segunda-feira, 4 de junho de 2012

Ironman 2012 - Staff e torcida - Parte 2

Chegadas e mais chegadas

Deixamos nossos postos de staff e fomos tomar um merecido café na Expo Iron (feirinha de produtos que fica do lado da área de transição).  Com direito a pão-de-mel e tudo.
Em seguida, fomos até as arquibancadas ver o pessoal cruzar a linha de chegada.
A ideia era ficar meia hora, apenas, mas acabamos ficando quase  duas horas. Chegamos ali com 9h25 minutos de prova. O pessoal forte dos amadores e as mulheres do profissional estavam terminando a prova.  Eu nunca tinha visto “de fora”. É mesmo um momento comovente e inspirador.
O que mais impressiona é a alegria. Por mais que a pessoa esteja no fim das suas energias, a estrondosa maioria, quando pisa no tapete azul que leva até o pórtico, tem ainda forças pra iluminar o rosto, brilhar os olhos e escancarar um belo sorriso. Cruzado o pórtico, para alguns, o disjuntor cai e dali vão direto pra maca. Mas, no mais das vezes, dá pra abraçar e beijar os seres amados que tiveram a paciência de suportar um triatleta em família por meses, com todas as suas neuras, ausências, conversas monotemáticas, entre outras manias.
Família uniformizada
Cada um ali tem uma história e a gente consegue vislumbrar um pouquinho delas no desfile do tapete azul. Pelo que soube, na maioria das provas de Ironman pelo mundo afora, não se pode atravessar o pórtico acompanhado. Aqui, é uma autêntica festa:
- Famílias inteiras uniformizadas;
- Atletas pais com nenês de colo;
- Atletas pais, com mulheres enormes de grávidas;
- Atleta portando faixas com declarações de amor;
- Atleta professor, acompanhado de toda a sua turma;
- Atletas filhos, com seus pais e irmãos;
- Atletas, mães, com  marido (ou sem) sua prole de filhos e até netos!
O amor e o companheirismo são homenageados em 100% das travessias dos amadores. Não tem como os olhos não marejarem.
Nem vimos o tempo passar e foi duro sair dali. Mas tínhamos prometido à nossa chefa que voltaríamos, então fomos nos reapresentar em nosso posto.
Estava tudo absolutamente tranquilo naquela transição.  Não tinha nada pra gente fazer. Pedimos pra ser exoneradas e fomos embora.

Pizza, cerveja e a torcida mais animada
Logo que saímos, encontrei minha querida rival mega super máster atleta Valeria Rosati que, mais uma vez, levou a melhor e vai, pela terceira vez, pra Kona. Torci muito por ela durante a prova, porque, além de ela ser forte mesmo, é uma pessoa simpática, bacana e humilde. E ela me deu um abração e agradeceu a torcida.
Em seguida, voltamos pra arquibancada onde estavam a Mari Klopfer e a Simone Lotito. Como já tinham se passado mais de 12 horas de prova, sugeri que fossemos pra outro lugar, comer alguma coisa e torcer pro pessoal que ainda estava fazendo a prova.  Mari foi conosco e Simone juntou-se a nós depois.
A pizza e a cerveja mais divertidas que já comemos
Com o anoitecer, a animação vai arrefecendo e é duro para quem ainda está no meio do percurso da corrida.
Fomos andando em direção ao Campanário e já começamos uma muito animada torcida pro pessoal que estava correndo.
Estava tão divertido torcer, que decidimos buscar a pizza no Spazio e  darmos conta delas ali, sentadas na guia.
E foi o que fizemos. Cerveja numa mão, pizza na outra e gritos de incentivo, de boca cheia mesmo.
Quando alguém lançava olhares cúpidos para nossa refeição, prometíamos: “Vai lá, termina a prova e volta aqui que a gente te dá uma pizza!”
Lá pelas tantas, passou um e pediu: “dá um pedaço, dá um pedaço!” olhando pro pedaço que a Thelma segurava. Não teve como. Ela mesma nos disse “o pedaço era dele, eu só estava segurando!”
Revigoradas com a pizza e a cerveja, levantamos e começamos a torcida mais animada do Iron. Sério. Veio gente filmar, fotografar e assistir.
O Túnel da Energia - olha o sorriso dela!
Aplaudíamos e saudávamos todos. Começamos a cantar para aqueles que vinham andando desanimados. Nosso coro era “Quem ta andando a gente anima! Quem ta andando a gente anima! Quem ta andando a gente anima!”, batendo palma e cantando cada vez mais forte e rápido, até que a pessoa começasse a trotar. Aí comemorávamos como um gol de final de campeonato e, de quebra, eu ainda gritava “lindooooo! Lindoooo!”.
Conseguimos fazer quase todo mundo trotar. E todo mundo, todo mundo, sorrir.
Lá pelas tantas, chegou a Julinha, que rapidamente entrou na brincadeira e era a mais engajada. Ia láááá longe conversar com a pessoa que estava andando, avisando que íamos animá-la e que ela, sem dúvida, iria conseguir dar um trotinho.
Na nossa frente, instalou-se um pessoal com a bandeira do Chile. Cantamos pra eles:
“Chi-chi-chi le-le-le vi-va Chi-le!”
Do alto de um prédio, uma galera começou a fazer coro conosco.
Inventamos um “túnel energizante, descãimbrante”. Quem passasse por ele, voltaria a correr e fizemos a hola, para aqueles que vinham correndo ou trotando.
Até o “tchu e o tchá” a gente cantou.
Foi uma verdadeira festa. Alegramos muita gente mesmo. Com a nossa animação, só o pessoal que estava no posto de hidratação, uns 400 metros adiante.  Eles também estavam cantando, dançando e brincando com todo mundo.

Chegada da Kelly
Comitiva da Kelly
Por volta de 14h30 minutos de prova, a Kelly, nossa querida amiga, apareceu para fechar a prova.
Decidimos acompanhá-la até o final. Dali até a chegada eram mais ou menos 1500 metros. E lá fomos aplaudindo, em comitiva.
Dali até o final, fomos  anunciando e pedindo aplausos:
“Pessoal, esta é a Kelly! Ela está terminando o Iron! Palmas pra ela!”
E assim ela foi  acalmada por todo o percurso. Todo mundo, naquele 1,5 km, a ovacionou.
Quando chegamos ao tapete azul, ela acelerou e nós a deixamos ir.
Ela cruzou o pórtico e olhou pra trás.
Fez sinal para que fossemos até lá.
Fomos correndo e, no pórtico, demos um “peixinho” aos pés dela.
Depois, levantamos, a abraçamos e giramos.
Por últimos, posamos para uma foto no pórtico.
Um carnaval.  Inesquecível, pra todas nós.
"Palmas pra Kelly!!!"(veja o vídeo da chegada)

Apagar das luzes – os últimos
Depois da chegada da Kelly, voltamos ao nosso posto na frente do Campanário.  Consegui convencer as meninas e assistirmos os últimos competidores chegando. Estávamos as quatro bastante cansadas mas, puxa, eu queria prestigiar o pessoal que não desiste.
E fomos nós. No caminho, uma senhora apontou pra mim e disse: “Esta menina, de anteninhas, animou muita gente! Vocês está de parabéns, viu?!”. Adorei. Principalmente a parte da “menina”. Nada como ter anteninhas pra parecer mais jovem.
Cruzamos também um atleta, que nos perguntou “E a Kelly? Chegou?” Nada como ter anteninhas, pra ser reconhecida.
Já não tinha muita gente nas arquibancadas e os que estavam, esperavam ansiosos, temendo que o atleta que esperavam não conseguisse chegar tempo.
Vimos chegar a Theo Carroll, a competidora mais idosa, de sessenta e tantos anos que, no entanto, não foi a última.
E o Ivan, de Rondônia, que aprendeu a nadar com mais de 40 anos, só pra poder completar um Iron – e estava com uma enorme e barulhenta torcida.
E a Alicia Collins, a triatleta mais gorda que já vi. Como ela conseguiu carregar aquele peso todo – praticamente concentrado no seu quadril e adjacências - por quase 17 horas? Será que é saudável? Não é perigoso para as articulações? Ficamos, as quatro, nos perguntando.
E o último a chegar foi um rapaz de trinta e poucos anos, Bruno. Nem gordo, nem magro. Por que será que ele custou tanto a fazer a prova? Enigmas do triathlon.
Aos dez segundos, foi feita uma contagem regressiva e, felizmente, se havia alguém para chegar (e acho que havia) não estava perto o suficiente para ter esperanças de cruzar a linha.
E assim terminou o Iron 2012.
Uma coisa é certa. Em 2013 estarei lá. De qual lado do balcão, ainda não sei.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Ironman 2012 - staff e torcida - Parte 1

Decisão 
Não, não completei o Ironman 2012. Mas estive lá.
Desde que fui ao campeonato mundial de Iron 70.3, em Clearwater, tenho vontade de participar como voluntária.
Lá fiquei impressionada com a maneira como as pessoas nos acolhiam: desde a entrega do kit, feita, no meu caso, por um senhor britânico, de mais de 60 anos, que acompanhava o filho que iria correr a prova, até o moleque de uns 17, que me entregou a toalha na linha de chegada, todos pareciam empenhados em fazer com que você se sentisse feliz e importante. Na minha última volta, já na corrida, me derreti toda e fui declarando meu amor a todos os voluntários: "I love you all! Thanks a lot! You're awesome", eu gritava.
A experiência desta prova foi maravilhosa e, tenho certeza, o staff contribuiu muito para isso.
Em todas as provas de que participo faço questão de agradecer aos voluntários e percebo que quando eles estão curtindo estar ali, o astral é outro.
Ano passado, quando encontrei meu querido amigo Artur Araujo no checkin da bike, trabalhando como voluntário, percebi como era legal ter alguém conhecido ali, me recepcionando.Então, este ano, quando decidi que assistiria ao Iron, resolvi também participar como staff. E de quebra, convenci Thelma e Dri - amigas triatletas - a fazerem o mesmo.
O processo de cadastramento como voluntária foi confuso. Entrei no site, me inscrevi na área de transição das bikes mas não recebi nenhuma confirmação via email. Apenas uma mensagem no próprio site dizendo que estava tudo ok.  Mas... não estava.
Semanas depois, a Dri recebeu um e-mail, confirmando a participação dela. mas Thelma e eu, nada. Escrevi pra pessoa que enviou a mensagem pra Dri e ela mandou cadastrar no site de novo. Cadastrei,  anotei o horário que estaria disponível e enviei de novo. Mas o meu cadastro não foi confirmado.
Depois, foi o cadastro da Dri que sumiu. Uma confusão! E cada hora a coordenadora marcava um horário diferente para gente "pegar e largar". Somos persistentes e fizemos marcação cerrada até o momento de começar efetivamente o trabalho - mas isso eu conto daqui a pouco.


Anteninhas
Recém chegadas à Ilha do Desterro, ainda no aeroporto
Desde que combinamos de ir juntas: Thelma, Adri e eu, como voluntárias, mais a Marina Klopfer - nutricionista que virou amigona - eu tinha certeza de que iria ser um fim-de-semana especial. A começar pelo fato de viver cercada de meninos, que gostam de fazer coisas de meninos e se comportar como meninos. Acrescido do fato de, no fim-de-semana anterior termos tido uma comemoração no paintball, com 20 meninos (sim, meninOs, do sexo masculinoooo) que depois foram almoçar em casa e tivemos, Roger (marido e pai, responsável por todos estes cromossomos Y) e eu que dar conta da turba que estava ensandecida com tanta adrenalina. Eu MERECIA passar um fim de semana com meninas, que agem como meninas, falando besteiras e fazendo brincadeiras de meninAs.  Foi o paraíso.
Saindo de casa, vesti uma linda tiara rosa, com anteninhas de borboletas na ponta - bem de menina. Fiquei com ela na cabeça o fim de semana inteiro. Aposto que se tivesse marido ou filhos junto ia ser um tal de "mãe, você está ri-dí-cu-la com esta tiara! tira isso".  Com as amigas foi só diversão. E a anteninha teve uma função muito útil: era fácil de me localizar e me reconhecer, de longe, na multidão.


Sábado
Chegamos, fomos pegar o carro alugado e, entre o balcão da locadora no aeroporto e o estacionamento da locadora, quase perdemos as CNHs das três que tinham CNH. Por sorte, as anteninhas, que serviam como radar também, me levaram a revistar os bolsos da Dri - que achava que tinha passado os documentos pra Mari, que tinha certeza que não e quase ficou tenso. Mas lá estavam as CNHs, Thelma foi nomeada piloto oficial e eu - por causa das anteninhas que vem com GPS, fui a copiloto.
Saúde! Na Barra da Lagoa
Fomos pra Barra da Lagoa e, com um belo cenário de fundo, tomamos uma cerveja, comemos um peixe, enquanto um sol suave e agradável iluminava e aquecia. Recusamos delicadamente o casal que queria cantar uma música para nós e, pra moça que veio com "posso falar com vocês um pouquinho?" respondi  tranquila e veementemente -  "não". O que ela não esperava. Ainda mais vindo de uma moça de anteninhas.
Quase não encontramos nosso hotel, porque  ninguém tinha o endereço e nem lembrava o nome. Acabamos achando o "Sonho Meu" em Canasvieiras, depois de alguns telefonemas.
Largamos as coisas na nossa cobertura em - com direito a terraço e banheiro enorme de azulejos enormes (lajotas???) pretos e brancos - um luxo! Totalmente kitch, que combinava muito com as minhas anteninhas.
Fomos pra Jurerê, nos apresentar pra chefe do staff e dar uma corridinha.
A corrida foi uma delícia. Todo mundo estava naquela neura dos últimos preparativo pro Iron no dia seguinte e a gente correndo na maior curtição. No meio do caminho encontramos o Galindez (elite do triathlon) que não estava brincando em serviço. 
Voltamos para um banho rápido. Recorde olímpico. Quatro mulheres e um banheiro e  levamos menos de uma hora para estar todas prontas!
Embaixo:Thelma, Dri, Nilma e Julinha, em cima: Simone, eu e Mari.
Passamos no Campanário, onde o pessoal jantava seu macarrãozinho básico, com água ou suquinho e fomos comer nossa pizza com vinho no Spazio.
Além de nós quatro, juntaram-se a nós três beldades: Simone Lotito, Julinha (minha filhinha) e a super atleta mega conhecida, sempre de pink e amiga querida - Nilma. 
Deixamos o Jason - moço que atendia nossa mesa - até sem graça. E olha que ele tinha rebolado. Uma de nós (que não fui eu, óbvio, a única casada e MUITO BEM casada por sinal)  que não vou dizer quem foi, ficou ensaiando para perguntar que horas ele largava. Mas só ensaiou. Quase passei minhas anteninhas pra ela ficar mais esperta...
Voltamos pro hotel zonzas de vinho e canseira. E dormimos tarde pra quem ia ter de levantar cedo no dia seguinte.


Largada e natação
Borboletinhas apreciando a largada
A largada do Iron é um clássico. Sol nascendo, aquele mar de gente, a expectativa... Pena que tinha tanta, mas tanta gente, que quase não deu pra ver nada. Mesmo assim, é um clima contagiante. 
Assim que o povo entrou na água, nos maravilhamos um pouco com aquele cardume voador contra o sol e logo fomos pra chegada da natação reservar um lugar, porque o curralzinho, onde o pessoal passa da primeira pra segunda boia, já estava lotado. Do jeito que a coisa vai, daqui a pouco vão começar a vender reservas para os melhores lugares de assistir o Iron. Estava muito concorrido.

Ficamos bem perto do relógio, logo depois de uma curva fechada que os atletas tinha de fazer e  muita gente derrapava, quase caindo.
Ali conseguimos ver alguns amigos, mas não muitos, porque tem gente que sai irreconhecível da água: amassado, com o óculo na cara ou com uma expressão tão estranha que a gente não conseguia identificar quem era.
Depois da passagem da nossa amiga Kelly, subimos pra tomar um café.


Staff!
Finalmente, fardadas para o trabalho de staff
Passamos pela área das bikes pra nos apresentar à nossa chefe, mas ela não estava ali. Tomamos o café, com direito à tapioca e tudo (e a moça da tapioca achou a gente fácil pra entregar o pedido adivinha porque? por causa da anteninha!). Chegamos na transição, prontas pra trabalhar e "a chefe do setor foi resolver um problema. Deem uma volta por aí e voltem daqui 15 minutos". Muito obedientes, fomos dar uma volta. 
Passados 15 minutos, Mariana rumou pra seu posto de nutricionista e nós três fomos nos apresentar mais uma vez. Mais uma vez fomos despachadas. "Voltem às 11h, que agora não tem nada pra fazer". Verdade. Não tinha mesmo. mas pedimos pra pegar nossa camiseta de staff. Era o que mais queríamos!
Fomos pra praia, estendemos a canga-cachecol da Dri, e passamos meia-hora lagarteando ao sol. Em silêncio, só ouvindo o mar. Nem parecia que em algum lugar rolava o Ironman!
De novo nos apresentamos. Não tinha nada pra fazer. O pessoal estava pedalando. Então, nos restou ir almoçar. 
O almoço foi ok. Sentou conosco a Angela, voluntária pela segunda ou terceira vez, cujo pai, de 130 kg estava fazendo a prova, também pela segunda ou terceira vez. Segundo o que nos contou, ele é considerado herói na cidade de Paranaguá, onde mora. É o único triatleta do pedaço.
Quando voltamos, finalmente, parecia que seríamos úteis pra alguma coisa. Angela havia nos informados que seriam três equipes: uma, na linha de frente, que recebia as bikes dos atletas, uma intermediária, que recebia a bike da primeira equipe e, a terceira, que pegava da segunda equipe e guardava nos cavaletes.
É claro que a gente queria ficar na linha de frente, encontrando os atletas. Então fiquei esperta, atenta à movimentação e assim que vi o Patrick, um dos coordenadores do pedaço, começar a ir em direção da linha de desmonte, fui atrás dele. E ele disse "preciso de 10 voluntários aqui". Não perdi tempo e as meninas, espertas, seguiram a borboletinha. Atingimos nosso objetivo. Integramos a primeira equipe.


No batente
Esperando os atletas chegarem
A ideia, infeliz, do pessoal, era que somente dois deles pegariam as bikes direto dos atletas e os demais pegariam deles pra levar pros outros. Óbvio que não deu certo. Primeiro, porque era chato. Todo mundo estava era afim de pegar as bikes das mãos dos atletas, segundo que, na hora que chegavam mais de duas bikes, a confusão estava armada, Então, o plano deles foi por água abaixo.
Na maior parte do tempo, a chegada dos atletas foi tranquila. De repente, chegava um pelotão, e aí era a maior correria e muito divertida por sinal.
A primeira leva chega nitidamente mais inteira. São os profissionais e o pessoal que pedala bem. Conforme o tempo vai passando, o estado geral vai piorando. Começam a chegar aqueles com cãibras, que mal conseguem descer da bike sozinhos, outros com as pernas tão duras que parecem uns robozinhos andando, outros que não sabem que rumo tomar.
A gente ficava atenta, oferecendo ajuda para quem quisesse tirar a sapatilha (e tava com medo de abaixar e não levantar nunca mais), inclinando a bike, pro pessoal da cãibra, tentando não atrapalhar os mais apressadinhos e incentivando todo mundo.
Alguns - poucos - agradeciam dizendo "obrigado", "valeu", "gracias" ou "thanks". Outros, estavam tão cansados, que apenas olhavam mas era fácil de identificar a gratidão no olha exausto. Uns beijavam a bike antes de correr pras tendas, outros diziam "aff, leva ela embora!", outros não queria entregar a bike, achavam que eram eles que teriam de levar de volta ao cavalete e era duro tirar a magrela destes. 
Uns tiravam o cateye ou o polar, caramanholas e comidas de suas bento box antes de ir. Então, quando eu via que a pessoa estava muito atordoada, perguntava "Não quer levar nada daqui? Não está esquecendo nada?" e tinha alguns que acabavam pegando alguma coisa e agradeciam a lembrança.
Vimos gente chegando machucada, com a bermuda rasgada, braços sangrando, capacete detonado e que não desistiu. Vimos uns poucos também que abandonaram. Muito poucos. 
Recebi a bike de alguns amigos que consegui identificar -Flavinho, Jacques, Nilma, Valeria - outros, mal consegui ver: Edu, Artur, Marquinhos, Alcy, Pedro, Serginho... Mas se uma de nós via, já avisava: "olha o Pedro!" a gente festejava "vai, Pedro!", mesmo se não estivesse vendo.
Tentamos incentivar as pessoas ao máximo: "agora não tem perigo de furar o pneu!", "vai, que é só a corrida!", "O mais difícil já foi!", "vai, que você está bem!" e outras frases do gênero. A maioria das pessoas apenas sorria. Outras, respondiam mau-humoradas "'só'  42 km", é?"
Diglu um amigo, ironman experiente, chegou de cabeça rachada, roda entortada e puto da vida. 
"Fui atropelado!"disse ele, e começou a nos mostrar os danos.
Thelma perguntou "você vai desistir?"
E ele "Claro que não!"
Ela "Então o que você tá fazendo aqui? Vai embora, meu!"
Não precisou falar duas vezes. nem se despediu e pulou fora.
Quando a Nilma chegou, fizemos tanta bagunça que até a atrapalhamos um pouco. Fomos todas ajudá-la e ela não tinha por onde passar! Até o moço da organização passou um pito "não atrapalha, não atrapalha!". 
Ficamos até a chegada da Kelly. E nos emocionamos as quatro com o encontro. A ajudamos a tirar as sapatilhas e, logo na sequencia, demos aquele abraço e ela partiu pra maratona.
Logo depois, decidimos que nossa presença ali não era tão imprescindível. 
Foram perto de quatro horas que ficamos ali. mas passou muito rápido. Foi uma experiência diferente e acho que todo o triatleta, principalmente de Iron, deveria passar por ela pelo menos uma vez. (Continua)
Thelma, eu e Dri. Quase todas as bikes entregues. Dever cumprido.