segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Cada macaco no seu galho ou Onde os macacos se encontram


Cada macaco... (ilustração tirada do Blog Sopa de Idéias)
 O triatleta é um espécime bastante peculiar que pode ser visto em bandos nas madrugadas da USP, em cima de bicicletas, em algumas trilhas do Ibirapuera e em academias da cidade. São os habitats onde se pode encontrá-los com mais freqüência, pois é onde ficam à vontade. Ou, como reza a música, o “galho” onde deve ficar cada macaco.
Entretanto há situações que em que é necessário compartilhar o galho e isso promove encontros, no mínimo, inusitados.

Estrada dos Romeiros
Como o próprio nome diz, a estrada é deles. Assim, pelo menos uma vez por mês, eles vêm aos montes, simulando uma ida à Roma, carregando em suas carroças aparelhos de som turbinados de onde bradam músicas sertanejas narrando histórias tristes de amores, despedidas, jornadas, saudades, amigos e, claro, cavalos. Estes, e seus primos jumentos, também fazem parte do tour religioso. Ao longo da pista é fácil identificar os rastros que deixam pelo caminho. Há também bicicletas paramentadas com chupetas(?), ursinhos de pelúcia e outros souvenires intrigantes. Participam jovens, velhos, crianças, mulheres, chapéus, bonés, garrafas de cachaça, cobertores, estandartes, berrantes e até santos e santas.
E, de repente, no meio deste happening, surgem os triatletas, também fazendo sua peregrinação. Nossa Meca é outra: Hawaii, mas nos contentamos em sonhar com Floripa, Pirassununga ou, simplesmente, Santos. Mas nos vemos ali, dividindo o chão com outra turma. Eles nos olham espantados, rapidamente notam que não pertencemos à romaria deles mas, os mais atentos, perceberão que também há devoção em nossos olhos. Assim, na maioria das vezes, não há brincadeiras de mau gosto ou atrevimento. Seguimos cada qual com seu Deus, com sua oração, mantra ou ladainha (WIT- what it takes é a de alguns).
No final, pagamos nossos pecados na subida do “cala a boca”, enquanto os romeiros pagam suas promessas.


Riacho Grande – os cantores de karaokê
Ali, ao lado da represa, enquanto tiramos a bike do carro, vestimos capacete e sapatilhas, abastecemos as caramanholas e passamos protetor solar, a música no boteco em frente rola alta e umas poucas vozes desafinadas denotam o clima de fim de festa. Uma moça, vestida a caráter (ou seria melhor dizer falta de?), sai de dentro trançando as pernas. Sem a menor cerimônia, ela vomita. Num carro ali perto, um rapaz e uma moça fumam, discutem, gritam um com outro e ela chora. Sua maquiagem já se transformou numa máscara de pierrô.
Por uns 20 ou 30 minutos, triatletas e karaokeiros (karaokistas??) compartilham o estacionamento. Os primeiros começando o dia enquanto a família dorme, entre planilhas e quilômetros, suplementos e endorfinas, os outros, terminando a noite, enquanto a família dorme – entre tapas e beijos, cigarros e vômitos.
A troca de olhares entre os dois grupos não chega a ser hostil, mas não é tampouco amistosa. Parece que cada um olha para o outro e pensa: como eles podem viver assim?


Riacho Grande – pescadores
Tá estressado? Vai pescar! São os dizeres do adesivo que decora o Voyage 89 estacionado à beira da represa. Eles também levantam cedo, munem-se de paciência, alimentos, equipamentos e rumam pra beira da Billings.
A maioria instala-se ali, ao lado da ponte, já perto da entrada do parque. Pescam, mas a também fazem churrasco, levam a família, nadam e (já não se fazem mas pescadores como antigamente) colocam o som do carro alto e estridente no volume máximo.
Nós triatletas passamos pra lá e pra cá, pra cá e pra lá, sentimos o cheiro da carne sendo assada, ouvimos a algazarra das crianças na água, observamos aquele pescador que, como nós, persiste em sua atividade, incansável. Somos observados por eles com crescente indiferença a cada volta. Eles se acostumam como nosso ir e vir, nós nos acostumamos com o ficar deles.

Na praia

Biquínis mínimos, sungas e calções de tamanhos variados, grande profusão de barrigas máximas.. Eis que... O que é aquilo? Um pingüim? O Aquaman? Um ET? Não. Magro e emborrachado dos pés à cabeça, é um triatleta pronto para treinar.
Longe da beira, pra não trombar com os banhistas, o triatleta muitas vezes é perseguido e admirado por remadores (eventuais) de caiaques e botinhos de borracha, que costumam se aproximar pra ver que espécie de animal aquático é aquele.
O convívio costuma ser pacífico. Já a aproximação de lanchas e jetskis pode deixar o triatleta nervoso e agitado.


Ciclovia

Placa na ciclovia - (do blog De Verde Casa)
Muito se engana aquele que imagina que na ciclovia da CPTM os triatletas compartilhem o galho, digo, a pista apenas com seus parentes próximos – os ciclistas.
Ali os habitantes são outros mamíferos: roedores. As placas avisam logo no início do trajeto: cuidado com os animais silvestres – capivaras. E lá estão elas, tomando sol à beira do perfumado Rio Pinheiros, sem tomar conhecimento dos primatas sobre rodas.
Mas não são apenas as simpáticas capivaras que freqüentam o pedaço. Outros roedores, nada simpáticos, também atravessam a pista sem a menor cerimônia. Outro dia estávamos por ali e o mesmo rato (que parecia mais um cachorro) cruzou a pista na nossa frente três vezes.
Eca.

Outras
Estas são algumas situações permanentes em que invadimos ou compartilhamos os galhos alheios. Mas há outras, mais esporádicas: entrar no banheiro do posto de gasolina no meio de uma estrada – suada, de capacete e sapatilhas – enquanto o pessoal que veio de ônibus lá de Aparecida faz uma parada. Aparecer na piscina da academia com a roupa de borracha pra fazer um treininho pré prova. Parar no meio de um longão na chuva, ensopado e entrar numa padaria qualquer pra comprar um gatorade.
Por um lado, a gente vai se acostumando com os olhares incrédulos, mas, por outro, é preciso tomar cuidado pra não achar que somos mais donos dos galhos do que os outros macacos que os freqüentam conosco. Com exceção, é claro, do que não são macacos, são ratos.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Insônias



Atire o primeiro lexotan aquele, triatleta ou não, que nunca foi assolado por uma insônia.

Diversidade de insônias

Existem vários tipos de insônia. Há aquelas que vão junto com a gente para cama: encosta-se a cabeça no travesseiro, apaga-se a luz e pronto, lá está ela, sorrindo na escuridão. Outras nos despertam no meio da noite, como se já estivéssemos atrasados para o treino, e varamos a madrugada, até que os pássaros comecem a cantar e o dia a clarear. Outras – as piores - viram a noite com a gente, estraçalhando nossos sonhos de treino pela manhã e embotando nosso dia inteiro.

Há insônias por motivos óbvios, como as insônias de véspera: de viagem, de competição, do parto. Há as insônias de preocupação: problemas de saúde na família, dívidas, incertezas na vida profissional. Há insônias de paixão: seja de felicidade, porque o ser amado nos ama e não sossegamos o facho de tanto contentamento ou, pelo contrário, o ser amado não nos ama, então a tristeza nos inquieta e nos impede de dormir em paz. E, claro, há insônias que combinam várias dessas razões e mais outras tantas.

Insônia de triatleta

Os triatletas têm um tipo especial de insônia chamado “descanso também é treino”. Acordamos cedo todos os dias para correr e/ou pedalar e/ou nadar, trabalhamos, nos alimentamos, cuidamos dos filhos, então queremos, o mais cedo possível, nos colocar na posição horizontal, fechar os olhos e apagar. Só descansando adequadamente é que nosso corpo assimila os treinos. Além disso, costumamos estar exaustos por volta das nove da noite.

Mas o sono tem seus caprichos. E mesmo fazendo tudo direitinho, indo pra cama cedo, podemos ser surpreendidos por uma das piores espécies de insônia: o corpo está cansado, dormimos pouco na noite anterior, o cérebro já não está funcionando bem... mas não conseguimos desligar. Os pensamentos começam a ficar confusos, o corpo parece que está afundando na cama... estamos quase lá... quando, sem mais aquela, uma voz parece nos chamar e nos trazer de volta ao estado de alerta. Então caímos na besteira de consultar o relógio. “Oh, droga! Faltam apenas 4horas e 45 minutos pra eu acordar!” Pronto. Era o que faltava para piorar a noite. Começamos a contabilizar os prejuízos da noite mal dormida e isso nos deixa ainda mais despertos. Danou-se. A gente, que gosta tanto de controlar tudo, de medir (e aproveitar) o tempo em segundos e “derrubar” as planilhas de treino cumprindo tudo que está ali fica desesperado quando se depara com uma situação dessas: não mandamos no nosso sono. É simples assim. E como isso é complicado!

Minha insônia

Noite passada sofri uma dessas. Deitei exausta. A noite anterior fora mal dormida (caiu uma tremenda tempestade durante a madrugada em Brotas onde eu estava), de manhã os meninos e eu nos aventuramos por uma mega tirolesa, à tarde 250 km dirigindo de volta pra São Paulo e à noite 18 km de corrida no Ibira. Comi, tomei um banho e caí na cama. Nem era tão cedo. Cadê o sono que estava aqui? Puf, sumiu num passe de mágica. Panquequei na cama, virando de um lado pro outro – pensando em todos os temas possíveis: filhos, trabalho, marido, treinos, futebol, férias, encanamento, escapamento do carro, aniversário, vida após a morte...até...(não olhei no relógio para não me desesperar) apagar um pouquinho para acordar antes do despertador que iria tocar as 4h22. Levantei até mais disposta do que imaginava, me troquei e fui pedalar.

Alguma idéia?

Não é muito comum isso acontecer. Pode ter sido a adrenalina da tirolesa, o TNT que tomei pra não ter sono na estrada, as preocupações com minha vida profissional e também porque corri apenas um par de horas antes de deitar. Não estou acostumada e talvez tenha ficado com endorfina demais circulando pelo sangue. O mais provável é que tenha sido uma combinação de todos esses fatores. De qualquer modo, estou planejando fazer meus treinos longos de corridas às quartas à noite e às quintas de madrugada vou pedalar. Será que dá pra acostumar?

domingo, 2 de janeiro de 2011

Rápidas e rasteiras

Saí de férias e abandonei este blog. Pensei que iria ter mais tempo de escrever, mas incrível como a gente consegue se ocupar com tanto tempo livre. Quando se vê, o dia já foi e ainda é preciso providenciar jantar, traçar o jantar e ainda convencer os pequenos a irem pra cama. Na hora em que o movimento termina, só penso em dormir.

E como tenho dormido. Sem neuras. Treino na hora que dá. Estou descansada.

Levei meus filhos para aprender a surfar em Camburi. O professor, um surfista mais do que experiente e velho amigo meu - Rikka Costa, não só domou as ferinhas como conseguiu me convencer a tentar subir na prancha. E não é que eu consegui? Tá certo, foram três vezes, era um LONG BOARD mas eu fiquei em pé! É bom não ter medo de aprender coisas novas.

A filhinha adotada este ano – a Julinha – veio passar uns dias com a gente. Esta “adoção de coração” foi uma das melhores coisas de 2010.

E por falar em Julinha, dia desses aqui na praia, fomos dar uma corrida em Maresias. Fomos de carro até lá porque por aqui a estrada não tem acostamento e lá tem. Mas o movimento estava intenso, mesmo antes das 8 da manhã, e não foi um treininho propriamente relax. Uma hora mais ou menos depois que terminamos aconteceu um acidente feio por lá. Um bêbado, sem carta, resolveu fazer uma ultrapassagem bem no meio da muvuca. Pegou um cara de frente, em cheio. Parece que matou uma mulher. Péssimo.

Virei o ano bebendo, comendo chocolate e até um franguito à passarito de vez em quando. Vou voltar pra Esparta paulatinamente. Primeiro a cair fora: álcool.

Como é de praxe quando estamos na praia, enviamos uma embarcação com pedidos para Iemanjá. Fiz um pedido BEM EGOÍSTA. Óbvio, não vou compartilhá-lo com vocês. Por outro lado, minha promessa é pública: pretendo ser mais gentil este ano. Em primeiro lugar, com meu parceiro de vida mais próximo e importante: o marido, em segundo, com as pessoas. Copiei a idéia de uma amiga - Ana Castro. A meta é pelo menos uma gentileza por dia.

Terminei o ano esportivo com uma mudança importante: de técnico. Depois de quase quatro anos com o Emerson Gomes, passo a ser atleta do Wagner Spadotto. Continuo amando o Emerson e sei que fizemos um ótimo trabalho mas, como disse a ele, já me conformei com o fato de que tenho vários homens fixos na minha vida. O marido, por exemplo, não pretendo substituir pra dar uma variada... Mas o técnico, aí é possível!

O Wagner é um cara sério e competente. Neste ano conseguiu estar entre os poucos triatletas classificados pra Kona. E não só isso. Foi lá e fez bonito. Mas não foi por esta razão que eu quis tê-lo como técnico. Na verdade sinto que tenho uma grande afinidade com ele e que será muito interessante mudar a forma de trabalho. Serei mais exigida. Vamos ver.

O melhor post do ano é o que está no blog da Thelma. Não deixem de ler.

Então foi dada a largada pra temporada 2011. Não sei bem ainda o destino deste blog. Percebo que estou com vontade de escrever sobre outros temas que não os treinos e provas. A ver o que acontece.

Como não poderia deixar de ser, meu voto para 2011 é que as pessoas estreitem seus laços e alarguem seus horizontes.