quarta-feira, 14 de julho de 2010

Agassi

Acabei de ler a biografia do Agassi e estou sob o impacto dela. Devorei o volume de 500 páginas em quatro dias e queria mais.
Gosto de tênis, mas não sou nenhuma aficionada pelo esporte. Nunca tive nenhuma predileção pelo Agassi, embora sempre tenha achado seu estilo destoante da sisudez que predomina no ambiente dos ATPs e Slams. Peguei o livro pra ler por recomendação da Thelma. Por conta própria jamais teria ido a busca dessa leitura. Valeu, Thelma!

O texto
Não é um conto de fadas, nem literatura especializada em esporte, tampouco se trata de autoajuda. É a tortuosa trajetória de um ser humano complexo, cheio de contradições, ansiedades e medos. Ele narra com franqueza, expondo os fragmentos da sua alma atormentada. Como o texto é bem escrito, houve passagens em que mergulhei no seu sofrimento, compartilhei de sua dor e me vi com os olhos rasos d'água.

One of a kind
Ele dá muitas, mas muitas cabeçadas ao longo de sua carreira e na construção da sua vida pessoal, da sua identidade mas não se envergonha disso. Repete erros: dupla falta? Muito pior. Faltas quádruplas, quíntuplas. Tem horas que lembra Bill Murray naquele maravilhoso filme chamado “O Feitiço do Tempo”: aprisionado no mesmo dia do ano, cai todos os dias na mesma poça de água, embora saiba onde ela está. Mas, sim, ele também aprende lições ao longo da vida – e olhe que é uma vida curta para uma biografia – e algumas das mais importantes.
É um amigo leal. Há pessoas que conheceu na infância e na juventude com as quais mantém laços estreitos até hoje. Outras, que foram próximos mas não são mais, como a atriz Brooke Shields, por exemplo, ele foi capaz de romper e se afastar sem ter de destruir a relação ou negar o passado. Isso é tão verdadeiro que ela é uma das pessoas a quem ele pediu que lesse a versão preliminar do livro.
Generoso, ajudou várias pessoas sem nem pestanejar. Não só ajuda financeira, mas presença, apoio, conforto.
Os treinos, campeonatos, Grand Slams, adversários da quadra, técnicos – compõem a história e seus personagens mas a essência do livro é a jornada dele para se tornar uma pessoa melhor, para se aceitar e se acertar. Escrever o livro deve ter sido uma forma de ele se apropriar do seu processo de crescimento e amadurecimento. E ele é corajoso e, uma vez mais, generoso, pois nos permite aprender com seus erros e também com seus êxitos.

Drogas e mídia
O modo como o livro repercutiu ilustra muito bem algo que ele critica repetidas vezes: a mídia gosta de polêmicas superficiais e clichês. O assunto mais explorado é uma passagem em que conta sua experiência com anfetamina. Ele não prega o uso das drogas, não diz que usou drogas para jogar e nem tampouco acusa outros jogadores de fazerem uso. Ele deixa bem claro que foi uma forma de escapar num momento em que o mundo em volta desabava. Ao mesmo tempo, não bate no peito dizendo que se arrependeu. Ele escreve pra ATP dizendo que foi um engano, que ele não sabia o que estava consumindo mas confessa aos leitores a sua mentira. É lamentável que tenistas, jornalistas ou mesmo leigos que apreciam tênis saiam por aí comentando este fato, dando a ele uma relevância desproporcional. A impressão que dá é que essas pessoas nem ao menos leram o livro todo, que se interessaram apenas por aquilo que confirma a imagem estereotipada que fizeram do atleta por anos: um maluco, um rebelde.

Agassi Prep Scholl
No final fui totalmente arrebatada. Ele entra na minha seara profissional: educação básica. E o jargão da instituição de ensino que ele concebeu e administra é TODA A CRIANÇA PODE APRENDER. É o nosso lema! A escola fica num bairro pobre e violento (qualquer senelhança com a nossa periferia não é mera coincidência) e, a despeito das mães prostituídas, dos pais bêbados ou presidiários, da vizinhança cheia de traficantes e drogados, todos os alunos são capazes de aprender.

O livro e os triatletas
Para quem gosta de esportes, de competir, de superar limites, o livro está repleto de situações e reflexões que fazem pensar. Não são receitas prontas ou fórmulas para o sucesso. Mas maneiras de sentir e interpretar essas experiências de vida de atleta que, para nós triatletas amadores, são ora elucidativas, ora intrigantes mas sempre, sempre interessantes.
Recomendo a todos, triatletas ou não. Esportistas, ou não.
E pra terminar um videozinho do final da sua despedida do tênis profissional em 2006. De levar às lágrimas.

10 comentários:

  1. Agassi gênio. Caras com ele, como o Guga, fazem muita falta em épocas que faltam ídolos carismáticos (quer dizer, o Federer manda MUITO bem). Claro que o livro tá na fila dos que eu vou ler!

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  2. Caramba Claúdia,vc demorou pra postar,mas quando o fez,arrebentou mais uma vez.Estou maravilhado com o que vc escreveu e vou amanhã comprar o livro.Sempre gostei do Agassi,um estereótipo diferente no mundo do tênis e chegou ao topo depois de muita cabeçada.Gosto de histórias assim e vou mergulhar nesse livro como vc.Um grande beijo e por favor não demora a postar,vc nos deixa orfão de postagens.kkkkkkkkkkk

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  3. Ah já ia esquecendo,vi a matéria na VO2 adorei.Minha amiga é famosona.Parabéns a vc e ao maridão.

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  4. Legal, Cláudia. Vai entrar na minha lista, com certeza.

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  5. Pô, Cláudia! Que sacanagem você colocar aquele vídeo da despedida dele... rsssssss Me emocionei pra caramba e segurei as lágrimas. Eu não entendo nada de tênis, acompanhei umas parcas partidas na época do Guga, e confesso que estou digitando essas palavras e já pensando em dar uma chegadinha lá na Saraiva e adquirir o livro, apesar que, aparentemente, terei que ler em inglês, é isso? Parabéns pelo relato - peça um percentual sobre as vendas para a editora.
    Estou lendo a biografia do surpreendente corredor Emil Zatopek, escrita por Jean Echenoz, da editora Alfaguara. Recomendo.
    beijos! @JoelMaratonista

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  6. Não Joel! Tem em português! Aqui o livro se chama "Agassi-autobiografia". Em pensar que esse livro praticamente me escolheu, eu circulava displicentemente pela Cultura quando vi um livro jogado na estante com o rosto do Agassi e lembrei que tinha uma biografia polêmica dele, quando vi que era a própria, tomada de curiosidade coloquei em baixo do braço e levei! Surpresa maravilhosa! Uau.

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  7. Olá Claudia, após ler seu post fui atrás de biografias de atletas e achei a do Lance Armstrong (Luta de Lance Armstrong, A), um dos meus heróis. Vou ler e depois te conto ;-)

    Muito legal seu blog.

    abs

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  8. Fiquei com vontade de ler tb. Vou botar na minha lista...

    Faz tempo que não passo por aqui (falha minha) e vejo que perdi. Teus posts são excelentes. Em geral, me identifico com as suas ideias! E não deixo de me admirar como vc consegue encaixar tanta coisa e ainda por cima ser mãe!

    A despedida do Agassi foi emocionante, mas acho que ele se superou qdo fez o discurso de apresentação da sua esposa, uma tal de Steffi Graf, qdo ela foi aceita no Hall da fama do tênis:
    http://www.youtube.com/watch?v=ob_eU-J99HU

    A transcrição que acompanha o texto é bem fiel.

    Bons treinos por aí,
    Shigueo

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  9. Olá Claudia!
    A Dora indicou meu blog para o Daniel (não o conheço pessoalmente), você me encontrou no facebook dele e então cheguei eu aqui. Que mundo! Gosto tanto dele quando essas coisas acontecem!
    Ao contrário de você, eu comprei a biografia do Agassi ainda antes de ser lançada nos EUA, na pré-venda da Amazon. Tampouco sou aficcionada por tênis, mas já era fã do cara (fiquei muito, muito mais depois de ler o livro) e estava interessada em saber o que havia realmente lá sobre drogas, por causa da tal polêmica e porque me interesso muito pela questão dos valores no esporte - estou iniciando um doutorado sobre o tema na FEUSP - e como a midia e a sociedade tratam o problema. Gostei muito do seu texto. E não tinha visto o video que, claro, me fez chorar.

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