domingo, 23 de maio de 2010

Existe vida após o Iron?

Atualmente, a resposta é não. Existe uma parede no dia 30 de maio de 2010. Não consigo imaginar o que vai acontecer, não planejei e nem assumi nenhum compromisso depois desta data. Uma série de áreas da minha vida ficaram negligenciadas: um dente quebrado precisa ser colado (não é da frente, óbvio), a minha mesa precisa ser organizada (lembra o caos sobre o qual escrevi num post passado? Então... está um pouco pior), alguns amigos e familiares precisam ser resgatados, consertos na casa precisam ser feitos. Enfim, não é que eu não tenha o que fazer, mas acho que vai dar um tremendo vazio.
Tem gente que tem depressão pós parto, outros tem depressão pós Iron. Pós parto, não tive. Afinal, depois de toda aquela preparação, a gente ganha um nenezinho e tem muito o que fazer com ele. E depois do Iron? O que acontece? Não tem mais aquele volume insano de treinos, não tem a expectativa de superar um grande desafio, não tem mais desculpa pra comer aquele ENORME prato de arroz com feijão, não tem mais aquela dose cavalar de endorfina circulando nas veias, não tem mais desculpa pra não fazer o que não se quer...Nem mesmo este blog não ter muito sentido depois que eu narrar a prova.
Ou seja, vai ser uma 4ª de cinzas: fantasia rasgada, ressaca e o distante sonho do próximo carnaval.
Esse era um dos meus medos ao me propor fazer o Iron. E depois? Qual pode ser a próxima meta? Por isso acho estranho quando pessoas jovens, que recém ingressaram no triathlon, decidem fazer um Iron com menos de um ano de treino. Ok, cada um, cada um mas... depois de alcançar uma meta tão ambiciosa tão precocemente, o que sobra?
Juro. Não consigo pensar nisso agora: Penha 70.3, Iron 2011, uma maratona, uma ultramaratona...? No momento, tudo não passa de um graaande ponto de interrogação. Quem passou por isso, por favor, me responda.
De agora em diante, estou arrumando as malas. Prometo um último post antes de pegar o avião pra Flops. Só não sei se vai prestar!

sábado, 15 de maio de 2010

Muitos sentidos

Nesta reta final rumo ao Iron tenho refletido muito sobre os significados desta experiência que ainda não vivi na íntegra. É normal, ao vivermos algo novo, tentar estabelecer relações entre aquilo que já vivemos ou conhecemos, com aquilo que estamos passando. Até agora se, por um lado,  o Iron não parece com nada que eu tenha vivido e, ao mesmo tempo, guarda semelhança com situações bem familiares e outras que, embora eu não as tenha vivido na própria pele, passei por elas em muitos filmes que vi  e livros que li.

Casamento
Pode parecer estranho, mas pense bem...
1. O dia costuma ser marcado com muita antecedência e é um evento que requer o trabalho de muitas pessoas pra poder acontecer a contento: técnico, nutricionista, professor de natação, fisioterapeuta etc.
2. Sem apoio e envolvimento da família a festa não acontece.
3.É necessário fazer um enxoval pra prova: roupa de borracha, três pares de tênis, meias (alguma especial pra maratona), manguito, corta vento, sapatilha, luvas e, no lugar do véu, o capacete.
4. O menu é estabelecido com rigor: um gel de aperitivo, bisnaguinhas e batatas, serivdas com cottage e outros temperinhos, de sobremesa bananinhas e gomas, entre outros. Depois, para cortar a bebedeira, tem até uma sopinha. O mesmo se pode dizer das bebidas: malto ou accelarade? R4 ou gatorade? Coca-cola, é imprescindível.
5. A roupa do dia, equivalente ao vestido da noiva, precisa ser provada antes e a gente não pode nem engordar e nem emagrecer até o grande dia. O dia da prova do "vestido" precisa ter amigas como testemunhas, não só pra ver como pra palpitar, claro!
6. A cobertura fotográfica também é imprescindível e inclui, como no caso do matrimônio, o making of, um dia antes.
Para além deses aspectos práticos o sentido de casamento no Iron é o da comunhão consigo mesmo celebrada num dia e hora precisos. Um momento mágico e especial em que, mesmo estando exaustos, vivemos um momento de alegria ímpar.

Gestação e Parto
Pelo menos nove meses de preparação, exames e medições periódicos, dieta especial com suplementação, exercícios apropriados, expectativa para o nascimento e, quanto mais perto do dia vai chegando, menos a gente consegue pensar em outra coisa.
Mas, há sempre o imponderável. Na gravidez fiz tudo certinho e, no final, no caso do primeiro filho, por exemplo, tive de tomar oxitocina para induzir a dilatação - o que não aconteceu - e, no final, teve de ser cesárea.
Ou seja, mesmo seguindo a planilha à risca, organizando a alimentação direitinho, no dia da prova, tudo pode acontecer (isola!!!). Uma dor de barriga, 3 pneus furados, uma fasceíte plantar renascida das cinzas, o mar virado...

Batismo e Ritual de passagem
Toda comunidade - de triatletas - acompanha este dia: aqueles que nunca participaram do ritual e os mais experientes, que já passaram.
Quando se ingressa numa religião ou quando os meninos viram homens, é preciso fazer pintura corporal, passar pela água salgada, usar vestimentas próprias para a ocasião, ser assistido mas não poder ter ajuda externa, exceto as previamente combinadas mas, sobretudo, chegar ao fim transformado, renascido e aceito pelo seu grupo com um novo status por ter sido capaz de superar os desafios.

Guerra
Pintados, vestidos, armados e focados em vencer. É necessário elaborar um estratégia, estudar os ataques, proteger-se. Os inimigos, entretanto, não são os outros. Os outros, na sua maioria, estão do nosso lado, mas cada um está lutando sua própria batalha: contra as intempéries, os medos, a ansiedade, as expectativas,  as dores, os seus limites.
No final, quer a prova tenha durado 9 horas, quer tenha durado 17, é a glória, com direito a condecoração e tudo.

Conclusão
Seja o que for, venha o que vier, quero viver intensamente tudo isso. Será um pout-pourri de emoções e quero estar com todos os meus sentidos aguçados (e um bom fotógrafo contratado) para registrar esta experiência tão particular e tão universal.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Treino de luxo na Maratona de São Paulo

Todo ano me perguntam "Ontem teve maratona, você correu?" e eu tenho de explicar "Não, não corri, eu não faço maratona, faço triathlon". Mas este ano foi diferente. Eu não corri a maratona, mas corri na maratona. Tinha um treno de 30 k pra fazer então decidi aproveitar o percurso, as companhias e, claro, um pouquinho da água também.

O treino de sábado
Na véspera tive um treino de 180 k de pedal mais 6 de corrida. Fui pro Riacho Grande e com a ajuda da Julinha no começo e do Evandro quase até o fim, consegui terminar. Na volta, estava tão cansada que, cada paradinha em sinal vermelho, eu dava uma dormidinha.
Cheguei em casa, tomei aquele banho, fui pra cama, pus gelo no ombro, bolinha de tênis nas costas, bola feijão embaixo das pernas, travesseiro por baixo da cabeça, um livro nas mãos e lancei âncora. Eram quase cinco da tarde. Achei que pra encarar os 30k eu teria de ficar daquele jeito até a manhã do dia seguinte. Mas precisava me alimentar, então, com muito custo, passadas algumas horas, consegui me levantar e, com a roupa por cima do pijama fui até a esquina buscar três temakis. Cansei de batatas, macarrão e filé de frango!

A largada
Fui com a Thelma até a largada, mas como ela já teria uma companhia especial - o Alexei -, combinei com a minha amiga Nilma que é de Botucatu e estava em SP especialmente para correr a prova dos 25, que faríamos juntas. Depois, os últimos kms eu encararia solo.
Como marcar um ponto de encontro no meio daquela muvuca? Claro que você encontra um monte de gente, mas combinar com alguém "na largada" de uma prova deste porte, é impossível. Mas tive uma idéia que acabou funcionando bem.  Combinei com ela de encontrar no km 2. Eu ficaria bem perto da placa, do lado direito da pista e, quando ela passasse, iríamos juntas.
Quando faltava uns 15 minutos pra largada, comecei a subir a ponte estaiada o que, aliás, foi o máximo! A ponte vazia, sem carros, a multidão lá embaixo alinhada na largada, um céu de brigadeiro. Emocionante. O canhou disparou seu tiro anunciando o início da prova, eu já estava passando o primeiro km. Comecei a correr bem ali, depois que a elite e os primeiros corredores passaram. Cheguei até o km 2 e estacionei ali, esperando a Nilma chegar, enquanto via aquele mar de gente passar. Olhavam pra mim intrigados, e convidavam "vamos!"

A surpresa
Não demorou muito pra que ela chegasse. Levei um tempo pra identificá-la pois ela está sempre vestida de cor-de-rosa e dessa vez estava de azul. Mas essa não foi a grande surpresa. A grande surpresa foi que ela estava com o Rodrigo! Ele mesmo, do Blog do Rodrigo, figurinha com quem venho trocando comentários recíprocos nos nossos blogs e, mais recentemente, emails. Foi uma festa!   Parecíamos velhos amigos se reencontrando embora estivéssemos nos conhecendo pessoalmente ali, no meio da maratona. 
Ele, que sequer tinha corrido uma meia maratona na vida, estava ali para fazer os 25k.

C&C - Corrida e Conversa
Nilma foi puxando a gente, animadíssima. Ainda assim, sobrou fôlego para conversamos ininterruptamente por 25 kms. Treinos, provas, técnicos, filhos, trabalho, projetos...passeamos por um monte de assuntos. Eu olhava pro meu relógio e não acreditava que estava conseguindo manter um pace de 5m30s, 5m40s, às vezes até mais forte.
O dia estava lindo, o percurso sombreado e, justiça seja feita, não faltou água. Quando a turma que iria fazer os 10k se separou, acabou a muvuca e ficou melhor ainda. Quando estávamos chegando perto dos 20, Rodrigo começou a sentir algumas dores, mas não deixou a peteca cair. Ao cruzarmos os 21,1 brindamos, os três. Afinal, ele estava completando sua primeira meia maratona!
Os últimos 4 kms foram sofridos pra ele. Com dores e cãimbras  ele não sabia se era melhor apertar o passo pra acabar rápido ou afrouxar, pra aguentar até o fim. Hora tentava uma coisa, hora outra.
Lá pelas tantas, parou e disse "podem ir, não precisa me esperar!". Fincamos o pé "não, senhor! de jeito nenhum! Começamos juntos e vamos até os 25, juntos!"
E, sim, ele aguentou até o fim. Nos despedimos na marca dos 25 e eu segui para meus kms finais.

Os últimos kms
Som na caixa, segui pela avenida Politécnica, solitária. Até então eu não tinha me dado conta do meu cansaço e nem daquelas dorzinhas que sempre aparecem. Mas tudo estava absolutamente tolerável e, depois de percebê-los, acostumei com eles. Logo, nos últimos 3 kms eu estava me sentindo muito bem. Tão bem que conseguia cantar junto com Ipod enquanto apertava o ritmo um pouquinho.
Passei pelo Pedro, um triatleta forte e jovem, que está treinando para seu segundo Iron e ele me disse que iria completar a maratona. Confessei a ele minha vontade de ir até o fim e ele me tentou "Bora!". Resisti e parei quando completei os 30. Querendo mais.

Brunch
Encontrei Thelma, Rodrigo e Nilma logo depois de terminar. Tiramos a foto e eu e Thelma seguimos rumo ao nosso programa combinado: um brunch. No caminho, na avenida da raia, encontramos o Evandro. Ainda bem! Pois ele também estava tentado a fazer a maratona até o fim, e não ia ser uma boa idéia. Seduzido pela idéia do brunch, ele foi conosco.
Fomos até a Chácara Sta Cecília e comi até não poder mais. Comcei pelo café da manhã, passei pras saladas, depois fui pro macarrão com frango, completei com uma salada de frutas, arrematando com um café preto. Caro, mas fiz bom proveito.

Pico
Estou feliz e confiante. Passei pelo fim-de-semana mais duro de treinos e sobrevivi. Estou aqui, não estou? Com história pra contar e fôlego pra postar!
Thelma, eu (com sangue na blusa e nem tinha percebido), Rodrigo e Nilma, nos reencontramos ao final do treino/corrida.