segunda-feira, 26 de julho de 2010

Botucatu

Mais uma vez, consegui o privilégio de unir trabalho e diversão ou, melhor dizendo, trabalho e treino. Ano passado, nessa mesma época, e no início deste ano, tive de ir trabalhar Águas de Lindóia, levei meus equipamentos e acabei fazendo ótimos treinos por lá.
Esta semana fui a Botucatu e depois a Itu. E, melhor do que o treino em si, foram as companhias.
Chegamos na 4ª feira na hora do almoço,  eu e Devanil - um cara muito legal e não atleta que trabalha comigo. A Nilma, minha querida ironfriend que é de lá,  antes mesmo que eu ligasse, mandou a dica pelo torpedo "almoce na Camponesa, km 198. Tem a melhor parmegiana de São Paulo".
Nem titubeamos. Meio dia e meia estávamos passando ali. Hora certa. Almoço certo. Melhor batata frita que já comi. Vou ter de voltar a Botucatu, pedalar uns 150 km só pra poder uma porção inteira da batatinha da Camponesa sem culpa alguma.
À tarde, trabalho. Mas num lugar lindo: Fazenda Lageado, no Campus da UNESP  do mesmo nome. É uma antiga fazenda de café onde funciona um pequeno museu que é parceiro nosso num dos programas que toco no horário comercial,  em que sou sra Diretora.
Ao final da visita e da conversa com o diretor do museu, a Nilma chegou e logo foi reconhecida por ele como "a garota que fez o Iron".
Devanil, eu e ela fomos então conhecer lugares mais distantes da sede da fazenda, mas que ainda fazem parte do Campus. A Nilma nos mostrou os lugares por onde corre e fiquei morrendo de inveja.
Nilma e eu no fim de tarde da Fazenda Lageado
De lá ainda demos uma voltinha na trilha das borboletas, passamos pelo maior eucalipto do Brasil - 50 metros de altura por 9 metros de diâmetro e nos apressamos pois só já descia e corríamos o risco de sermos pegos pela escuridão no meio do mato.
À noite fomos com Nilma e Neto na melhor pizzaria da cidade que bombava de animação. Pizza deliciosa, chope bem tirado e o papo melhor ainda. E os dois - Neto e Nilma - são conhecidos de toooodo mundo ma cidade.
Combinamos um pedal cedo na manhã seguinte. Mas fui dormir mais de meia noite, coisa rara.
Amanheceu um dia tão radiante que foi fácil pular da cama pra pedalar. Nilma passou no hotel, deixamos o carro na casa dela e fomos encontrar Cal, o bombeiro, que nos acompanharia no treino.
Na castelinho, com Cal, foto da Nilma
Saímos com o dia fresquinho, recém nascido rumo a estrada.
Foi um pedal curto, mas muito curtido. A Nilma é uma companhia que aprecio muito mesmo. E o Cal, que eu conhecia só de vista, foi uma grata surpresa. Logo que passamos o trecho mais tenso da estrada - entradas e saídas de outras vias - engatamos numa conversa fácil.  O cara é bombeiro. Bombeiro mesmo, de verdade, daqueles que usam capacete, uniforme cinza, com machado preso no cinturão de utilidades e, pra completar, ainda andam naqueles maravilhosos carros vermelho-reluzentes.  Sempre tive apreço e admiração pelos bombeiros. Penso basicamente assim: se é bombeiro, é do bem. É herói. Pode ser ingenuidade minha e foi apenas recentemente que conheci um bombeiro de verdade. O Vilela, que é figurinha carimbada no triatlon brasileiro, deca ironman, gente finíssima... mas nunca conversamos sobre o trabalho dele.
O Cal não estava a caráter, mas o encontramos lá na frente da garagem dos caminhões vermelho-reluzentes e, no caminho, ele foi contando causos de seu trabalho.
A estrada estava movimentada, o acostamento um tanto sujo e, na volta, o vento soprou forte no sentido oposto.  Ainda assim,  em boa companhia e com aquele visual em volta, o treino passou rápido demais. Nilma me garantiu que a estrada estava com mais tráfego do que o normal. Quase se desculpou pelas condições daquele dia, como se fosse responsabilidade dela! Bobagem dela. Fiquei com muita vontade de continuar pedalando. E, de novo, bateu aquela invejinha...
Eu, Cal e Nilma e os reluzentes caminhões vermelhos
Terminamos fechando míseros 30km, mas todos tínhamos horário.

Nos despedimos de Cal e fomos tomar café da manhã juntas no hotel. Dali, segui para uma visita de trabalho ao jardim Botânico enquanto ela foi para seu trabalho.
Mais tarde nos encontramos e fomos ao curioso e afastado bairro Demétria para almoçar.
E, lamentavelmente, tive de ir embora.
Não canso de dizer e escrever que o triathlon me trouxe e continua me trazendo, uma das coisas mais preciosas desta vida: amigos.
Toda vez que encontro com a Nilma ficou triste de ela morar tão longe, de a gente se ver tão pouco. Desta vez, como fui na terra dela, fiquei sim com inveja da vida (muito mais) tranquila (que a minha) que ela leva. Por ela ter uma estrada pra pedalar na porta da sua casa, por ter um Campus que é uma fazenda onde ela pode correr tanto no asfalto quanto numa rua arborizada e calma, por poder ir na academia nadar na hora do almoço e ainda almoçar em casa, por respirar um ar perfumado e leve, por ter um extenso horizonte á sua frente e não uma parede de edifícios.    Por outro lado,  pude me sentir em casa num lugar completamente diferente da minha casa. E me senti assim tão acolhida e à vontade porque ali tinha a Nilma e o Neto. De quebra, ganhei um novo amigo que ainda por cima é bombeiro!
Também percebi que Botucatu nem é tão longe, que posso voltar e que isso vai ser bom. E que vou sim unir trabalho, treino e amizades e visitar outros lugares de São Paulo. Quem sabe não vou encontrar alguns leitores deste blog em suas cidades?

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Agassi

Acabei de ler a biografia do Agassi e estou sob o impacto dela. Devorei o volume de 500 páginas em quatro dias e queria mais.
Gosto de tênis, mas não sou nenhuma aficionada pelo esporte. Nunca tive nenhuma predileção pelo Agassi, embora sempre tenha achado seu estilo destoante da sisudez que predomina no ambiente dos ATPs e Slams. Peguei o livro pra ler por recomendação da Thelma. Por conta própria jamais teria ido a busca dessa leitura. Valeu, Thelma!

O texto
Não é um conto de fadas, nem literatura especializada em esporte, tampouco se trata de autoajuda. É a tortuosa trajetória de um ser humano complexo, cheio de contradições, ansiedades e medos. Ele narra com franqueza, expondo os fragmentos da sua alma atormentada. Como o texto é bem escrito, houve passagens em que mergulhei no seu sofrimento, compartilhei de sua dor e me vi com os olhos rasos d'água.

One of a kind
Ele dá muitas, mas muitas cabeçadas ao longo de sua carreira e na construção da sua vida pessoal, da sua identidade mas não se envergonha disso. Repete erros: dupla falta? Muito pior. Faltas quádruplas, quíntuplas. Tem horas que lembra Bill Murray naquele maravilhoso filme chamado “O Feitiço do Tempo”: aprisionado no mesmo dia do ano, cai todos os dias na mesma poça de água, embora saiba onde ela está. Mas, sim, ele também aprende lições ao longo da vida – e olhe que é uma vida curta para uma biografia – e algumas das mais importantes.
É um amigo leal. Há pessoas que conheceu na infância e na juventude com as quais mantém laços estreitos até hoje. Outras, que foram próximos mas não são mais, como a atriz Brooke Shields, por exemplo, ele foi capaz de romper e se afastar sem ter de destruir a relação ou negar o passado. Isso é tão verdadeiro que ela é uma das pessoas a quem ele pediu que lesse a versão preliminar do livro.
Generoso, ajudou várias pessoas sem nem pestanejar. Não só ajuda financeira, mas presença, apoio, conforto.
Os treinos, campeonatos, Grand Slams, adversários da quadra, técnicos – compõem a história e seus personagens mas a essência do livro é a jornada dele para se tornar uma pessoa melhor, para se aceitar e se acertar. Escrever o livro deve ter sido uma forma de ele se apropriar do seu processo de crescimento e amadurecimento. E ele é corajoso e, uma vez mais, generoso, pois nos permite aprender com seus erros e também com seus êxitos.

Drogas e mídia
O modo como o livro repercutiu ilustra muito bem algo que ele critica repetidas vezes: a mídia gosta de polêmicas superficiais e clichês. O assunto mais explorado é uma passagem em que conta sua experiência com anfetamina. Ele não prega o uso das drogas, não diz que usou drogas para jogar e nem tampouco acusa outros jogadores de fazerem uso. Ele deixa bem claro que foi uma forma de escapar num momento em que o mundo em volta desabava. Ao mesmo tempo, não bate no peito dizendo que se arrependeu. Ele escreve pra ATP dizendo que foi um engano, que ele não sabia o que estava consumindo mas confessa aos leitores a sua mentira. É lamentável que tenistas, jornalistas ou mesmo leigos que apreciam tênis saiam por aí comentando este fato, dando a ele uma relevância desproporcional. A impressão que dá é que essas pessoas nem ao menos leram o livro todo, que se interessaram apenas por aquilo que confirma a imagem estereotipada que fizeram do atleta por anos: um maluco, um rebelde.

Agassi Prep Scholl
No final fui totalmente arrebatada. Ele entra na minha seara profissional: educação básica. E o jargão da instituição de ensino que ele concebeu e administra é TODA A CRIANÇA PODE APRENDER. É o nosso lema! A escola fica num bairro pobre e violento (qualquer senelhança com a nossa periferia não é mera coincidência) e, a despeito das mães prostituídas, dos pais bêbados ou presidiários, da vizinhança cheia de traficantes e drogados, todos os alunos são capazes de aprender.

O livro e os triatletas
Para quem gosta de esportes, de competir, de superar limites, o livro está repleto de situações e reflexões que fazem pensar. Não são receitas prontas ou fórmulas para o sucesso. Mas maneiras de sentir e interpretar essas experiências de vida de atleta que, para nós triatletas amadores, são ora elucidativas, ora intrigantes mas sempre, sempre interessantes.
Recomendo a todos, triatletas ou não. Esportistas, ou não.
E pra terminar um videozinho do final da sua despedida do tênis profissional em 2006. De levar às lágrimas.