casa.
Fomos para AFA buscar nossos kits e encontrar o resto da turma - Julinha, Lenadro, Anderson e sua esposa, que também ficariam hospedados conosco. Na foto ao lado: Julinha, Marcos, Thelma, eu, Anderson e Ligia, sua esposa e Leandro
Pena que não conseguimos autorização para entrar pela portaria norte da Academia, pois estávamos a 5 minutos dela. Tudo bem. Em 30 minutos chegamos à entrada sul. Pegamos o kit, encontramos o povo e voltamos em comboio.
Chegando lá, atarraxamos nossos umbigos na mesa de madeira da nossa cozinha-galpão e passamos horas falando besteira, dando risadas e comendo bisnaguinhas. Aliás, a bisnaguinha era o prêmio para quem estava falando muita besteira. “Come uma bisnaguinha, aí!” foi a senha para as maiores bobagens. Marcos levou o troféu bisnaguinha (na foto abaixo, adivinhem o que ele está comendo?). Não sei de onde tirou tanta piada infame!
Foi um momento relax. Não somos todos super íntimos ou amigos próximos, mas deu uma liga muito boa.
Antes de começar a produção do jantar fomos fazer os preparativos para o dia seguinte: colar adesivos no capacete, gel na bike, separar as roupas, colocar número de peito na faixa, preparar as misturas de accelerade... todas essas coisas. É uma função muito peculiar: uma mistura de festa com oficina. Risadas, tesouras, brincadeiras, adesivos, dicas, pneus sobressalentes, piadas, caramanholas, lembranças...
Voltamos ao nosso galpão onde produzimos coletivamente um belo gnocchi ao sugo, devorado em questão de minutos. Mais bisnaguinhas foram distribuídas. Thelma (em plena ação, na foto abaixo)entrou num transe preparando seus saches de batata. Ficou meia hora pra entuchar dois “chup-chups” de purê melequento. Tentou várias técnicas, usou até funil. Foi difícil, mas ela não desistiu enquanto não completou a operação.
Cada um se recolheu no seu canto por volta das 10h30.
Para mim, é muito difícil dormir na véspera da prova. Bate uma ansiedade que tira o sono. Fiz uma mentalização da prova e quase dormir antes de chegar à primeira transição. Acordei e consegui começar o pedal. Daí cochilei de novo. Então acordei e fui até o fim, cheguei exausta e cheia de endorfina, comemorando o ótimo tempo que fiz. Resultado: despertei e cuuuuustei a pegar no sono.
Quando estava no melhor dele, um galo cantou. Outro respondeu e mais um, ao longe, também entrou na conversa. Devia ser umas 3h30. Não acreditei. A cantoria se estendeu até a hora que meu despertador soou. Eu queria transformar o maldito em canja. Bom. Já tinha uma desculpa caso não tivesse um bom desempenho. O galo cantor.
Arrumações finais e vamos nós, num comboio ultra pontual, rumo à AFA. Combinamos saída às 6h15 e saímos 6h17! Só triatletas, obcecados por tempo, conseguem uma façanha dessas.
Dia raiando no caminho, céu claro, com nuvens esparsas, temperatura amena.
Arrumei minha bike na transição. Lembrei de deixar numa marcha bem leve (já aconteceu de eu esquecer) e não deixei as sapatilhas presas. Ainda não tenho segurança pra fazer isso. Preferi não arriscar.
Troféu bisnaguinha para o animador de plantão. Como este povo que eles contratam pra fazer as vezes de mestre de cerimônias fala besteira quando estão com microfone na mão. Parecem todos Xuxas ou Faustões frustrados.
Fui pra perto do laguinho/açude onde íamos nadar. Fui atacada por formigas. (Meu pé está coçando até hoje.) Felizmente, separaram as largadas e saímos 5 minutos depois dos homens.
Não nadei bem. Não sei porque, mas fiz um tempo pior do que imaginava. Era um trajeto tranqüilo e eu consegui ver as bóias sem problema. O que atrapalhou foram os homens lerdos. Fiquei impressionada com a quantidade de “pregos” que ultrapassei. Muitos touquinhas laranjas. Muitos.
Na transição da bike perdi um tempo passando protetor solar em spray. Valeu a pena. Não fiquei torrada como alguns que vi.
Logo que saí, percebi que a minha quickdrink estava solta. Parei, desci da bike, tirei do suporte, passei a fitinha de velcro pelo buraquinho, coloquei a garrafa de novo e fechei. Pedalei mais 100 metros ela soltou de novo. Não poderia ficar sem. Só tinha uma garrafa que estava com accelerade e a quickdrink. Saco.
Cheguei num fiscal da prova e pedi ajuda. Ele foi um anjo. Tirou o barbante de seu apito e firmou a garrafinha. Resolveu meu problema. Perdi uns 3 minutos preciosos, mas não dava pra dispensar a QD.
Segui confiante. O único problema era o barulho que fazia. Parecia uma escola de samba. Como o asfalto não é dos mais lisinhos, foi uma bateria e tanto.
No final da primeira volta, depois de um retão e uma descida, vinha uma subidinha. Se não fosse o Kim gritar “solta a marcha, solta a marcha”, acho que eu teria perdido o embalo e chegado muito mais lenta. Depois, não esqueci mais.
Fiz duas voltas mais conservadoras. No meio da segunda, um momento especial: passou por mim um atleta, perguntou se eu era a Claudia e disse que segue este blog. É o Maurício – Cachaça, de Santos, que eu não conhecia. Fiquei muito feliz e confesso que foi um graande estímulo pra continuar escrevendo. Valeu, Cachaça!
Mas, voltando à prova, marquei a velocidade que estava em alguns pontos e prometi a mim mesma que tentaria superá-la nas voltas seguintes. Assim o fiz. Fiz força mesmo. Preste atenção na paisagem, pensei em como aquele lugar parece um mundo à parte, tomei água, tomei gel, dei tchauzinho pras poucas crianças que apareceram, tomei gatorade, urrei a cada vez que passei em lombadas, tomei água, bufei um pouco nas subidas, comi stiksy, não fiquei na roda de ninguém, tomei água, agradeci o fiscal que me ajudou em todas as voltas, ultrapassei alguns homens, comi batatinha, fui ultrapassada por alguns,tomei gel, ultrapassei algumas mulheres e quase não fui ultrapassada. Passou rápido.
Quando desci da bike, percebi que estava cansada. Minhas pernas não queriam me obedecer. Pra piorar, é uma subidinha. Argh.
O Emerson, meu técnico, me empurrou ladeira acima. Vambora. Mormaço, bafo, água, gatorade, uf uf, gel, puf puf, no meio do canavial. O garmin ficou maluco com as nuvens e se recusou a dar meu pace. Só ficava apitando. Agua, gel, puf puf, estrada de terra, poças de lama, água, esguicho na cara. Cruzo a Julinha que me dá um gelo na mão. Jogo nas costas. Passo na tenda da MPR e grito “cadê a torcida pôôÔ!?” Eles respondem à altura “Vai Clau, vai Claudia, você tá bem, ta correndo soltinha!” Completo a primeira volta! Eeeeeeba. Tem de pensar: já foi o aquecimento, agora começou, agora falta pouco. Puf puf, água, puf puf, calor. Energético 220 volts, eu pego brincando com a mocinha ”bzzzzzz!”, puf puf 5h14/km, 5h15/km o Garmin acorda. Lá vou eu pro canaviááá. Me sinto uma pinga queeente, ardida. Não agüento mais gel. Ponho na boca e cuspo fora. Blergh. Estrada de terra, puf puf, água, poças de lama, água, esguicho na cara...Tá chegando! Tenda MPR, a torcida viiiiibra. Puf puf. Lá vou eu.
Não sobra energia pra dançar. Passo a chegada e a luz quase se apaga. 5h18m34s.

(Tou devendo mais fotos).

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Meu filho é goleiro e campeão!


No começo, era uma briga. Ninguém queria ficar no gol. E todos eram goleiros-linha. Até pouco tempo atrás, eu chegava em casa e a discussão era sempre a mesma. Ian ou Félix choramingando “ah mãe, bem na minha vez de chutar o Martim não quer pegar no gol!” Mas, aos poucos, ele foi criando menos caso e passando mais tempo embaixo das traves – ou melhor, entre os cones, pois não temos traves.
Então, ele pediu uma luva de goleiro. Engraçado, os pequenos o imitaram e também passaram a se interessar em catar no gol. A briga então se inverteu. Mas, como ele é maior do que os gêmeos, se impôs como goleiro titular absoluto do nosso time caseiro.
Ainda assim, fiquei surpresa quando soube que ele é o goleiro do time de futsal da escola. E também do time do Ilhas do Sul. Uma coisa, é ser goleiro-caseiro. Outra, é ser goleiro de um time. Com camisa número 1 e tudo.
Até então, eu sabia que o time da escola estava participando de dois campeonatos. Mas toda operação leva-e-traz de treinos e jogos estava por conta do pai. Vez ou outra, sobrou para mim, e fui buscá-lo nos treinos mas não tinha assistido a seus jogos.
Eis que há duas semanas e pouco, fui convocada para trabalhar num domingo, o marido então levou os pequenos para o sítio de seus pais e eu precisava dar um jeito de fazer com que Martim fosse ao seu jogo. Meu salvador da pátria foi o Vagner, amigo e motorista profissional, que foi em casa, deu almoço e levou o Tim ao jogo, junto com o Theo (meu mais velho) e o Yuri (meu sobrinho). Mais tarde, quando liguei para agradecer ele me conta que o jogo foi empolgante. Seis a zero, graças ao Martim que fez defesas espetaculares.
O Theo, que também joga futebol, fez um relato entusiasmado: “Mãe, o Martim catou muito!”. Olha que ele não é de levantar a bola dos irmãos. Deveria ser verdade.
Decidi que queria ver com meus próprios olhos. Então, sábado passado, depois de um exaustivo treino de bike e corrida, de carregar caixas na DE Centro-oeste, fui, em excursão familiar a Santana, assistir ao jogo da semifinal da Copa Center Norte, contra um time subnove de Guarulhos.
Martim, sem estresse, sentado no banco de trás, foi conversando com o irmão e o primo, enquanto eu roia as unhas e o Roi praguejava contra os semáforos que insistiam em ficar vermelhos e contra as pessoas que insistiam em usar o carro no sábado em vez de ficar em casa. Chegamos em cima da pinta.
Fábio, o técnico, quando viu Martim chegando, a 5 minutos do início do jogo, falou “Pô, cara, quer me matar do coração?!”
Então sumiram pelo vestiário adentro.
Dali a pouco o time, já uniformizado, entrou em quadra.
Então vi um filho que eu não conhecia. Tranquilo. Dono da situação. Concentrado em seu ofício.
O árbitro convoca os capitães. Quem é o capitão do time do Martim? Ele mesmo. Sorteio. Início de jogo.
Os times estavam nervosos. Alguns de nossos jogadores, ansiosos, erravam muito.
Martim não teve muito trabalho no começo do jogo. Mas depois o time adversário se acertou e passou a atacar mais. Martim defendeu uma, outra e mais outra. Repunha a bola em jogo, sempre procurando um jogador bem posicionado. Senhor de si.
Eu, por outro lado, estava absolutamente ensandecida. Gritava, me descabelava, suava em bicas.
Gol do nosso time! Que alívio. Comemoramos mais do que quando é o timão.
Mas, num lance de falta de sorte, a bola veio alta, bateu na quina do travessão e entrou, o adversário empata. Tensão novamente.
Mas Martim está lá e defende uma, outra e mais outra. O pai, nervoso, é convidado pelo árbitro a sair do meio da quadra e ir torcer na arquibancada.
Mais um gol nosso. Ufa. E mais defesas do Martim.
O tempo custa a passar.
Final de jogo. 2 x 1, vaga na final do campeonato. Martim é aplaudido até pela torcida adversária.
Senti um misto de orgulho, alegria, vontade de chorar. Fui tomada por uma corujice de primeira grandeza.
Ele é o filho do meio e, como se um não fosse suficiente, tem DOIS irmãos caçulas com pouca diferença de idade. Sempre teve (e tem) dificuldade em saber qual é o seu espaço nessa família, vive arrumando encrenca com os irmãos, achando que o seu lugar foi ocupado por eles. Mas eis que ele encontrou um lugar ao sol, entre as traves. Ali, apartado do time, ele reina absoluto em sua pequena área. Que bom para ele!
Sinceramente, ainda não descobri o que isso tem a ver com triathlon ou com Iron, mas deve ter. Quando eu souber, escrevo. Se alguém tiver alguma idéia, poste um comentário, por favor!

EM TEMPO: A final da Copa Center Norte sub 9 acabou de acontecer e o time da Projeto ganhou por um magérrimo 1x0, pra desespero da equipe do Jardim São Paulo que já havia derrotado o nosso time nas três outras vezes em que se confrontaram. Martim foi o herói inconteste do dia. Fechou o gol. E o time da JSP saiu inconformado. Além do troféu e das medalhas ganhos pelo campeonato, Martim foi eleito goleiro destaque e levou vários presentes além de um troféu só seu. E eu, de novo, estou rouca e orgulhosa.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Quem não arrisca não petisca?

Vou fazer o Long Distance de Pirassununga pela primeira vez. Desisti mesmo de Clearwater — que foi sábado passado. Ainda bem. Justamente na semana passada tive problemas sérios e inadiáveis no trabalho. Daquele tipo que não teria sido possível virar as costas e ir tranquilamente embora pra Florida. O preju teria sido muito maior do que os US$ 300 que paguei pela inscrição.
Pira será, provavelmente, meu último meio iron antes do Iron inteiro.
Estou tentada a ousar mais nessa prova. Marcos Paulo, técnico e chefe do meu técnico, me fez esta recomendação explicitamente: “Vai pra cima. Você não tem nada a perder.”
Nas três provas de longa distância anteriores fui conservadora. Nadei forte, mas não no limite. Fiz um pedal cauteloso, tentando aumentar paulatinamente a minha média, na corrida também fui num crescendo e forcei apenas no último terço. Mas dancei no final. Dancei mesmo, na linha de chegada, uns passinhos ritmados, ao som da dance music que rolava no pórtico. Ou seja, como disse o Cris Kitter, fotógrafo e triatleta (entre outras coisas), estava sobrando energia. Eu poderia ter feito mais força. Eu poderia ter feito mais força? É provável, mas não sei.
Uma das grandes aquisições para um atleta – seja profissional ou amador - é o autoconhecimento. Não apenas prestar atenção aos sinais do corpo mas saber interpretá-los e tomar decisões acertadas com base nessa interpretação. Eis aí uma das coisas que a gente só aprende depois de muita experiência. Muitas provas. Até onde posso forçar sem quebrar nos quilômetros finais da corrida? Devo beber mais água agora? O que consigo comer e que não me faz mal? Quanto consigo comer? O calor muito forte vai diminuir minha tolerância à alimentação? (O Percival Milani em seu livro A travessia do Canal da Mancha discorre muito bem sobre autoconhecimento. Recomendo.)
Essa aprendizagem só é possível quando podemos testar as variáveis em diferentes situações. Já aprendi, por exemplo, que consigo me alimentar de sólidos mesmo quando estou correndo. Minha digestão não pára. Também aprendi a me hidratar no pedal ainda que não esteja sentindo nada de sede.

Em Pira o sol vai castigar. Particularmente durante a corrida. Até hoje, resisti bem ao sol: São Silvestre, Internacional de Santos, Penha e Clearwater. São Silvestre faz tempo, Internacional de Santos foi no começo deste ano e eram só 10k, Penha estava quente mas é sul do Brasil e era fim do inverno, Clearwater foi no outono americano. Em matéria de calor, portanto, não sei já passei pelo que imagino que irei passar em Pira.
Pensando bem, é uma ótima ocasião para testar alguns limites. Forçar mais a bike a partir da segunda metade da prova e imprimir um ritmo acelerado já na primeira metade da corrida e não só nos quilômetros finais. Não sei se terei coragem. Não sei se meu forte instinto de preservação vai me deixar chegar mais perto da exaustão. Mas estou com uma coceirinha, uma vontade de tentar ir um pouco mais longe, um pouco mais além.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Hora de retomar, hora de persistir

Desculpa, tem. Mas não vou ficar gastando muito tempos com elas. O fato de eu ter me ausentado por tanto tempo é quase única exclusivamente por uma razão: SARESP. Quem sabe o que é, sabe. Quem não sabe, eu não vou contar. Estou cansada desse assunto.
Então vou tratar de retomar um tema que a Thelma abordou no blog dela: força mental.
A gente já nasce disciplinado? Ou aprende com o tempo e as porradas que a vida dá? E a persistência? Por que algumas pessoas desistem frente às primeiras dificuldades, enquanto outras, não? A persistência, força de vontade, disciplina e a crença em si mesmo valem para todos os aspectos da vida de uma pessoa ou são traços, por assim dizer, transversais à personalidade?
Tenho muitas dúvidas e poucas certezas sobre isso.
Como educadora, tendo a crer que esses são traços que se aprendem. Algumas pessoas parecem ter um pouco mais de tendência ou facilidade para aprender. E, novamente falando como educadora, penso que a aprendizagem da disciplina, da perseverança e da força de vontade têm a ver com o fato de elas fazerem, ou não, sentido para o aprendiz. Explico. Persistência, por exemplo. Só vou ser persistente se, em primeiro lugar, souber para que estou sendo persistente. Como se costuma dizer, persistir no erro, é burrice. Ou seja, a persistência é algo bom se advir dela uma satisfação, uma recompensa e, principalmente, um novo conhecimento. Experiências de sucesso em que o processo teve algumas dificuldades e exigiu um pouco de persistência, são positivas. Uma criança pequena, ao montar um quebra cabeça, terá de persistir um pouco caso não consiga encaixar facilmente as primeiras peças. Se ela persistir, aos poucos a montagem vai ficando mais fácil, já que há menos opções de peças para ela tentar e a imagem vai ficando delineada. Se ela persistir, ficará satisfeita de chegar ao final terá aprendido um pouco mais sobre como montar um quebra-cabeça e também, começará a sentir que a persistência pode valer a pena. Evidentemente se, por outro lado, a dificuldade do quebra-cabeça estiver muito além das possibilidades da criança, ela não conseguirá terminar e isso não contribuirá para que ela aprenda a persistir.
Muitas vezes, a persistência pode ser, também, uma burrice. Persistir no erro. Persistir na ignorância. A persistência em si, não é um valor. Depende da situação. No esporte, a persistência é, na maioria das vezes um fator positivo. Mas, em alguns casos, é mais sábio desistir. Persistir correndo quando uma dor se agrava pode fazer a diferença entre uma lesão que vai tirar você de combate por uma semana ou por meses!
O mesmo, eu diria, vale a disciplina. Mas falemos disso outro dia.