segunda-feira, 4 de junho de 2012

Ironman 2012 - Staff e torcida - Parte 2

Chegadas e mais chegadas

Deixamos nossos postos de staff e fomos tomar um merecido café na Expo Iron (feirinha de produtos que fica do lado da área de transição).  Com direito a pão-de-mel e tudo.
Em seguida, fomos até as arquibancadas ver o pessoal cruzar a linha de chegada.
A ideia era ficar meia hora, apenas, mas acabamos ficando quase  duas horas. Chegamos ali com 9h25 minutos de prova. O pessoal forte dos amadores e as mulheres do profissional estavam terminando a prova.  Eu nunca tinha visto “de fora”. É mesmo um momento comovente e inspirador.
O que mais impressiona é a alegria. Por mais que a pessoa esteja no fim das suas energias, a estrondosa maioria, quando pisa no tapete azul que leva até o pórtico, tem ainda forças pra iluminar o rosto, brilhar os olhos e escancarar um belo sorriso. Cruzado o pórtico, para alguns, o disjuntor cai e dali vão direto pra maca. Mas, no mais das vezes, dá pra abraçar e beijar os seres amados que tiveram a paciência de suportar um triatleta em família por meses, com todas as suas neuras, ausências, conversas monotemáticas, entre outras manias.
Família uniformizada
Cada um ali tem uma história e a gente consegue vislumbrar um pouquinho delas no desfile do tapete azul. Pelo que soube, na maioria das provas de Ironman pelo mundo afora, não se pode atravessar o pórtico acompanhado. Aqui, é uma autêntica festa:
- Famílias inteiras uniformizadas;
- Atletas pais com nenês de colo;
- Atletas pais, com mulheres enormes de grávidas;
- Atleta portando faixas com declarações de amor;
- Atleta professor, acompanhado de toda a sua turma;
- Atletas filhos, com seus pais e irmãos;
- Atletas, mães, com  marido (ou sem) sua prole de filhos e até netos!
O amor e o companheirismo são homenageados em 100% das travessias dos amadores. Não tem como os olhos não marejarem.
Nem vimos o tempo passar e foi duro sair dali. Mas tínhamos prometido à nossa chefa que voltaríamos, então fomos nos reapresentar em nosso posto.
Estava tudo absolutamente tranquilo naquela transição.  Não tinha nada pra gente fazer. Pedimos pra ser exoneradas e fomos embora.

Pizza, cerveja e a torcida mais animada
Logo que saímos, encontrei minha querida rival mega super máster atleta Valeria Rosati que, mais uma vez, levou a melhor e vai, pela terceira vez, pra Kona. Torci muito por ela durante a prova, porque, além de ela ser forte mesmo, é uma pessoa simpática, bacana e humilde. E ela me deu um abração e agradeceu a torcida.
Em seguida, voltamos pra arquibancada onde estavam a Mari Klopfer e a Simone Lotito. Como já tinham se passado mais de 12 horas de prova, sugeri que fossemos pra outro lugar, comer alguma coisa e torcer pro pessoal que ainda estava fazendo a prova.  Mari foi conosco e Simone juntou-se a nós depois.
A pizza e a cerveja mais divertidas que já comemos
Com o anoitecer, a animação vai arrefecendo e é duro para quem ainda está no meio do percurso da corrida.
Fomos andando em direção ao Campanário e já começamos uma muito animada torcida pro pessoal que estava correndo.
Estava tão divertido torcer, que decidimos buscar a pizza no Spazio e  darmos conta delas ali, sentadas na guia.
E foi o que fizemos. Cerveja numa mão, pizza na outra e gritos de incentivo, de boca cheia mesmo.
Quando alguém lançava olhares cúpidos para nossa refeição, prometíamos: “Vai lá, termina a prova e volta aqui que a gente te dá uma pizza!”
Lá pelas tantas, passou um e pediu: “dá um pedaço, dá um pedaço!” olhando pro pedaço que a Thelma segurava. Não teve como. Ela mesma nos disse “o pedaço era dele, eu só estava segurando!”
Revigoradas com a pizza e a cerveja, levantamos e começamos a torcida mais animada do Iron. Sério. Veio gente filmar, fotografar e assistir.
O Túnel da Energia - olha o sorriso dela!
Aplaudíamos e saudávamos todos. Começamos a cantar para aqueles que vinham andando desanimados. Nosso coro era “Quem ta andando a gente anima! Quem ta andando a gente anima! Quem ta andando a gente anima!”, batendo palma e cantando cada vez mais forte e rápido, até que a pessoa começasse a trotar. Aí comemorávamos como um gol de final de campeonato e, de quebra, eu ainda gritava “lindooooo! Lindoooo!”.
Conseguimos fazer quase todo mundo trotar. E todo mundo, todo mundo, sorrir.
Lá pelas tantas, chegou a Julinha, que rapidamente entrou na brincadeira e era a mais engajada. Ia láááá longe conversar com a pessoa que estava andando, avisando que íamos animá-la e que ela, sem dúvida, iria conseguir dar um trotinho.
Na nossa frente, instalou-se um pessoal com a bandeira do Chile. Cantamos pra eles:
“Chi-chi-chi le-le-le vi-va Chi-le!”
Do alto de um prédio, uma galera começou a fazer coro conosco.
Inventamos um “túnel energizante, descãimbrante”. Quem passasse por ele, voltaria a correr e fizemos a hola, para aqueles que vinham correndo ou trotando.
Até o “tchu e o tchá” a gente cantou.
Foi uma verdadeira festa. Alegramos muita gente mesmo. Com a nossa animação, só o pessoal que estava no posto de hidratação, uns 400 metros adiante.  Eles também estavam cantando, dançando e brincando com todo mundo.

Chegada da Kelly
Comitiva da Kelly
Por volta de 14h30 minutos de prova, a Kelly, nossa querida amiga, apareceu para fechar a prova.
Decidimos acompanhá-la até o final. Dali até a chegada eram mais ou menos 1500 metros. E lá fomos aplaudindo, em comitiva.
Dali até o final, fomos  anunciando e pedindo aplausos:
“Pessoal, esta é a Kelly! Ela está terminando o Iron! Palmas pra ela!”
E assim ela foi  acalmada por todo o percurso. Todo mundo, naquele 1,5 km, a ovacionou.
Quando chegamos ao tapete azul, ela acelerou e nós a deixamos ir.
Ela cruzou o pórtico e olhou pra trás.
Fez sinal para que fossemos até lá.
Fomos correndo e, no pórtico, demos um “peixinho” aos pés dela.
Depois, levantamos, a abraçamos e giramos.
Por últimos, posamos para uma foto no pórtico.
Um carnaval.  Inesquecível, pra todas nós.
"Palmas pra Kelly!!!"(veja o vídeo da chegada)

Apagar das luzes – os últimos
Depois da chegada da Kelly, voltamos ao nosso posto na frente do Campanário.  Consegui convencer as meninas e assistirmos os últimos competidores chegando. Estávamos as quatro bastante cansadas mas, puxa, eu queria prestigiar o pessoal que não desiste.
E fomos nós. No caminho, uma senhora apontou pra mim e disse: “Esta menina, de anteninhas, animou muita gente! Vocês está de parabéns, viu?!”. Adorei. Principalmente a parte da “menina”. Nada como ter anteninhas pra parecer mais jovem.
Cruzamos também um atleta, que nos perguntou “E a Kelly? Chegou?” Nada como ter anteninhas, pra ser reconhecida.
Já não tinha muita gente nas arquibancadas e os que estavam, esperavam ansiosos, temendo que o atleta que esperavam não conseguisse chegar tempo.
Vimos chegar a Theo Carroll, a competidora mais idosa, de sessenta e tantos anos que, no entanto, não foi a última.
E o Ivan, de Rondônia, que aprendeu a nadar com mais de 40 anos, só pra poder completar um Iron – e estava com uma enorme e barulhenta torcida.
E a Alicia Collins, a triatleta mais gorda que já vi. Como ela conseguiu carregar aquele peso todo – praticamente concentrado no seu quadril e adjacências - por quase 17 horas? Será que é saudável? Não é perigoso para as articulações? Ficamos, as quatro, nos perguntando.
E o último a chegar foi um rapaz de trinta e poucos anos, Bruno. Nem gordo, nem magro. Por que será que ele custou tanto a fazer a prova? Enigmas do triathlon.
Aos dez segundos, foi feita uma contagem regressiva e, felizmente, se havia alguém para chegar (e acho que havia) não estava perto o suficiente para ter esperanças de cruzar a linha.
E assim terminou o Iron 2012.
Uma coisa é certa. Em 2013 estarei lá. De qual lado do balcão, ainda não sei.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Ironman 2012 - staff e torcida - Parte 1

Decisão 
Não, não completei o Ironman 2012. Mas estive lá.
Desde que fui ao campeonato mundial de Iron 70.3, em Clearwater, tenho vontade de participar como voluntária.
Lá fiquei impressionada com a maneira como as pessoas nos acolhiam: desde a entrega do kit, feita, no meu caso, por um senhor britânico, de mais de 60 anos, que acompanhava o filho que iria correr a prova, até o moleque de uns 17, que me entregou a toalha na linha de chegada, todos pareciam empenhados em fazer com que você se sentisse feliz e importante. Na minha última volta, já na corrida, me derreti toda e fui declarando meu amor a todos os voluntários: "I love you all! Thanks a lot! You're awesome", eu gritava.
A experiência desta prova foi maravilhosa e, tenho certeza, o staff contribuiu muito para isso.
Em todas as provas de que participo faço questão de agradecer aos voluntários e percebo que quando eles estão curtindo estar ali, o astral é outro.
Ano passado, quando encontrei meu querido amigo Artur Araujo no checkin da bike, trabalhando como voluntário, percebi como era legal ter alguém conhecido ali, me recepcionando.Então, este ano, quando decidi que assistiria ao Iron, resolvi também participar como staff. E de quebra, convenci Thelma e Dri - amigas triatletas - a fazerem o mesmo.
O processo de cadastramento como voluntária foi confuso. Entrei no site, me inscrevi na área de transição das bikes mas não recebi nenhuma confirmação via email. Apenas uma mensagem no próprio site dizendo que estava tudo ok.  Mas... não estava.
Semanas depois, a Dri recebeu um e-mail, confirmando a participação dela. mas Thelma e eu, nada. Escrevi pra pessoa que enviou a mensagem pra Dri e ela mandou cadastrar no site de novo. Cadastrei,  anotei o horário que estaria disponível e enviei de novo. Mas o meu cadastro não foi confirmado.
Depois, foi o cadastro da Dri que sumiu. Uma confusão! E cada hora a coordenadora marcava um horário diferente para gente "pegar e largar". Somos persistentes e fizemos marcação cerrada até o momento de começar efetivamente o trabalho - mas isso eu conto daqui a pouco.


Anteninhas
Recém chegadas à Ilha do Desterro, ainda no aeroporto
Desde que combinamos de ir juntas: Thelma, Adri e eu, como voluntárias, mais a Marina Klopfer - nutricionista que virou amigona - eu tinha certeza de que iria ser um fim-de-semana especial. A começar pelo fato de viver cercada de meninos, que gostam de fazer coisas de meninos e se comportar como meninos. Acrescido do fato de, no fim-de-semana anterior termos tido uma comemoração no paintball, com 20 meninos (sim, meninOs, do sexo masculinoooo) que depois foram almoçar em casa e tivemos, Roger (marido e pai, responsável por todos estes cromossomos Y) e eu que dar conta da turba que estava ensandecida com tanta adrenalina. Eu MERECIA passar um fim de semana com meninas, que agem como meninas, falando besteiras e fazendo brincadeiras de meninAs.  Foi o paraíso.
Saindo de casa, vesti uma linda tiara rosa, com anteninhas de borboletas na ponta - bem de menina. Fiquei com ela na cabeça o fim de semana inteiro. Aposto que se tivesse marido ou filhos junto ia ser um tal de "mãe, você está ri-dí-cu-la com esta tiara! tira isso".  Com as amigas foi só diversão. E a anteninha teve uma função muito útil: era fácil de me localizar e me reconhecer, de longe, na multidão.


Sábado
Chegamos, fomos pegar o carro alugado e, entre o balcão da locadora no aeroporto e o estacionamento da locadora, quase perdemos as CNHs das três que tinham CNH. Por sorte, as anteninhas, que serviam como radar também, me levaram a revistar os bolsos da Dri - que achava que tinha passado os documentos pra Mari, que tinha certeza que não e quase ficou tenso. Mas lá estavam as CNHs, Thelma foi nomeada piloto oficial e eu - por causa das anteninhas que vem com GPS, fui a copiloto.
Saúde! Na Barra da Lagoa
Fomos pra Barra da Lagoa e, com um belo cenário de fundo, tomamos uma cerveja, comemos um peixe, enquanto um sol suave e agradável iluminava e aquecia. Recusamos delicadamente o casal que queria cantar uma música para nós e, pra moça que veio com "posso falar com vocês um pouquinho?" respondi  tranquila e veementemente -  "não". O que ela não esperava. Ainda mais vindo de uma moça de anteninhas.
Quase não encontramos nosso hotel, porque  ninguém tinha o endereço e nem lembrava o nome. Acabamos achando o "Sonho Meu" em Canasvieiras, depois de alguns telefonemas.
Largamos as coisas na nossa cobertura em - com direito a terraço e banheiro enorme de azulejos enormes (lajotas???) pretos e brancos - um luxo! Totalmente kitch, que combinava muito com as minhas anteninhas.
Fomos pra Jurerê, nos apresentar pra chefe do staff e dar uma corridinha.
A corrida foi uma delícia. Todo mundo estava naquela neura dos últimos preparativo pro Iron no dia seguinte e a gente correndo na maior curtição. No meio do caminho encontramos o Galindez (elite do triathlon) que não estava brincando em serviço. 
Voltamos para um banho rápido. Recorde olímpico. Quatro mulheres e um banheiro e  levamos menos de uma hora para estar todas prontas!
Embaixo:Thelma, Dri, Nilma e Julinha, em cima: Simone, eu e Mari.
Passamos no Campanário, onde o pessoal jantava seu macarrãozinho básico, com água ou suquinho e fomos comer nossa pizza com vinho no Spazio.
Além de nós quatro, juntaram-se a nós três beldades: Simone Lotito, Julinha (minha filhinha) e a super atleta mega conhecida, sempre de pink e amiga querida - Nilma. 
Deixamos o Jason - moço que atendia nossa mesa - até sem graça. E olha que ele tinha rebolado. Uma de nós (que não fui eu, óbvio, a única casada e MUITO BEM casada por sinal)  que não vou dizer quem foi, ficou ensaiando para perguntar que horas ele largava. Mas só ensaiou. Quase passei minhas anteninhas pra ela ficar mais esperta...
Voltamos pro hotel zonzas de vinho e canseira. E dormimos tarde pra quem ia ter de levantar cedo no dia seguinte.


Largada e natação
Borboletinhas apreciando a largada
A largada do Iron é um clássico. Sol nascendo, aquele mar de gente, a expectativa... Pena que tinha tanta, mas tanta gente, que quase não deu pra ver nada. Mesmo assim, é um clima contagiante. 
Assim que o povo entrou na água, nos maravilhamos um pouco com aquele cardume voador contra o sol e logo fomos pra chegada da natação reservar um lugar, porque o curralzinho, onde o pessoal passa da primeira pra segunda boia, já estava lotado. Do jeito que a coisa vai, daqui a pouco vão começar a vender reservas para os melhores lugares de assistir o Iron. Estava muito concorrido.

Ficamos bem perto do relógio, logo depois de uma curva fechada que os atletas tinha de fazer e  muita gente derrapava, quase caindo.
Ali conseguimos ver alguns amigos, mas não muitos, porque tem gente que sai irreconhecível da água: amassado, com o óculo na cara ou com uma expressão tão estranha que a gente não conseguia identificar quem era.
Depois da passagem da nossa amiga Kelly, subimos pra tomar um café.


Staff!
Finalmente, fardadas para o trabalho de staff
Passamos pela área das bikes pra nos apresentar à nossa chefe, mas ela não estava ali. Tomamos o café, com direito à tapioca e tudo (e a moça da tapioca achou a gente fácil pra entregar o pedido adivinha porque? por causa da anteninha!). Chegamos na transição, prontas pra trabalhar e "a chefe do setor foi resolver um problema. Deem uma volta por aí e voltem daqui 15 minutos". Muito obedientes, fomos dar uma volta. 
Passados 15 minutos, Mariana rumou pra seu posto de nutricionista e nós três fomos nos apresentar mais uma vez. Mais uma vez fomos despachadas. "Voltem às 11h, que agora não tem nada pra fazer". Verdade. Não tinha mesmo. mas pedimos pra pegar nossa camiseta de staff. Era o que mais queríamos!
Fomos pra praia, estendemos a canga-cachecol da Dri, e passamos meia-hora lagarteando ao sol. Em silêncio, só ouvindo o mar. Nem parecia que em algum lugar rolava o Ironman!
De novo nos apresentamos. Não tinha nada pra fazer. O pessoal estava pedalando. Então, nos restou ir almoçar. 
O almoço foi ok. Sentou conosco a Angela, voluntária pela segunda ou terceira vez, cujo pai, de 130 kg estava fazendo a prova, também pela segunda ou terceira vez. Segundo o que nos contou, ele é considerado herói na cidade de Paranaguá, onde mora. É o único triatleta do pedaço.
Quando voltamos, finalmente, parecia que seríamos úteis pra alguma coisa. Angela havia nos informados que seriam três equipes: uma, na linha de frente, que recebia as bikes dos atletas, uma intermediária, que recebia a bike da primeira equipe e, a terceira, que pegava da segunda equipe e guardava nos cavaletes.
É claro que a gente queria ficar na linha de frente, encontrando os atletas. Então fiquei esperta, atenta à movimentação e assim que vi o Patrick, um dos coordenadores do pedaço, começar a ir em direção da linha de desmonte, fui atrás dele. E ele disse "preciso de 10 voluntários aqui". Não perdi tempo e as meninas, espertas, seguiram a borboletinha. Atingimos nosso objetivo. Integramos a primeira equipe.


No batente
Esperando os atletas chegarem
A ideia, infeliz, do pessoal, era que somente dois deles pegariam as bikes direto dos atletas e os demais pegariam deles pra levar pros outros. Óbvio que não deu certo. Primeiro, porque era chato. Todo mundo estava era afim de pegar as bikes das mãos dos atletas, segundo que, na hora que chegavam mais de duas bikes, a confusão estava armada, Então, o plano deles foi por água abaixo.
Na maior parte do tempo, a chegada dos atletas foi tranquila. De repente, chegava um pelotão, e aí era a maior correria e muito divertida por sinal.
A primeira leva chega nitidamente mais inteira. São os profissionais e o pessoal que pedala bem. Conforme o tempo vai passando, o estado geral vai piorando. Começam a chegar aqueles com cãibras, que mal conseguem descer da bike sozinhos, outros com as pernas tão duras que parecem uns robozinhos andando, outros que não sabem que rumo tomar.
A gente ficava atenta, oferecendo ajuda para quem quisesse tirar a sapatilha (e tava com medo de abaixar e não levantar nunca mais), inclinando a bike, pro pessoal da cãibra, tentando não atrapalhar os mais apressadinhos e incentivando todo mundo.
Alguns - poucos - agradeciam dizendo "obrigado", "valeu", "gracias" ou "thanks". Outros, estavam tão cansados, que apenas olhavam mas era fácil de identificar a gratidão no olha exausto. Uns beijavam a bike antes de correr pras tendas, outros diziam "aff, leva ela embora!", outros não queria entregar a bike, achavam que eram eles que teriam de levar de volta ao cavalete e era duro tirar a magrela destes. 
Uns tiravam o cateye ou o polar, caramanholas e comidas de suas bento box antes de ir. Então, quando eu via que a pessoa estava muito atordoada, perguntava "Não quer levar nada daqui? Não está esquecendo nada?" e tinha alguns que acabavam pegando alguma coisa e agradeciam a lembrança.
Vimos gente chegando machucada, com a bermuda rasgada, braços sangrando, capacete detonado e que não desistiu. Vimos uns poucos também que abandonaram. Muito poucos. 
Recebi a bike de alguns amigos que consegui identificar -Flavinho, Jacques, Nilma, Valeria - outros, mal consegui ver: Edu, Artur, Marquinhos, Alcy, Pedro, Serginho... Mas se uma de nós via, já avisava: "olha o Pedro!" a gente festejava "vai, Pedro!", mesmo se não estivesse vendo.
Tentamos incentivar as pessoas ao máximo: "agora não tem perigo de furar o pneu!", "vai, que é só a corrida!", "O mais difícil já foi!", "vai, que você está bem!" e outras frases do gênero. A maioria das pessoas apenas sorria. Outras, respondiam mau-humoradas "'só'  42 km", é?"
Diglu um amigo, ironman experiente, chegou de cabeça rachada, roda entortada e puto da vida. 
"Fui atropelado!"disse ele, e começou a nos mostrar os danos.
Thelma perguntou "você vai desistir?"
E ele "Claro que não!"
Ela "Então o que você tá fazendo aqui? Vai embora, meu!"
Não precisou falar duas vezes. nem se despediu e pulou fora.
Quando a Nilma chegou, fizemos tanta bagunça que até a atrapalhamos um pouco. Fomos todas ajudá-la e ela não tinha por onde passar! Até o moço da organização passou um pito "não atrapalha, não atrapalha!". 
Ficamos até a chegada da Kelly. E nos emocionamos as quatro com o encontro. A ajudamos a tirar as sapatilhas e, logo na sequencia, demos aquele abraço e ela partiu pra maratona.
Logo depois, decidimos que nossa presença ali não era tão imprescindível. 
Foram perto de quatro horas que ficamos ali. mas passou muito rápido. Foi uma experiência diferente e acho que todo o triatleta, principalmente de Iron, deveria passar por ela pelo menos uma vez. (Continua)
Thelma, eu e Dri. Quase todas as bikes entregues. Dever cumprido.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Grazielli e os Ironmen

Perda insuportável
Nenhum acontecimento me toca mais do que a morte de uma criança.  Mesmo se for ficção, imaginar a dor dos pais, me deixa atordoada. Não consigo. É intolerável.  Evito pensar. Mesmo porque, de que adiantaria? Viver pensando que os filhos podem nos ser arrancados de uma hora pra outra, que a vida é um fio muito tênue e que somos governados pelo acaso, não serve pra nada. Só pra aumentar a angústia. Não há o que se possa fazer. Nem rezar posso, já que não creio.

Então, quando uma morte como esta, da menininha em Bertioga, invade os noticiários, imediatamente me coloco no lugar dessa mãe e fico apavorada.  Não, não existe nada pior. Sinto vontade de pegar meus quatro filhos, coloca-los debaixo das minhas asas e não deixa-los fazer nada sem que meus olhos atentos, meus braços fortes, minhas pernas rápidas estejam lá para evitar que qualquer mal lhes atinja.  Impossível. Ainda que eu estivesse onipresente, jamais conseguiria evitar acidentes estúpidos e fatais como este, de um jet ski indomado por um menino de 14 anos, chegar até a areia e atingir minha criança. (Tenho certeza de que se esta mãe tivesse consciência do que iria acontecer, ainda que por uma fração de segundo, teria se jogado na frente da filha. Não houve esse tempo.)
Desejos e limites
Mesmo com todos os sentimentos irracionais que uma tragédia dessas provoca, há algo que não pode passar batido. E me inspiro num post da minha amiga Luciana Gerbovic, que dizia:
Em vários condomínios classificados como "de luxo" eu vejo uma placa: "proibido menores ao volante". Não entendo. Não é óbvio, se em todo o território nacional menores não podem dirigir? Não, não é óbvio. Não é óbvio porque em muitos desses lugares o dinheiro é a lei. Se o pai tem dinheiro, o menor pode dirigir carro, moto, triciclo, jet ski...

Este menino de 14 anos fez o que todas as crianças e adolescentes fazem: pediu aos seus pais algo que queria. Sim, faz parte do script de crianças e adolescentes ter desejos e expressá-los. É absolutamente legítimo. E, eu diria mais: é saudável. Contudo, não é obrigação dos pais atender a todos os desejos de seus filhos. Para isso – entre outras coisas – servem os pais. Atender tudo que for necessário,  dizer “sim” ao que for possível e limitar o que for inadequado, perigoso, pouco saudável ou simplesmente o que não for prioritário no momento - ter recursos disponíveis significa que você pode atender ao desejo, mas não que você deva. Isso, claro, dá trabalho. Principalmente se você quiser educar filhos autônomos, terá de explicar cada um de seus “nãos” e ter bons argumentos.  E, com certeza, seu IBOPE com os pequenos vai cair: “você é uma chata!”, “isso não é justo! A mãe do Pedrinho deixa ele jogar Call of Duty a noite inteira, por que só a gente não pode?” e por aí vai. (De vez em quando, como diz minha mãe, temos direito a um “porque não”.  Mas não é bom abusar.) Então, como não é todo mundo que aguenta ficar mal na fita, temos muitas crianças e jovens por aí, sem a menor tolerância à frustração, sem a menor capacidade de compreender que seu desejo não é uma ordem, sem noção do que é essencial, do que é superfluo, do que é luxo ou do que é privilégio.

Neste ponto, discordo um pouco da Lu, pois isso não é prerrogativa das classes abastadas. Os "menos favorecidos" também tem tido imensas dificuldades em dizer não aos seus rebentos. Uma cena inesquecível do documentário "criança, alma do negócio" é uma adolescente mostrando no quintal minúsculo, de sua casa de periferia também minúscula, espremido entre o tanque e o varal, um jet ski.

Se a mãe não consegue dizer não ao seu filho que quer tomar coca-cola e comer batata frita todo o dia isso é um crime contra seu próprio fiho, mas não contra os filhos dos outros. Provavelmente ela, mãe, vai acabar pagando por isso. A criança, infelizmente, também.  Mas não outras crianças.

O limite e as faltas
Mas o caso deste menino de Bertioga e nesses casos que minha amiga Luciana citou, a situação extrapola o âmbito familiar. Quando um pai ou uma mãe consentem que seu filho menor de idade dirija um veículo motorizado, estamos falando de faltas bastante graves: infração explícita da lei, risco para a criança que dirige e risco para as demais pessoas.

 E aí, voltando a concordar com minha amiga, acredito que alguns mais abastados, se consideram privilegiados, isolam-se ao máximo dos problemas causados pela desigualdade e hoje creem que vivem num mundo à parte.  Ora, ora então porque não ter leis próprias? Vamos deixar nossos filhos que são mais espertos, educados e ricos que os outros, agirem como se a lei não fosse para eles.

Então, por favor, não sejamos hipócritas. Não nos supreendamos com a corrupção, com o favorecimento, com o nepotismo que assola este país. Isso não é privilégio da classe política e isso tem, sim, a ver com a forma como educamos nossos filhos.

E eu com isso?
Não se trata de dar uma de franciscano e ir morar em bairros populares ou colocar os filhos para estudar em escolas públicas.  Nem deixar de frequentar (argh) shoppings.  Trata-se, em primeiro lugar, de não agir como quem está acima da lei – seja com os filhos, seja diante deles. Trata-se também, de educar filhos que não se achem melhores que outros, merecedores de tratamento diferenciado, pequenos tiranos que desprezarão e desrespeitarão os que não fazem parte de seu círculo.

O poder judiciário, a educação escolar, os políticos têm sim, uma grande parcela de responsabilidade nas mudanças que precisam ocorrer pra termos um país mais justo e menos corrupto.  Entretanto,  nós, pais da nova geração que vai comandar esse país – pais das crianças que estão no Santa Cruz, no Vera Cruz, Lourenço Castanho, Dante, Bandeirantes etc, temos de lembrar que podemos fazer a nossa parte, educando pessoas que pensem mais no bem comum. E sim, muitos triatletas estão neste seleto grupo.

E o Ironman com isso?
O que pode fazer de um ironman uma pessoa bacana (mas não melhor ou pior do que ninguém) é sua capacidade de tolerar frustrações, sua persistência, esforço, abnegação.  Cruzar a linha de chegada, jogando limpo, seja em 8h ou em 17 horas, é um ótimo exemplo de que medalhas têm de ser merecidas, títulos precisam ser conquistados. E que isso, além de ser mais justo e digno é, também, mais prazeroso.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Identidade, diversidade, fraternidade

Londres
Quando tinha meus vinte e poucos anos, terminei a faculdade e fui pra Europa. Duca, meu ex-marido, namorado à época, e eu, viajamos um pouquinho e depois nos instalamos em Londres, pra uma temporada que veio a ser de um ano e meio. Morávamos no que lá se chama bedsit e aqui seria equivalente a uma quitinete. Só que em vez de ser num prédio de apartamentos, era numa casa de dois andares. Minha vida, ao longo dos meses que passei ali, foi muito diferente da que eu tinha vivido até então. E, lembre-se, isso foi na década de 80. Não existiam celulares, smartphones, PCs, lanhouses, Ipads, skypes, emails... nada desses aparatos que nos mantém em comunicação o tempo todo. Para falar com família eu descia até o térreo onde ficava um telefone público/particular e fazia uma colect call pro Brasil. Com os amigos, cartas.  Mas, embora eu escrevesse bastante, nem todos respondiam. E demoraaaaava pra chegar resposta. Muitas, nem chegavam. Nem todo mundo tinha o hábito de se corresponder. A sensação de distância e isolamento era forte. 
Fizemos novos amigos, estudamos inglês, passeamos em Camdem Town, fomos a shows do Cure, Smiths, Cult, Waterboys, It’s Imaterial, bebemos em pubs, lemos a NME e a Melody Maker, apostamos em corridas de cachorro, andamos ao longo do Tamisa, fizemos faxina, comemos chinese take away e fish’n’chips, compramos no Sainsbury, decoramos as cores das linhas do “tube”, visitamos os Kew Gardens, fiz babysitting, saímos pra dançar, brigamos bastante também. 
Foi uma experiência que fez diferença na minha formação pessoal. Tudo que vivi foi importante. Mas, talvez, o que tenha sido o mais interessante foram as reflexões acerca da minha própria identidade (o bom e velho “quem sou eu?” issue). Percebia que, em estando fora do meu habitat natural: casa dos pais, SP, amigos da faculdade e outros, família, carrinho, meus discos, meus livros, meus filmes e tudo mais, me obrigava a entrar em contato com a minha essência. Sou o que faço ou sou o que sou? Sou formada pelo meio em que vivo ou tenho um âmago, um cerne, um eu interior que permanece o mesmo, independente das circunstâncias? 


Identidade
Longe de querer esgotar essas questões, e sem querer me alongar na história sobre minha temporada londrina, o que isso tem a ver com triathlon e com o momento atual? Tudo. Assim como naqueles idos da década de 80, nos últimos tempos, estas questões existenciais voltaram. Repaginadas, mas voltaram. Estou (assim espero, oxalá, knainóri) terminando um período de afastamento quase total dos treinos. De outubro até agora, praticamente não treinei. Deixei de ser triatleta? Sou triatleta ou estou triatleta? Deixei de ser atleta? Deixei, em alguma medida, de ser “Claudia”?  Quão triatleta eu sou, e quanto o fato de ser triatleta compõe minha identidade? 
Na adolescência, quando a questão da identidade começa a aparecer, é comum os jovens formarem turmas que se vestem com um tipo de roupa, ouvem um tipo de música e repetem jargões.  “Meus iguais me compreendem, são como eu, me identifico com eles, portanto, não estou só”. Isso, segundo minha mãe psicóloga,  é uma maneira de suportar a idéia da solidão que descobrimos ao deixarmos de ser criança e nos deparamos com um mundo interior, só nosso, impossível de compartilhar integralmente com quem quer que seja. Ninguém, nem mesmo o mais amoroso dos companheiros, pode participar nem compreender inteiramente este universo. 
Desde os idos de 2007, aos poucos, passei a integrar a tribo dos triatletas. Sim, tribo. Têm seus rituais, linguagem, modos de vestir e viver. Como um grupo de “emos” ou “góticos”. Por um lado, pode ser bem divertido a essas alturas da vida, fazer parte de uma turma com a qual tenho tantas afinidades.  Por outro, não temos mais ilusões com relação a uma identificação absoluta.  E isso também é uma questão sobre a qual tenho pensado. Qual meu grau de identificação, afinidade e profundidade nas relações com as pessoas do triathlon? Se eu por (des)ventura ou por opção deixar de ser triatleta continuarei próxima delas?


Diversidade
Bem, chega de tantas perguntas. Vamos a algumas conclusões. O fato de estar passando um tempo sem treinar muito e de não ter objetivos a vista me fez perceber que sim, o triatlon e o estilo de vida decorrente dele fazem parte da minha vida mas, apenas uma parte de mim é triatleta. Tenho muitas outras facetas que são tão importantes e que tem tanto ou mais peso quanto essa: sou mãe, esposa, mulher, festeira, amiga, blogueira, educadora, corintiana, leitora, filha... E, indo um pouco mais longe, o que está no âmago da minha relação com o triathlon é o prazer em fazer uma atividade física, em superar limites, em fazer algo bem feito e ter convívio social. Se eu não puder fazer triatlon, nem correr, nem pedalar, nem nadar, então vou jogar badminton, ou tênis, ou praticar SUP, ou dançar ou alguma coisa que faça suar e sentir bem!


Fraternidade
Quanto aos amigos, claro está que há pessoas que vieram pra ficar e o triatlon foi apenas a porta de entrada. Encontramos-nos e falamos sim, de treinos e provas, mas a conversa vai muito mais longe: já até brincamos de Imagem e Ação e não conversamos um “A” sobre nossos esportes! Descobri que são pessoas com quem posso contar não só quando estou “na ponta dos cascos”, mas, principalmente, na hora do aperto, quando estou manquitola, com a “patinha quebrada”. Lógico que há também relacionamentos superficiais, que não sobreviveriam caso eu deixasse de treinar mas, isso não é exclusividade do triathlon, é?  
Nos últimos cinco meses minha rotina mudou. Não dormi tão cedo, abri mão de treinar por motivos banais, não segui planilha, não fiz relatórios dos meus poucos treinos, não escrevi no blog, não deixei de beber tacinhas de vinho quando tive vontade e até saí um dia pra dançar. E os bons amigos estiveram por perto.  


Percebi que  treinar pro Iron faz com que o lado triatleta seja preponderante sobre os outros e que não dá mesmo – pra mim, pelo menos – pra ficar o tempo todo com ela – Claudia triatleta – mandando em tudo. È necessário dar uma folguinha – não só pro corpo, mas pras outras Claudias que me habitam poderem se exercitar.     

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Destreinada


Eis que resolvi ressuscitar este blog. Depois de meses de dormência, por motivos de força menor, vamos voltar a escrever.  

Nossa. Tanto tempo sem escrever, acho que perdi a mão. Não encontro o assunto certo. Quando parece certo, o tom soa errado.
Primeiro ia me justificar. Desfiar um rosário de atribulações, para que você, caro leitor, me perdoasse a ausência. Entretanto, não tem desculpa, não tem perdão. Tampouco tem importância.  Foi uma escolha. Escolhi silenciar um pouco e usar o tempo do blog em outros afazeres. Filhos, muitas leituras, amigos... prioridades outras. Em suma: não há uma justificativa.
Pensei também em escrever sobre envelhecimento. Fiz aniversário há pouco e isso faz a gente pensar na vida, nas metas, no passar do tempo, nos ganhos, nas perdas. Assustei. O tema era duro. Doloroso. Rugas, cabelos brancos, menopausa chegando, a impressão de que o sol já não está mais em seu zênite, de que o jogo já está no 2º tempo. Muito deprê. Claro, iria comentar sobre como a idade também dá perspectiva, como a chegada da maturidade nos deixa mais atento às nossas próprias armadilhas e, sobre como a gente pode perceber que está se tornando um ser humano melhor; passamos a ser mais tolerantes com outros e menos exigentes para com gente mesmo. Também ia falar sobre o papel do esporte nesta fase da vida: como nos ajuda a sofrer menos e até a envelhecer melhor, e mais devagar. Desisti.
Então pensei em contar sobre minha falta de rotina de treinos e o esforço que tenho feito para não me desorganizar, nem parar de vez. Mas aí teria de contar que estou lesionada desde outubro e explicar que é uma tendinite de isquiotibiais, dar todo o longo histórico, entrar em detalhes ortopédicos e fisioterapeuticos e aí, bah, que chaaaato. “Pô, essa mulher só fala de lesão e falta de treinos!” dirá meu leitor. Desencanei disso também.
Por que não fazer um relato sobre a maratona de Buenos Aires? Afinal, foi minha primeira maratona (as do Iron não contam, são testes de sobrevivência, como diz meu amigo Portelinha). E foi ótima. Um trajeto bonito, plano, prova bem organizada, sem muvuca. Tudo de bom. Mas... foi há quatro meses! Não vou conseguir lembrar os detalhes, não vou conseguir narrar com emoção. Já esfriou.
Um dos momentos-pérola
Minhas férias! Um clássico das redações escolares. Queria emoldurar os muitos momentos “top ten” que vivemos. Mas foram muito mais que dez. E ainda que todos tivessem sido fotografados, ainda assim, as fotos, emolduradas, não iram conseguir trazer todas as emoções e sensações dos dias que passamos juntos. Não fomos pra Disney. Nem pro Japão. Nem pra Europa, França e Bahia. Sequer fomos pra um lugar novo. Nosso destino foi a velha conhecida praia de Paúba, onde passamos já tantas outras férias e finais de semana. Não sei o que foi diferente, que fez tudo ser tão intensamente bom. Gostaria de colecionar os momentos pérolas, diamantes, ouro puro, que vivemos juntos. Sem compromisso com a cronologia, sem ordem de importância. mas o que isso tem a ver com triathlon? Como isso poderia interessar aos leitores?
Então resolvi partir pra outro estilo. Humor. Comecei a imaginar uma publicação sobre triathlon que não fosse séria, que parodiasse as revistas femininas, as de fofoca ou as de carro. Uma revista sincera, com matérias do tipo:
“Muito além do Garmin – as funções que você nunca usou e porque elas não servem para nada mesmo” ou
 “Colucci revela: jamais pensei que iria gostar de me depilar com cera quente”.
“As dez provas mais sofridas de Ironman: escolha a sua!”
E outras bobagens do gênero. Mas fiquei insegura. Não achei as tiradas muito boas e não deu muita vontade de continuar. Fiquei pelo caminho.
Talvez eu esteja destreinada. Talvez seja besteira voltar a blogar. Não posso dizer que não tenha tentado. Não posso dizer que não falei das flores.