sábado, 3 de abril de 2010

Chove chuuuva ou o azar que vira sorte


Estava toda animada com o pedal de 150 km que iria fazer hoje na Ayrton Senna/Carvalho Pinto. Tinha acertado com um amigo que faria a escolta, combinado com outros atletas, meu marido também ia... Já tinha preparado toda minha alimentação e suplementação. Fui dormir cedo. Estava tudo certo.  Só faltou combinar com São Pedro. Na madrugada começou o dilúvio. Amanheceu com uma garoinha besta, o céu parecia que estava clareando mas não dava pra confiar. O problema de ir pra estrada com essa chuvinha não é só de tomar um chão mas, principalmente, de os carros derraparem e irem parar em cima de você.  Não dá pra arriscar. Tenho quatro filhos, gosto da minha vida. Em nome de quê vou fazer uma dessas?
Fiquei chateada. Afinal, fiquei aqui em São Paulo sozinha, pra poder treinar e descansar adequadamente. Bateu até aquela culpa "eu bem que poderia ter ido viajar e ficado com meus filhos já que não vou aproveitar o tempo pra treinar".
Então parti pro Plano B. Corrida na USP. O longo de 26 km era pra ser amanhã, mas tenho a esperança de que o tempo melhore e dê pra pedalar em Alphaville - portanto decidi resolver esta parte hoje mesmo.
Já estava até conformada com o fato de ir correr solitariamente e em silêncio. Meu IPod está sem bateria e o filhote mais velho levou o cabinho. Paciência.
USP estava vazia. Feriado e com chuva, só os doentes mesmo. Lá fui eu para os meus 10 confortável + 10 moderado terminando com 6 leve.
Primeiro, encontrei a Maria. Estava no 5º km. Maria trabalha no mesmo lugar que eu, tem 56 anos, está enxutaça e tem um humor escrachado que deixa seus superiores roxos de vergonha de vez em quando. Ela corre naquele passinho despreocupado, de quem não está muito aí com performance. Hoje, surpreendentemente, ela estava um pouco mais forte. Mesmo assim, tive de desacelerar pra conversar com ela um tiquinho. Ela acabou de chegar de Portugal. Fez 7 km da Meia Maratona e depois foi passear. Como sempre, estava naquele alto astral. Terminei a volta dela - que já estava chegando ali no Instituto Oceanográfico e parti pra Biologia, por recomendação do meu técnico, Emerson. "Vai lá, faz uma vezinha. Você vai lembrar disso e me agradecer quando estiver na subida da Canasvieiras". Ok. Motivo bom o suficiente. E não tenho medo de subida, não. Só não queria me matar de cansaço pra ter energia pro pedal que VOU FAZER amanhã.
Subi e desci por lá mesmo. Foi a sorte. Lá embaixo encontrei minha querida amiga Mariana que corria junto com um superironman, o Diglu. Emparelhei com eles e fomos batendo papo por uns 7, 8 kms. Ritmo bom, papo ótimo. O Diglu fez 11 irons, inclusive o do Havaí. A Mari já fez dois. Quem tem experiência sempre tem dicas boas. A do Diglu foi a seguinte : "Embora o pedal seja a parte mais longa, a prova se define é na corrida. A hora de fazer força é depois de pegar a segunda pulseirinha!". Anotado, Diglu!
Eles terminaram os 28 km deles. Eu ainda tinha 14. A chuva apertou, mas a temperatura estava ideal. Segui por mais 8 kms, puxando o ritmo um pouco. Então foi até bom estar só, porque não dava pra conversar.
Ao completar os 20, parei pro abastecimento no ponto da MPR e lá estava uma figura, todo de preto, que comentou que iria rodar 60km. Veja bem. Não de bike. Correndo. Eu engasguei e não me contive: "Eu ouvi bem? Você disse 60 km?". Ele confirmou, agradeceu a água e continuou sua jornada.
Recomecei a minha e logo emparelhei com ele. Perguntei seu nome e fomos conversando quase até o final do meu treino.
Ele se chama Alexei, deve ter uns 35 anos e é do clube restrito dos ultramaratonistas. Do meu parco conhecimento sobre esses seres, ele não fugiu à regra: é meio zen. O mais fantástico: ele tem diabetes desde os 4 anos de idade. Imagina só. Se já é difícil a alimentação de um ultramaratonista "normal", o que dirá de um diabético? Surpreendente. A sintonia que ele tem de ter com o próprio corpo precisa ser muito, muito fina e acurada. Não existe um rol de conhecimentos construídos e nem muitas pesquisas sobre este tipo de coisa. Pessoas como Dean Karnazes, por exemplo... Quem é que pode prescrever um treino e uma dieta para ele? São casos excepcionais, raros.  Os caras tem de pesquisar neles mesmos, trocar informações entre si. Alexei trabalha na área de saúde então ele mesmo examina alguns de seus marcadores sanguíneos.
Terminei meus 26. Ele tinha mais 20 pela frente. Nos despedimos. Com certeza vou cruzar com ele por aí.
Enxarcada, cansada e feliz. Mais uma vez, reverti minha sorte e aproveitei o melhor que pude. Nem estou mais tão culpada.
Amanhã, se não estiver caindo o mundo, vou pedalar meus 150. Mesmo com um pouquitinho de garoa, eu vou. Caso contrário, Plano B de novo, com duas sessões de rolo.

5 comentários:

  1. vc também vai pra Floripa no fim do mes, vai?

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  2. Belo treino, bela historia, belas escolhas.
    Feliz Pascoa

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  3. Claudia...! Que amiga "guerreira"...!!!
    Parabéns pelo belo treino de hoje!!!
    e Boa sorte nos 150km
    ...eu continuo bem gripada e de molho só te "invejando"!!!
    Por aqui chove sem parar, ...seria impossivel pedalar! Ainda bem ! assim não me sinto tão culpada em perder mais um longo treino...

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  4. Claudia parabéns pelo longão e espero que hoje vc tenha pedalado! Treinei meu longo de bike ontem para ficar neste domingo com as crianças e a chuva foi maneira o problema foi o vento mas consegui! Bjs Simone

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  5. O tempo aí não foi muito diferente do que foi aqui esse final de semana, só chuva!
    Mas gostei de ver a sua dedicação, mais do que isso, seu afinco para cumprir sua planilha. Com certeza está no caminho certo para conquistar seus objetivos, parabéns!!!
    Abraço e Bons treinos!!

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