domingo, 30 de agosto de 2009

Lições de uma segunda vez - Penha 2009

Acabo de chegar de Penha e, como disse o Lucena recentemente em seu blog, às vezes estamos tão impregnados pela experiência que não conseguimos escrever com clareza. Por outro lado, ainda estamos tomados pelas emoções (tão intensas e contraditórias) que uma prova como o 70.3 nos faz sentir.
Faz muita diferença conhecer a prova. A capacidade de se antecipar aos problemas é bem maior. Deu absolutamente tudo certo. Não passei por nem UM minuto de estresse. Arrumei minhas coisas com calma, tiquei cada item das minhas oito listas, não esqueci NADA em São Paulo. Cheguei ao aeroporto num horário tranqüilo, sem ser cedo demais, nem atrasada. Despachei a bike sem delongas. Deu tempo até de tomar o café com pão-de-queijo da promoção da TAM. Sentei numa fila de cadeiras sozinha e pude esticar as pernas e ler sossegada. O vôo não atrasou. Peguei a bike inteirinha. O taxista que me levou ao hotel foi simpático e já combinou de fazer um preço camarada na volta. Cheguei ao hotel e tomei um café da manhã de verdade. O quarto, conforme eu havia solicitado, era no cantinho mais sossegado.
Cada momento foi vivido com calma e quase sem ansiedade. Com expectativa, sim, mas sem angústia ou aquele nervoso todo. O horário da largada 9h30 facilitou ainda mais pra podermos nos aprontar com tranqüilidade.
Mais uma vez, pude desfrutar da companhia da Nilma e do Neto – casal que me acompanhou direto em Clearwater em 2008, fiquei mais próxima ainda do Marcos – meu grande parceiro de treinos neste ano e também conhecer mais Paulinha – que foi uma grande companheira: sem complicação, divertida, atenciosa e perfeita pra dividir um quarto, principalmente numa situação de véspera de prova. Como ela estava doente e é quase 20 anos mais nova que eu, brinquei de ser sua mãe . Também conheci a Simone e o André, casal de médicos de Jau, muito legais e várias outras pessoas. Nessas ocasiões, os hotéis, restaurantes, a feirinha ficam tomados pelos atletas e seus acompanhantes. As pessoas sabem que estão partilhando um momento especial de suas vidas e isso está no ar. É fácil começar a conversar: "puxa, será que o tempo amanhã vai estar assim?" "Vocês já pedalaram?" "O que acharam do vento?" Os locais, que estão recebendo a prova pela segunda vez, também pareceram estar mais interessados e com vontade de participar. No hotel em que fiquei, quando voltei, havia em cima da cama, uma mensagem de um aluno de quinta série, nos cumprimentando pela prova. Fiquei emocionada. E vou mandar um email pra ele – o Marcos Rodrigo, de 11 anos, da EE B Manoel Henrique de Assis.
O jantar que organizei junto ao seu Ardaldo, dono do restaurante Haus Heringer, também deu certo mais uma vez. Todo mundo foi, havia comida suficiente e o ambiente estava agradável, com a gente conversando, dando risada e relaxando antes da prova. Claro que dá pra melhorar. Achei o filé de frango meio duro e o molho um pouco apimentado. Mas seu Ardaldo mostrou ser uma pessoa que aceita críticas e sugestões, pois melhorou o atendimento em relação a 2008. Ano que vem, podemos melhorar ainda mais nossa parceria.
Tomei água, gatorade e comi uma grande quantidade de carboidratos por dois dias seguidos. Olhando as fotos, acho que consegui engordar antes da prova. Minha cara está bem cheinha! Dormi quase direto na noite da véspera. Acordei só no meio da madrugada pra um xixizinho básico e voltei a dormir até que o Fabio Rosa (técnico da MPR que estava lá acompanhando a prova) mandou um torpedo pra Paulinha mandando ela acordar.
Cheguei para marcar o número e fazer os últimos preparativos com tempo: abastecer quickdrink com água misturada com gatorade, colocar minha garrafinha de endurox, minhas bananinhas traficadas, alguns palitinhos de stiksy e três pedacinhos de batata cozida com bastante sal, embrulhados em papel alumínio (fora um monte de gel grudado na bike). Passei protetor solar (que não adiantou muita coisa – fiquei com uma linda marca nas costas), bodyglide pra não assar a nuca e chamois butter para não assar outras regiões mais delicadas.
Estava tudo tão certinho e sem sufoco que eu não estava conseguindo acreditar. Nem dor de barriga eu tive. (O intestino funcionou na hora e lugar certos). Pra não dizer que não me distrai, dei duas ratas. A primeira foi perceber que deixei o celular dentro da bolsinha da bike, na véspera, quando entregamos pra transição. Mas lembrei antes de estarmos muito longe, voltei lá e peguei sem problemas. A segunda foi na hora da largada. Quando estava chegando à praia, percebi que calçava os chinelos. Mas foi só voltar um pouquinho até onde ficam as sacolas e enfiá-los lá dentro.
Eu estava lá de novo e sabia o que me esperava. Estava excitada, mas sem nó no estômago.

No mar
Assim como no ano passado, foi uma pancadaria. O percurso era o mesmo. Um Y, ou melhor, um cabide de ponta-cabeça, sem o gancho. A primeira bóia marca o “pescoço” do cabide. Até aí muito empurra-empurra, um passando por cima do outro, mas tudo bem. Mas a segunda bóia que é o “cotovelo” do cabide... Nossa! Que sufoco. Tomei três socos na cabeça. A Nilma levou um gancho de esquerda no supercílio direito que arrancou seus óculos e a deixou com cara de mulher de malandro. Depois dessa bóia, as coisas acalmaram um pouco. Por outro lado, o mar se agitou. Terminei em 36m25s. 1min e 25s acima do ano passado.

T1
Fiz uma transição quase lenta. Por engano, quase levei a sacola da Paulinha (ela era 110 e eu, 111) mas, felizmente, os voluntários estavam atentos e me fizeram dar conta do engano antes de eu ir pra tenda.
Vesti a luva, o capacete e os óculos. Levei as sapatilhas na mão e calcei na área de monte. Não quis arriscar.

Pedal
O percurso era um pouco diferente do ano passado. Melhor, eu diria, já que não entramos mais na cidade. Vento a favor na ida - subida boa parte do tempo - e contra na volta. Uma boa combinação. Havia um momento, entretanto, no final das pernas da volta (cada volta tinha 4 pernas: ida e volta grande, ida e volta menor, parecido com a avenida portuária, em santos) que não era descida, o vento estava contra e era bem chatinho e cansativo. Mas logo chegava perto do parque, onde tinha gente, torcida e até (argh!!!) cachorros na pista.
Crianças ao lado da pista passaram 5 horas clamando pelas caramanholas: “Garrafinha, tia! Dá a garrafinha, tia!” Chegava a incomodar, tamanha a insistência e a quantidade de insistentes.
A fiscalização de vácuo foi severa. Muitas pessoas foram penalizadas. Várias, injustamente. A impressão que deu é que queria mostrar serviço. O problema é que a arbitragem estava muito mal-formada e não sabia direito o que é, de verdade, uma situação de vácuo. A elite masculina, por sua vez, usou e abusou deste recurso e ninguém foi penalizado.
Eu não fui. Fiquei quase todo o tempo pedalando só. No começo estava embolado e havia situações em que era difícil evitar o vácuo. Mas fugi sempre que pude. Marcos, Nilma e Julinha não tiveram a mesma sorte e foram penalizados. Injustamente. Ao Marcos isso, infelizmente, custou-lhe a vaga para o mundial.
Eu queria ter mantido uma média de 32 km por hora, mas não consegui. Fechei em 31,5. Não foi mal. O ciclismo, numa prova longa como esta, é o que decide a prova. Se você exagerar, fica quebrado na hora da corrida. Se for muito fraco, fica para trás e não consegue recuperar tudo depois. É um equilíbrio delicado.
Também, para mim, é o momento que dá pra pensar. Felizmente nada a respeito de trabalho ou problemas domésticos. Mas sobre a relação com o esporte, o sentido de estar ali, se submetendo àquela provação (não é à toa que se chama “prova”), o prazer misturado com a dor, a sensação intensa do momento, misturada ao desejo de chegar ao fim. Cada perna completada é para ser comemorada, cada volta, então, é para ser riscada da lista que está na cabeça: agora falta MENOS de dois terços do pedal! E eu também pensava: no Ironman, isso vai ser só a metade... Será que eu agüento?
Terminei em 2h53m31s.

T2
Ali, fui mais rápida. Desta vez, troquei os cadarços de elástico por cadarços normais, o Asics pelo Mizuno, a meia nova por uma velha e fina. Deixei o tênis quse frou no pé. Coloquei o boné e sai fora.

Corrida
Três dias de celebra, duas doses de accelerade na véspera, muita hidratação e alimentação no pedal ou muito desejo reprimido de correr. Não sei qual destes fatores mais influenciou minha corrida.
Entrei num transe e fui. Estava quente. O vento, quando a favor, dão a impressão de que o ar está parado, envolvendo e sufocando você. Mas não liguei. Segui em frente. As lesões do pé deram um “alô”. Ignorei.
Emparelhei com a Aline, uma atleta forte e mais jovem, logo no começo da primeira volta (eram duas de 10,5 km) e fomos nos perseguindo até quase o final dela. Foi bom. Entrei um pace bem cadenciado, e, na segunda volta, pude apertar um pouco.
Passei pelo Fabio Rosa e ele, me surpreendeu mandando um “vai, Claudia!” em alto e bom som. Quem conhece o Fabio, vai entender porque da surpresa. Ele é um cara bastante contido. Fiquei ainda mais feliz quando ele me disse, depois da prova, que eu tinha corrido muito bem. Vindo dele, tem valor agregado.
Nos últimos 4 kms, apertei ainda um pouco mais. Eu não pensava em nada só em ir em frente, cada vez mais rápido. Ultrapassei varias pessoas, que ficavam espantadas com eu ritmo. Principalmente os homens. Fiz 1h48m20s.
Cruzei a linha de chegada dançando. Estava tocando uma música bem swingada e eu simplesmente parei e dancei. Dancei feliz.


Pós prova
É só alegria. Níveis de endorfina altíssimos, assim como o astral. A gente fica largada, na área de dispersão, falando bobagem, colocando gelo nas lesões, mostrando as bolhas, trocando impressões, se cumprimentando uns aos outros, comemorando numa festa de bananas, bisnaguinhas, biscoitinhos de quinta categoria, regados a gatorade, água e suco. Felizes e fedidos. Até a hora que a vontade de tomar um banho fala mais alto.
Telefonemas e muitos torpedos carinhosos. De colegas triatletas ou, simplesmente, de pessoas queridas e próximas que acompanham, com um misto de incredulidade e admiração, essas minhas odisséias.
De quebra, logo após o banho, recebi uma massagem das mãos de uma fadinha surfista e naturóloga, chamada Giordana. Não poderia ter sido melhor.
Chope, lula à doré e sorvete com Marcos e Paulinha. Mais chope no Haus Heringer, aí também com Nilma e Neto. Brindamos à saúde e à amizade.
Malas prontas, despedidas. Uma pitada de tristeza, porque chegou ao fim. Por outro lado, é reconfortante saber que poderemos viver situações semelhantes muitas e muitas outras vezes. É bom saber que ainda é possível ampliar o rol de amizades reais (não virtuais!) ou estreitar ainda mais os vínculos que começaram de forma despretensiosa e superficial. É um dos elementos que faz a vida valer a pena: bons amigos.
Finalmente
Fui muito bem. Abaixei meu tempo em 1min20s em relação ao ano passado. Acontece que a prova foi mais difícil. E isso é fácil de confirmar. Basta ver, por exemplo, que a Vanessa Gianinni, segunda colocada ano passado (e campeã neste), fez um tempo 4 minutos mais alto este ano. Isso já é motivo mais do que suficiente para eu ficar satisfeita. Este ano fiquei em décimo sexto na classificação geral feminina. Acontece que as 8 primeiras colocadas eram da elite.
Fiquei em segundo na categoria (eram apenas três) apenas um minuto atrás da primeira, que é a Silvia Paller. Atleta de responsa, notoriamente forte. Como ela não quis a vaga pra Clearwater, levei de novo.
Este sucesso foi muito importante pra mim. Durante o ciclismo me dei conta de algo muito perturbador. Tenho medo de repetir as mesmas provas. Ainda mais provas como estas, que acontecem apenas uma vez por ano. Aos 45 anos de idade meu desempenho, de um ano para o outro, pensei, dificilmente irá melhorar. Percebi que estava receosa de me comparar comigo mesma, um ano mais velha. O que sinto é que consegui vencer o tempo por mais um ano. De forma legítima. Sem roubar. Treinando, me cuidando e usando a cabeça.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Blog fora do ar (mas no mar e na estrada!)

Caros leitores
Listas checadas, malas prontas, bike embalada, jantar da véspera organizado, massagem pós prova agendada (consegui uma massagista que vai me atender no hotel, depois da prova!!! morram de inveja!), filhos beijados e despachados, marido acostumado, chefe avisado, velas votivas acendidas, mamãe e papai na torcida, roupa de amanhã cedo separada, i-pod carregado... Xiii credo! Olha eu fazendo lista de novo!!!! Chega!
Meu número é 111. Fácil de lembrar. Quem estiver por lá, venha dar um alô. Quem não estiver, faça um pensamento positivo - das 9h30 até umas 15h, tá valendo.
Até a volta!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Síndrome pré-prova - sintomas

Quase não consegui blogar hoje. Michelle Obama e Black, a albina, nossas coelhas de estimação, invadiram meu escritório e roeram o cabo do teclado. Resultado: ele não funciona. Peguei então o teclado do Theo emprestado, e aqui estou eu.
Já estou com a síndrome pré-prova. Você conhece? Eis alguns dos sintomas:

- Déficit de atenção. Você começa a fazer uma reunião, a pessoa à sua frente fala seriamente sobre a proposta de modificação do projeto que ela enviou ao jurídico mas ainda não teve uma resposta. Isso, continua ela, vai implicar num atraso no cronograma e o tempo está ficando curto. Tempo! Quando ela diz esta palavra, você começa a viajar (“tempo... que tempo será que vou fazer em Penha? Será que vai ser melhor do que no ano passado?”). A pessoa continua a falar. Você permanece impassível, com cara de paisagem interessada, mas está lááá em Penha.

- Conversa monotemática. “Bom dia, tudo bem?” diz alguém por educação, no elevador da empresa. “Tudo”, diz você, “mas eu estou com uma dorzinha no calcanhar, sabe? Não sei se vou poder fazer bem a prova no sábado, sabe? Porque no ano passado bla bla bla...”, continua você, para o espanto do motoboy que veio fazer uma entrega.


- Pesadelos com a hora da largada. Você está lá, mas esqueceu os óculos de natação. Ou não consegue chegar na praia. Ou não sabe onde diabos foi parar sua bicicleta. Terrível!


- Produção obsessiva de listas. Este é um sintoma clássico, associado ao medo de esquecer alguma coisa. Sou acometida por ele mesmo quando vou fazer uma provinha de 10 k. Ontem fiz 8 listas com os seguintes títulos: “de vestir”, “de ingerir”, “de passar”, “também não esquecer de”, “comprar antes de ir”, “sacola transição bike”, “sacola transição corrida”, “sacola natação”. Ta bom ou quer mais?


- Encanação redobrada com a alimentação. Será que não comi de mais? Será que não está faltando carboidrato nesta refeição? Xii, exagerei no doce! Será que não vai me dar um piriri??


- Dúvidas sobre a preparação. Você começa a se questionar sobre seus treinos: será que treinei o suficiente? Não deveria ter feito mais subidas além das 189 Químicas que fiz na semana retrasada? Meu volume de 70 kms por semana foi suficiente? Eu não deveria ter treinado mais vezes com a roupa de borracha? Não é aconselhável compartilhar esses delírios com seu técnico. Ele é capaz de deixar você sem condições de fazer a prova se souber disso.


- Contusões e doenças. Pisou no tapetinho do banheiro e ele deslizou? Você já se imagina caindo e quebrando o cóccix! Espirrou? Você já teme que seja uma pneumonia dupla (não tem tripla?), uma tuberculose ou (já pensou?) a gripe suína. Válido também para doença de filhos. E se um deles fica doente? Imagina a culpa da mãe judia! Largar o coitadinho com dor de barriga com o pai pra ir competir como amadora?


- Consulta diária à previsão do tempo. E olha que não é a da Josélia. Mas todo o dia a gente olha pra ver se não vai chover, se vamos sofrer com o vento ou se vai estar um sol de torrar. Como se tivéssemos algum poder de mudar o clima ao tomar conta dele assim, tão assiduamente.


Brincadeiras à parte, gosto muito de entrar neste clima pré-prova. Começo a descansar minha cabeça das coisas sérias do cotidiano e a me concentrar nas minhas oito listas e nas providências que tenho de tomar. Claro que dá ansiedade, receio de não conseguir preparar tudo a contento. Nisso, a idade e a experiência pesam a favor. Faço um planejamento e busco me organizar com antecedência suficiente não só para fazer as coisas com calma, mas, principalmente, para poder lidar com os imprevistos que, invariavelmente, acontecem.
Então é isso. Se eu não escrever mais esta semana é porque estou monotemática ou porque estou ocupada com a preparação.


sexta-feira, 21 de agosto de 2009

24 dicas para principiantes

Não me considero uma pessoa tão experiente assim, mas talvez até por isso, consigo me colocar na pele de alguém que está fazendo sua primeira prova de short triathlon e dar uns toques úteis.
Vai aí uma tentativa de ajudar os iniciantes:
1. Comece a fazer seu check list uns dois dias antes da prova. Segue abaixo uma sugestão de lista. Na véspera, deixe tudo separado.
2. Hidrate-se na véspera, mas não exagere. Se você ingerir muito líquido depois das 17h30 – 18 horas, é provável que tenha de acordar algumas vezes no meio da noite pra fazer xixi e aí, baubau pras horas de sono tão necessárias.
3. Imagine todas as etapas do dia da prova: desde o momento de acordar até o cruzamento da linha de chegada. Não precisa ser em “tempo real” mas é bom que você consiga pensar o máximo de detalhes.
4. Se for usar roupa de borracha, leve um condicionador vagabundo para passar no corpo – isso facilita na hora da transição – a roupa escorrega numa puxada só!
5. Leve uma fita, sacola ou outra coisa de cor berrante que possa ser amarrada perto da sua bike. Caso não haja um lugar onde amarrar, procure um ponto de referência que possa ser fácil de identificar. Assim, quando você estiver saindo meio zonzo da natação, corre menos risco de passar batido por sua bike.
6. Deixe sua bike numa combinação de marcha leve para poder sair com mais facilidade.
7. Organize suas coisas na transição do modo que achar mais prático e rápido para você. Verifique desde a posição do capacete na bike, até, por exemplo, se prefere colocar a faixa com o número de peito em cima ou embaixo do tênis.
8. Passe um bom protetor solar. Mesmo que um pouco saia na água, é sempre melhor do que nada. Só não passe na testa. Pode escorrer e entrar nos seus olhos.
9. Costumo colocar um pouquinho de vaselina na boca do tênis e da sapatilha pra deslizar na hora de calçar. Também é bom usar vaselina ou bodyglide na nuca, axilas e virilhas para evitar assaduras.
10. Não se preocupe com o frio. Na maioria das vezes a adrenalina é tão poderosa que só percebemos a temperatura logo na largada.
11. Quando a natação for no mar, observe como pessoas mais experientes que você estão se posicionando em relação à primeira bóia, ou pergunte para quem conhece como está a correnteza, de modo que você possa usá-la a seu favor.
12. Caso seja um nadador rápido e com experiência de competir no mar, posicione-se mais à frente. Se não, deixe a boiada estourar e vá na sua. Pode ser muito aflitivo sair nadando no meio daquela muvuca!
13. Tente não perder a bóia de vista. A cada 7 ou 8 braçadas levante a cabeça e tente visualizá-la. Infelizmente não há aquela faixa pintada no chão pra gente seguir o caminho... Seguir os outros pode ser frustrante. Se o primeiro erra, tooodo mundo erra.
14. Se possível, não engula água. Mas se isso não puder ser evitado e a água entrar na sua garganta, engula de uma vez, sem medo de ser feliz!
15. Saindo da água, abaixe a roupa de borracha até a cintura e vá embora!!
16. Na corrida dentro da transição, vá chamando por ajuda para tirar a roupa de borracha. Os voluntários às vezes marcam touca. Não custa nada intimá-los “ajuda! ajuda! ajuda!”.
17. Chegando à sua bike, sente-se e jogue as pernas pra cima. O voluntário deverá saber puxar sua roupa de uma só vez.
18. Durante o pedal, não se esqueça da hidratação. No caso de uma prova curta não é preciso levar muito coisa. Uma caramanhola é mais do que suficiente. Nem precisa estar cheia. Mais do que isso, é peso morto que você vai carregar.
19. Atenção aos fiscais! Triathlon é, na maioria das vezes, uma prova de contra-relógio na qual o vácuo não é permitido. Infelizmente muita gente faz uso deste subterfúgio e, por outto lado, há muitos fiscais inexperientes, que não sabem quando é, ou não, vácuo. Portanto, fique esperto e jogue limpo pra não ser penalizado!
20. Antes de terminar o percurso da bike, coloque uma marcha mais leve para girar e deixar a perna mais solta. Isso facilitará o início da sua corrida.
21. Na corrida, o primeiro quilômetro pode ser meio esquisito. Parece que a perna está meio fora do lugar. Às vezes leva um tempinho pra encaixar. Não se preocupe. A sensação passa e aí você pode entrar num ritmo um pouco mais forte.
22. Mesmo que esteja cansado, pense “agora falta pouco”! Afinal, você já fez mais de 2/3 da prova.
23. Hidrate-se no começo da corrida e em todos os postos se estiver quente.
24. Festeje sua chegada!
Sugestão de checklist
Natação
  • Óculos
  • Roupa de borracha
  • Touca da prova
  • Condicionador
Pedal
  • Capacete
  • Sapatilha
  • Óculos de sol
  • Caramanhola
  • Alimentação
Corrida
  • Nº de peito numa faixa ou preso a uma camiseta
  • Boné
  • Tênis
Geral
  • Protetor solar
  • Vaselina/bodyglide
  • Roupa seca pra depois da prova
  • Gel
  • Máquina fotográfica pra tirar uma foto sua no pódio
Esqueci alguma coisa? Sim! have fun!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

As previsões de Josélia

Vocês conhecem a Josélia Pegorim? É uma pessoa muito especial, principalmente para nós que treinamos outdoor. Josélia é a mulher do tempo, ou melhor, da Climatempo. Não preparo minha roupa de treino se não ouvir o que ela tem a dizer.
Dia lindo, sol brilhando, calor ao meio-dia. Mas Josélia diz “O dia vai ser quente mas a madrugada vai ser ge-la-da”. Deixo preparadas minha jaqueta corta-vento mais quentinha, minha segunda pele e uma meia-calça de seda pra por baixo da roupas de ciclismo, touquinha, pra debaixo do capacete. Recebo um torpedo de uma amiga “Clau, esquentou! Você vai pedalar na madruga? Eu vou!”. Respondo “Vou sim. Esquentou, mas vai esfriar. Agasalhe-se!”. Batata. Josélia acerta em cheio. E eu não passo frio em cima da bike.
Num sábado, tenho corrida depois do pedal. Josélia avisa: “Atenção! O dia vai começar frio, mas a temperatura vai subir bastante!”. Levo o protetor, e não me queimo.
Na última segunda, ela afirmou: “Vai chover durante a madrugada”. Pensei: “Droga. Não vai dar pedal”. Mas NÃO acordei as 4h20m à toa. Dormi um pouco mais e deixei bike no rolo da sala, me esperando pra pedalar. Batata. Choveu mesmo.
Sou fã dela. Confio tanto na previsão que, muitas vezes, programo meus treinos de fim-de-semana considerando o que ela disse. Estávamos num sábado desses USP e o sol estava radiante. A MPR havia programado um treino de bike na manhã seguinte, no Riacho Grande e o pessoal estava combinando de ir. Avisei “A Josélia disse que há grande possibilidade de chuva este domingo. E se tem um lugar no mundo que chove, é lá no Riacho...” Ninguém me levou a sério... Disseram que eu estava “secando” o treino (era melhor dizer molhando, em todo o caso). Dito e feito. Desabou um aguaceiro. Felizmente, não perdi meu tempo indo até lá, como uns e outros que não levaram a Josélia a sério.
Gosto dela não só porque ela acerta na previsão, pela forma como ela descreve e explica os fenômenos metereológicos mas, principalmente, pelo jeito divertido e bem-humorado com que ela comenta as reações das pessoas frente ao clima.
Outro dia, ela falou uma coisa que eu gostei muito. “Bom é ter variedade: uns dias de sol, uns dias de chuva, um pouco de calor, um tico de frio... O que não dá é pra ter muitos dias de sol e calor, ou muitos dias seguidos de frio ou de chuva... E a gente deve aproveitar o que cada clima tem de melhor. Se está frio, vamos aproveitar pra curtir um vinho, ficar mais em casa, ver um DVD... se está calor, vamos sair e passear, tomar sorvete... em vez de sempre reclamar que não está do jeito que a gente queria. Sou a favor da diversidade...Diversidade de pessoas, de opiniões... A diversidade é positiva!”. Assino embaixo.
Hoje, por exemplo, estava um dia cinzento, úmido e friozinho. Ótimo pra correr num Ibirapuera vazio, florido e com cheiro de terra molhada. Uma delícia. Fiz 16 km feliz da vida, agradecida por começar o dia assim. Na seqüência, o sol apareceu, alegrando a manhã (e não prejudicando o treino!).
E viva a Josélia. Quando a escuto na radio (Eldorado) parece que estou ouvindo uma velha e querida amiga.
Mas eu não ouvi a previsão para esta madrugada. Agora estou aqui, sem saber que roupas separar pro treino de amanhã.

sábado, 15 de agosto de 2009

Penha, em 2008 - 1ª parte

Quando fui para o 70.3 de Penha, já tinha nas costas um ano e meio de participações em provas de triathlon – shorts, na maioria, e alguns olímpicos. Não tinha mais medo de errar na transição, nem de atrapalhar ninguém. Acreditava que seria capaz de terminar a prova, mas não sabia em que condições.Logo que me inscrevi, Emerson, meu técnico, disse: “Vamos pegar a vaga pra Clearwater, hein!”. Eu sabia vagamente do que ele estava falando. Não dei muita bola. O 70.3 de Clearwater é o campeonato mundial que acontece no final do ano, na Florida, para o qual só podem se inscrever os atletas qualificados em uma das 20 e tantas provas de 70.3 que acontecem ao longo do ano pelo mundo afora. Cada prova coloca em jogo certo número de vagas. Essas vagas são distribuídas pelas categorias (faixas etárias de 5 em 5 anos) em quantidades proporcionais aos números de inscritos.Quando a prova foi se aproximando, ele voltou no assunto: “Não se esquece de levar os dólares. Nós vamos pegar esta vaga!”. Parênteses para explicar: algumas horas depois da prova as pessoas qualificadas são chamadas para fazer sua pré-inscrição no mundial e, para isso, precisam ter o dinheiro em espécie. Espécie verde. Dólares.Não tinha muitas esperanças de levar a vaga. Minha categoria teria apenas duas e a primeira já era da Viveka – de quem perdi todas as vezes em que competimos. A segunda, me disseram, seria muito difícil também pois havia duas candidatas fortíssimas. Mas, pelo sim, pelo não, comprei os tais dólares.Fui para Penha sozinha. Nem marido, nem filhos, nem pais. E, apesar de sentir a falta deles na hora da torcida, foi bom. Pude me concentrar totalmente na prova. Passear na feirinha com calma, cumprir todos os rituais pré-prova sem ter de dar explicações para ninguém.Eu estava livre, leve e solta e convivi com diferentes pessoas (que conhecia apenas de vista) e me diverti. Sai do aeroporto rachando um taxi com o Thiago, almocei com a Paulinha, Gabriel e Pedro, jantei com Beto, Juliana, Gra, Junior e Leandro, peguei carona com o Armandinho pra ir pra transição, tomei café com o Nickolas e o Douglas, voltei da prova com o Nando e assim por diante. Também inventei um jantar na véspera da prova que organizei junto com a Gra ainda em São Paulo. Foi um sucesso. O lugar era muito agradável, a comida (feita por encomenda) estava gostosa, todos os atletas da MPR foram e acabou sendo uma confraternização. Foi tão legal que este ano estou repetindo a dose.Na noite anterior à prova, quando encostei a cabeça no travesseiro antes de dormir ,passei mentalmente todas as etapas e, principalmente, as transições. Nesta mentalização, esqueci de pegar os óculos escuros ao sair para pedalar. Adivinha? Na prova, esqueci deles mesmo!O dia amanheceu resplandecente. Uma surpresa para quem tinha, no dia anterior, comprado roupas de frio para pedalar, pois o tempo estava tenebroso: frio e garoento.Empurrei um café da manhã goela abaixo – não tenho fome às 5 e meia! Alguém tem? Sim! O Nickolas, meu colega de espelunca olímpica, bateu um pratão de macarrão àquela hora. Assisti incrédula. Fiquei também observado o que a Mariana Ohata iria comer, mas a mãe dela foi logo avisando – iiiihh ela só come tranqueira! Melhor você não imitá-la.O clima de uma prova dessas é totalmente diferente do que eu estava acostumada. Tem assim uns ares internacionais, sabe? Você não sente, quando está num aeroporto, como se estivesse numa terra familiar, mas, ao mesmo tempo, um pouco estrangeira? É assim.Depois de fazer o “body marking” – escrever o número do peito nos braços, pernas e as letras da sua categoria nas pernas, a gente vai cuidar dos detalhes: abastecer a bicicleta (que foi entregue no dia anterior) com comes e bebes, encher os pneus, ver não esqueceu de nada, tirar a roupa civil e vestir a de borracha, ficar com dor de barriga e vontade de fazer xixi... essas coisas.Na praia, o sol despontava num céu inacreditavelmente azul. Alguns entraram na água para sentir a temperatura, dar uma soltada nos braços e encaixar melhor a roupa de borracha. Não eu. Pra que sofrer duas vezes com água fria? Entro só depois da buzina. Nessa hora a gente conversa, mas não sabe nem o que está dizendo. Os olhos também não param em canto nenhum. Pequenos gestos: subir o zíper da roupa de borracha, ajeitar a toca, limpar os óculos, preparar cronômetro, engolir um gel. Abraços, preces, preocupações.Toca a buzina. Sai a boiada. Seiscentas pessoas ao mesmo tempo, indo pra mesma bóia. É uma guerra. Pancadaria. Ainda bem que eu tinha me preparado pra isso: “vou levar, mas também vou dar”. Cotovelada – braçada –tapa – braçada – encontrão - braçada – empurrão -braçada. Lá pelas tantas alguém segura as minhas pernas e joga pro lado! No contorno da primeira bóia o compasso é cotovelada empurrão chute – braçada – tapa cotovelada encontrão – braçada. Não me importo. Não sofro. Faz parte do jogo. Ninguém está bravo ou ofendido. Não é pessoal. Saio da água em 35 minutos. Melhor do que esperava. Quase não encontro minha sacola no meio de tantas outras iguais. Corro pra tenda da transição. Tiro a roupa de borracha com ajuda, passou a chamois butter pra não ficar assada, coloco os manguitos porque tinha medo do frio, sapatilha, capacete bike. Esqueço os óculos. A saída bike era numa subida de paralelepípedos. Pode?! Levei as sapatilhas na mão, passei a linha de monte, vesti as sapatilhas com calma e saí, ladeira acima. Durante o pedal me alimentei bem, me hidratei sem parar e mais do que as pernas, usei a cabeça. Mantive um ritmo confortável. Eram cinco voltas de 18 km. Conheci a Nilma , conversei com um ou outro atleta mais simpático e menos competitivo. Isso de ter o nome da gente no número de peito (no caso, costas) é muito legal. Me diverti. Curti a prova. A Kiki, que estava assistindo a prova, comentou comigo depois que não se conformava de ver que eu estava sorrindo o tempo todo.

Penha, em 2008 - 2ª parte

Terminei o pedal inteira. Quer dizer... Faltava metade do meu pé direito, que estava dormente. Fui pra tenda, coloquei meia, tênis e boné, passei protetor solar e pernas pra que te quero.
O percurso começava e terminava dentro do Beto Carrero World e isso foi meio complicado, porque o parque estava aberto ao público. Ao público não-atleta e, pelo jeito, muito pouco familiarizado com este tipo de evento. Então, embora houvesse uma sinalização indicando o caminho e staff avisando pro pessoal não ultrapassar a linha, não adiantava. Crianças, idosos, mães com carrinhos de bebê, pai levando filhos pelas mãos, passeavam desavisados por nosso trajeto. Não tive a menor dúvida. Fui buzinando o tempo todo: “ói eu! ói eu! Ói eeeeu!”. Assim consegui evitar vários acidentes.Na saída do parque, o Emerson, meu técnico, falou “Agora você está em casa!”. De fato, a corrida sempre foi o meu forte. O plano era começar moderado, até o km 4, aumentar progressivamente até o 7 km, fazer um ritmo forte dali até o 17km e depois ir pra morte.
Ainda dentro do parque, ultrapassei uma das minhas concorrentes. Ela tinha quebrado. Pensei “humm, minhas chances de pegar a vaga, agora, aumentaram!”. E me animei.
Acontece que meu pé, além de dormente, ficou inchado depois dos 90 quilômetros pedalando. O incômodo do pé apertado foi ficando insuportável. Lá pelo km 5, não agüentei mais. Parei, tirei a meia só do pé direito, enfiei no bolso lateral, e segui.
Encaixei um ritmo bom logo de cara. Sem esforço. Fui passando alguns “leões de treino” (caras que sempre querem treinar forte, mais forte do que está sendo pedido, mas, na hora da prova, não agüentam) que quebraram.
Tomei um gel a cada 7 km, bebi em todos os postos, pelo menos um pouquinho, alternando água e gatorade. O sol estava pegando. Eu nunca tinha comido durante uma corrida, mas senti que meu corpo precisava de sal, então comi uns pedacinhos de biscoito.
Lá pelo 14 km meu pé sem meia começou a incomodar. Uma bolha estava em formação no meu calcanhar.
No km 17 a bolha estourou e começou a arder. Faltavam 4 km e era a hora de dar o máximo. Fiz um trato comigo: eu não tenho pés. Meu corpo termina no meu tornozelo. E corri. Corri. Ultrapassei uma atleta da minha faixa etária (vi pelas letras na perna) fazendo vento. Corri. Cheguei. Feliz da vida. Inteira. Só o pé que sangrava.
Fui me hidratar, me alimentar, colocar gelo nos pés. Peguei a medalha e a camiseta e saí da área de chegada para comemorar.
Não sabia minha classificação. A Kiki achava que devia estar em segundo, portanto, a vaga seria minha! Fiquei animada. Como os resultado estavam demorando pra sair e eu estava louca pra tomar um banho, resolvi ir embora e voltar mais tarde pro momento da convocação das vagas. Combinamos de almoçar no mesmo lugar onde havíamos jantado na véspera. Queríamos tomar um chopinho, claro!
Fui pro hotel e enviei um torpedo para várias pessoas contando que eu tinha terminado bem e que tinha chance de pegar a vaga. Mandei um pro Emerson, agradecendo todo o trabalho e a força que ele me deu nos últimos meses e perguntando se ele achava que eu tinha chance de pegar a vaga. Ele respondeu “Claro que tem, Claudia! Vem pra cá!

Penha, em 2008 - 3ª e última parte



Fomos almoçar e o Beto, que tinha ficado na chegada até mais tarde, me disse “Eu vi sua classificação. Você ficou em quinto.” Murchei um pouquinho. Mas pensei “ah, tudo bem. De qualquer jeito, foi ótimo fazer a prova!”. E mandei novo torpedo para amigos e familiares avisando que eu NÃO tinha pego a vaga. E comecei a almoçar sossegada.
Aí o Emerson manda mais um torpedo: “Clau, vem pra cá que já vai começar”. Não entendi nada. O que ele queria comigo? Eu tinha ficado em quinto! Só iria ter vaga se três pessoas desistissem.
Continuei comendo tranqüila. Dali a cinco minutos, outro torpedo :”Clau, você vai perder a vaga! Vem já!”. Bom, com ele tão categórico assim, era melhor ir até lá (se você não está na hora que chamam seu nome... baubau. Perde a vez!). O Leandro, que havia feito a prova, estava na mesma situação que eu. E nenhum de nós estava de carro. Tivemos de incomodar o Beto e a Juliana que mal tinham acabado de comer.
O dono do restaurante me ofereceu um chope. Não podia recusar. Engoli feito uma alcoólatra tendo uma recaída.
Na entrada do parque, trânsito. O celular toca. É o Emerson, desesperado “Claudia, vem pra cá!!! Já começou!!!! Vão chamar a sua categoria!!!”. Pulamos do carro em movimento, Leandro e eu. Tiro o chinelo, vou descalça, com meu pé todo machucado.
Correndo, não, voando, com o celular: “Onde é? Onde é?” “ É no Wild West! Vem rápido!”. Perguntamos para uns turistas: “Onde é o Wild West????
Eles: “Wild West? Mas não tem show lá, agora! Tem show ali!
Nós: “Não, não! Não queremos show!! Onde é o Wild West????
Eles: “Ah, é por ali”.
Chegamos! Estava ainda na categoria dos 30 – 34. Encontro o Emerson. Estou esbaforida, exausta e quase brava.
Eu: “Emerson, eu fiquei em quinto! Porque essa correria toda?!
Ele: “Não, você ficou em segundo!
Eu: “Não, o Beto viu, eu fiquei em quinto!
Ele, categórico: “Não, você ficou em segundo!
Eu, começando a entender: “Quer dizer que a vaga... é minha?
Ele: “É, a vaga é sua!
Eu: “A vaga é MINHA???
Ele: “É, é SUA!!!
Então, me puxou pela mão e mostrou a classificação. Eu estava mesmo em segundo.
Fiz o maior carnaval. Abracei o chefe, pulei, gritei. Leandro também conseguiu a vaga. Ainda bem que chegamos a tempo. Uf.
Logo em seguida, fui chamada ao palco para pegar meu troféu e fazer a pré-inscrição. O pessoal fez da MPR maior festa.
E foi assim. Final feliz. Troféu na mão, inscrição paga. Só tinha um problema. Eu não tinha visto pro USA e meu passaporte iria vencer em breve. Mas isso já faz parte da história de prova de Clearwater!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Correr é um vício?


Este texto escrevi há alguns anos, quando tive uma fratura por estresse e fiquei no estaleiro por mais de dois meses.

Geralmente, aos vícios é atribuída uma série de problemas. Vício tem conotação negativa, são associados a prejuízos de alguma natureza: financeiro, da saúde, moral. Os vícios corrompem, os viciados são fracos. Dependentes do prazer proporcionado pelo vício, destroem sua vida e seus vínculos. O vício é o centro da vida do viciado – tudo gira em torno de sua satisfação. Será que com a corrida é a mesma coisa?
Quando a corrida ganha centralidade na vida de uma pessoa, os outros componentes passam a girar em torno dela. O viciado, pra viabilizar a manutenção de seu vício, adota um estilo de vida: procura dormir bem, alimentar-se de modo saudável e manter uma rotina de treinos. O corridaddicted quando bebe, quase nunca passa da conta e, fumar, é praticamente impossível.
Os drogados, alcoólatras e os jogadores compulsivos afastam-se da família e dos amigos. Têm vergonha de sua condição: não querem que ninguém testemunhe sua decadência. Pais não querem envergonhar seus filhos, não podem servir de modelo e não querem exercer má influência.
Os corredores, pelo contrário, são exemplos para os cônjuges e filhos. Têm orgulho de sua disposição física, incentivam suas crias e parceiros a assisti-los (nas competições) e a participar. Claro, podem ser um pouco chatos, tentando convencer os amigos a mudar de hábito... (mas ser chato, não é prerrogativa de corredor).
O vício é solitário. A corrida também. Mas, embora seja um esporte individual, cada vez mais, tem-se tornado um meio de conhecer pessoas e conviver. Quem corre, pode até correr sozinho, mas sempre vai encontrar outro corredor no seu caminho e trocar olhares cúmplices. Se estiverem vestindo a camisa da mesma prova, então... O sorriso é inevitável e ambos se cumprimentam silenciosamente, como a dizer “eu também estive lá, sei como foi!”
Os viciados, por não terem a condução de seu próprio destino, passam por cima dos sentimentos de quem está próximo. Tornam-se individualistas, egoístas. Já os viciados em corrida, mesmo quando entram numa competição e competem consigo mesmos, muitas vezes mudam o próprio ritmo para poder “levar” um corredor que esteja desanimando a voltar a correr, pois a chegada é logo ali. E uma prova é sempre um evento especial, um encontro de pessoas que vivem e sentem a corrida de modo semelhante – uma confraria.
Os viciados tentam lutar contra o seu vício e, para vencê-lo, precisam de determinação, disciplina, força de caráter, persistência. O corredor, para manter o seu vício é que precisa disso tudo.
Sim, a tal da beta-endorfina parece não ser pouca coisa. Dá prazer, uma sensação de dever cumprido e satisfação. Melhora o humor e a disposição para enfrentar as tarefas do dia é muito maior. Dorme-se melhor. Mas, diferente das drogas que são ingeridas – e viciam – esta é produzida pelo próprio corpo, circula no sangue sem causar mal algum ao organismo.
Talvez a semelhança entre os viciados em geral e o viciado em corrida apareça no momento em que este segundo precisa, por alguma razão, se abster de correr por algum tempo. Para o viciado em corrida, ter de parar é quase tão difícil quanto para os outros. Pois, além de ficar sem o prazer físico propiciado pela beta-endorfina e pela sensação de bem-estar é tirado dele um dos eixos organizadores de sua vida. E aí está seu maior desafio: como, apesar de não poder correr, manter-se saudável, equilibrado e em atividade?

domingo, 9 de agosto de 2009

Corridas e medos

Não tenho conseguido escrever muito sobre meus treinos de corrida. Não tenho conseguido correr direito. A dor no tornozelo vai e volta. Não dói quando eu corro, dói depois. Uma dorzinha nas laterais do pé, subindo um pouco pela panturrilha. É suportável, mas incomoda, por exemplo, na hora de dormir.
Fico preocupada de não treinar direito. Fico com medo de não voltar a correr bem. Aos 45 anos, manter o ritmo é uma conquista, já que a tendência é piorar, afinal de contas. E quando a gente tem essas lesões que nos colocam fora de combate por um período prolongado é cada vez mais difícil reconquistar aquela passada, agüentar aquele pace que antes parecia natural.
No esporte amador – triathlon, biathlon, travessias ou a corrida mesmo (que são os que tenho praticado) – a maioria de nós compete de farra, mas compete. Compete um pouco com os outros mas, a maior competição é consigo mesmo. A gente presta atenção, por exemplo, quando faz um mesmo percurso ou uma mesma prova, para ver se melhora o próprio tempo. Comparamos nossa colocação com relação aos adversários: “Puxa, eu sempre ganhou daquela figura... como é que pude perder pra ela hoje?!”
Então confesso que estou um pouco temerosa de me frustrar na prova de Penha, daqui a 20 dias. Fui bem o ano passado, tive um resultado melhor do que esperava. Foi meu primeiro meio iron, eu estava bem treinada, mas não tinha muitas expectativas de resultado. Queria terminar. Agora estou achando que meu resultado não vai ser tão bom e eu vou ficar chateada.
No fundo, no fundo, o maior temor é o de estar correndo contra o tempo. Da chegada de uma hora em que não possa correr ou pedalar. Uma lesão crônica, uma limitação na visão, a osteoporose que assola minha família. Vixe. Estou pessimista hoje.
Por isso estou aqui, escrevendo e buscando exorcizar esses temores.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Viciada E traficante

Tudo começou assim, inocentemente. Durante os treinos, eu consumia uma ou duas. Depois, passei a precisar mais e consumia também depois dos treinos. Logo, a freqüência se tornou diária: antes, durante e depois dos treinos e também no meio da tarde e no meio da manhã. Agora, chego a encarar umas sete, no mesmo dia.
Experimentei muitas variedades. Umas mais escuras e mais pesadas, outras mais leves e suaves. Até que descobri uma realmente especial e fui atrás do produtor, na divisa com o Paraná. Negociamos um bom preço e ele me passou o contato de um fornecedor que entrega a mercadoria semanalmente no centro da cidade.
Nos treinos, alguns amigos me pediram para experimentar e eu deixei. Muitos também se viciaram e eu passei a fornecer para eles. Afinal, não me custa nada.
Nas últimas semanas o fornecedor desapareceu. Não atendia o celular, não retornava os meus recados. Os triatletas começaram a me pressionar, estavam todos precisando da mercadoria.
Comecei a buscar outros fornecedores, mas nenhum tinha aquela variedade, por aquele preço.
Finalmente, depois de desesperada insistência, consegui contatar o produtor que acionou o fornecedor e ele reapareceu. Pude me reabastecer e aos meus amigos também. Comprei sete caixas de 1,8 kg e já passei todas adiante. Fiquei apenas com uma.
Não, não é nenhum suplemento miraculoso, nem uma cápsula com pozinhos brancos, nada que possa ser fumado, nem aspirado.
Mas sim, melhora a performance, pode ser consumida livremente nos treinos ou fora deles. Em suas 36g tem 77 kcal, 20 g de carboidrato, 0,9g de proteína, 1,7 g de fibra alimentar, zero açúcar e zero gordura. Só perde pro GU, que tem sódio e potássio. E não é enjoativa. Adivinhou?
É a nossa bananinha!
A marca que “trafico” é a tribom, que descobri numa viagem para a praia e, realmente, faz o maior sucesso entre os triatletas e também no time futebol doméstico.
Estou sempre aberta a novas experiências, então, se alguém conhecer alguma marca boa (que não seja tachão nem paraibuna, as mais conhecidas), por favor, me passe o contato do traficante.
Em tempo: hoje no treino encontrei o Fabio e a Patê (que também voltaram de L'Etape du Tour) e me contaram que a bananinha fez sucesso além de nossas fronteiras. Antes de viajarem Patê pegou uma caixa comigo - e eu ainda comentei "Você vai levar a bananhinha?" . Pois é. Eles levaram. Aí, conheceram o representante da Mavic e deram as bananinhas pra ele. Ele adorou. Em troca, ganharam credenciais VIP para uma das etapas!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Troca de pastilhas ou a vingança


Arrumei uma briga com a minha magrela ontem. Nós duas saímos machucadas.
Tudo isso porque fui trocar as pastilhas do freio dianteiro. Por conta da avaria na minha roda que ainda não ficou pronta hoje, excepcionalmente, planejava treinar com a minha Zipp. Só uso esta roda pra competição pois tenho dó de colocar na USP. E, para isso, é preciso trocar as pastilhas. A pastilha da roda normal não serve para a Zipp.
Eu já tinha visto esta troca sendo feita umas duas vezes e pensei “é bico. Dois palitos, eu faço o serviço”. Hum. Levei uns 30 minutos. Sem contabilizar o intervalo de uns 20 minutos que dei pra passar a irritação.
Peguei a bike, as pastilhas, as ferramentas e fui, de calça estilo “senhora diretora”, começar a operação. Afinal, pra que trocar de roupa se eu não ia nem me sujar? Hum.
Virei a bike de ponta cabeça e estudei o freio. Chave alley na mão, soltei o parafusinho de um dos lados. Bico! Hum. Do outro lado, a chave não encaixou. Estava pequena demais. Ué... Como é que pode? Tentei a chave maior... Não cabia. Olhei mais de perto. Não tinha parafuso. Teoricamente, então, era só deslizar as pastilhas para fora do encaixe.
Aí começou meu embate com a bike. Primeiro: o lugar onde fica a pastilha não é de fácil acesso, sabe? Fiquei de ponta-cabeça tentando achar uma posição pra puxar a pastilha e não deixar a bike deslizar ou, ao contrário, deslizar a pastilha e puxar a bike. Aí, a bike escorregava e a pastilha não saia do lugar. Comecei a suar. Nada. Coloquei-a no meu colo. Ela mordeu a pastilha e não quis largar. Enfiei uma chave de fenda, tentando soltar, fiz mais força do que devia, machuquei a magrela. Ela se revoltou e, me arranhou a mão.
Nos engalfinhamos e rolamos pelo chão. Parei. Saí de perto. Fui respirar. Acalmar. Voltei. Conversei com ela. Pedi desculpas pelo machucado em sua pintura. Ela cedeu. Consegui tirar as pastilhas. Colocar as outras, também não foi fácil, mas não teve briga.
Coloquei a rebelde no carro, junto com a Zipp e fui dormir com gosto de vitória. Tinha trocado as pastilhas. Sozinha. E de uma bike selvagem. Hum.
Cheguei na USP cedo e fui montar a roda. Cadê a blocagem (pecinha que prende a roda no garfo da bicicleta)? Não levei. Fiquei sem treino. No carro, de volta, a bike parecia rir de mim.
Mas não tive dúvidas, cheguei em casa atrelei ela no rolo e a castiguei por uma hora.

sábado, 1 de agosto de 2009

Perdi uma roda, ganhei o dia

Estava fissurada para treinar. Hoje era dia de treino cruzado (20 km bike/4km corrida/ 20km bike/ 4km corrida 20km bike/ 4km corrida) é longo, fatigante mas muito dinâmico: não dá tempo nem de enjoar, você desce da bike e começa a correr, em 20 minutinhos ou menos, termina a corrida e aí bike de novo. Quando se viu, foram 3 horas de treino e você nem sabe como o tempo passou. Adoro. E, em 2009, por conta das minhas lesões não tinha feito ainda. A expectativa era grande.
Saímos num grande pelotão. E isso seria apenas na primeira perna de 20 km da bike porque, depois disso, eu e os outros que fariam o cruzado, sairíamos pra correr. O Emerson pediu “os mais experientes na frente, sinalizando os buracos, mantendo o ritmo e organizando o pelotão”. Embora ele tenha me elegido entre a lista de mais experientes não me considero tão experiente assim e evito ficar à frente quando o pelotão é muito grande.
Durante os primeiros 15 km tive de dar uns berros, pedindo que as pessoas da frente avisassem sobre os buracos, pois já havia caído em alguns por falta desses avisos. Pra quem não sabe, pelotão funciona num efeito dominó — para o bem ou para o mal — se os primeiros avisam e ninguém rompe o elo da cadeia, os últimos ficam informados dos perigos: buracos, pedestres na contramão, obstáculos, ciclistas mais lentos a serem ultrapassados. Se não avisam ou se alguém rompe a transmissão da informação: danou-se! As conseqüências podem ser desastrosas.
E foi o que aconteceu. Fechando a última volta de 5 km, na raia, logo após a entrada do remo, lá estava ela: a cratera. O primeiro não avisou, o segundo se assustou mas, sem tempo de avisar, apenas se desviou, o terceiro quase caiu, o quarto, caiu na lateral e perdeu a garrafa d’água e o quinto caiu em cheio. Quem era o quinto? Eu.
Por sorte (e um pouco de habilidade também) não cai da bike. A 36 km/h o tombo teria feito um estrago. Parei na mesma hora para avaliar os estragos. Gra foi a primeira a parar pra ver como eu estava. O pneu da frente estava cheio. Segui um pouco mais e fiz o retorno para encontrar o pelotão. Mas o pneu de trás murchou. Parei e comecei a praguejar. “Que raiva! Que ódio! Ninguém avisa! Que droga! Vai acabar com meu treino cruzado!
O pelotão fez o retorno no fim da raia e, Claudio, Rodrigo e Cachorrão (não confundam com Cachorro Louco) pararam pra ver o que tinha acontecido. Imediatamente, Rodrigo começou a tirar a roda traseira, Cachorrão a buscar seu kit de troca e o Claudio ficou de auxiliar. Rodrigo tirou rapidamente a câmara estourada e colocou uma oferecida pelo Cachorrão. Peguei minha cápsula de CO2. Não funcionou. Tentamos a do Cachorrão. Também não deu. Felizmente, Rodrigo também tinha uma. Conseguiu encher. Neste ínterim, Marcos e Marcos (que já estavam fazendo a primeira perna de corrida do cruzado), Rubão e Jun, chegaram. A válvula da câmara estava com defeito, o pneu estava esvaziando.
O pelotão passou e mais três pararam: Gusmão e dois novatos cujos nomes não me lembro. Eu ia começar a reclamar de novo do meu azar, de justo no dia que vou fazer o cruzado, isso me acontece e bla bla bla, quando o Claudio virou-se para mim e disse baixinho: “olha como você é querida. Todo mundo parou pra ver como você estava e te ajudar”. A reclamação murchou imediatamente na minha boca. Lá estava eu, com uma roda torta, um pneu furado e um exército de homens à minha volta, dispostos a me ajudar. E, como não podia deixar de ser, Claudio completou, em voz alta: “Se fosse eu, vocês iam passar e ainda tirar uma da minha cara ‘aê, Claudião,se vira tatu!’”
Depois disso, meu humor mudou. Tivemos uma cena de pastelão, pois conseguimos mais cápsula de CO2 e como o bico estava vazando, os meninos me instruíram: “monta na bike, clipa o pé na sapatilha. Vamos encher o seu pneu e você zarpa, pra dar tempo de você chegar até o fim da raia antes de esvaziar”. Fiquei a postos. Um disse “vai”, o outro disse “não!” e eu, que segui o primeiro comando, fui. Direto pro chão! Meu pé tava preso na sapatilha, tentei dar a primeira pedalada, mas como tinha um segurando a roda, só fiz desequilibrar e cair. Felizmente, não foi nada sério. Só engraçado.
Não dava pra ir com o pneu daquele jeito. Era preciso, novamente, trocar a câmara. E recomeçou todo o processo. Mas ninguém tinha CO2. Então eu e a Gra começamos a pedir para os ciclistas que passavam “tem bomba? Tem bomba?” Em 5 segundos, parou um gentil sabichão que tinha uma bomba manual e também muitos conhecimentos sobre troca de pneus – pois começou a dar uma aula pros meninos, que começaram a se irritar. O processo foi rápido. Ainda bem. Por que eu estava vendo a hora que o Rodrigo e o Claudio iam enfiar a bomba na boca do cara e inflá-lo até que ele saísse voando por aí.
Consegui chegar à área de transição. Mas percebi que a roda dianteira estava bem avariada.
Deixei a bike, contei para o Emerson o que tinha acontecido e fui correr com o Claudio, que gentilmente me esperou.
Quando estava saindo, o Gusmão, ciclista experiente que acabou de chegar da “Etape Du Tour”, comentou: “Que prestígio, hein Claudia?! Desmontou o pelotão!”.
Marcos me emprestou a roda dele, corri melhor do que esperava. Fiz o cruzado que eu tanto queria.
É bem possível que a roda não tenha conserto. Em compensação, se não fosse esse infortúnio, talvez eu nunca tivesse me dado conta do lugar que ocupo nesse pelotão.