sábado, 30 de julho de 2011

Depressão pós-iron ou o quê?

Carnaval
Dessa vez não escapei.
Terminou a prova e fiquei com um travo amargo na boca. Imagino que a sensação é parecida com a do pessoal que desfila no carnaval. São meses de ensaio. Semanas para a preparação da fantasia. E então chega a noite da apoteose, da glória, a hora de sambar, sorrir, suar, dar o sangue e curtir.
No dia seguinte a fantasia está rasgada, os músculos estão doloridos e bate aquela melancolia da 4ª de cinzas, saudade da emoção intensa vivida na véspera. O remédio e pensar que no próximo ano, tem mais.
O ano passado, assim que terminou a prova já estava decidida a participar do Iron 2011. Em menos de uma semana já estava treinando e pensando no desfile, ops, no Iron seguinte.

Porque não
Desta vez foi diferente. Decidi antes mesmo de fazer a prova que não iria em 2012. Descansei. Dormi. Dormi! Fiquei uma semana sem treinar nadica de nada. Chegou dia 6 de junho, as inscrições para 2012 abriram mas me mantive firme na decisão tomada. Ou seja: tirei o próximo carnaval do meu horizonte.
Nos seis meses que antecedem o Iron somos absorvidos pelos treinos: dormimos, acordamos, sonhamos, nos alimentamos, respiramos, triathlon. Mesmo não querendo, mesmo me esforçando para que isso não acontecesse, não consegui evitar um certo distanciamento da família. A cabeça fica em outro mundo.
Durante o horário comercial até mantive a cabeça focado no trabalho mas, como a rotina não estava fácil, nem divertida, os treino funcionaram muitas vezes como válvula de escape. (Nada como se preocupar em manter o pace a 4m50s o km para não ter capacidade de pensar em absolutamente mais nada.)
Também me convenci a não fazer porque esse volume e intensidade de treinos por tanto tempo é muito desgastante, particularmente para uma senhora de 47 anos. Mas confesso que a sensação de força e poder que a preparação pro Iron propicia supera, muitas vezes, a de cansaço.
Outro ponto contra é o "investimento" - eufemismo para gastos. Este ano até gastei menos que o ano passado. Mesmo assim foi dinheiro. E, ultimamente não posso fazer tudo que gostaria. Preciso conciliar meus próprios desejos com os desejos e necessidades dos meninos. Não é fácil. Nem simples. Nem barato.

E agora?
E agora inventei uma maratona em Buenos Aires.  Tenho treinado direitinho mas, sei lá. Não parece de verdade. Não parece sério. Não parece completo. Falta alguma coisa. Uma nadadinha, talvez?  Já melhoraria. Uma voltinha de bike? Aí, sim!
Brincadeiras à parte, o fato é que está sendo bom não treinar tanto. O cansaço acumulado deu as caras. Fico imaginando como eu estaria se tivesse pego a vaga pro Hawaii. Nossa. Além de não ter quase ninguém com o mesmo foco, e a canseira? Treinar 160 km de pedal? Dá até arrepio.
E agora a vida segue e cabem outras fazeres e pensares, que não são apenas os triatléticos. Dá mais tempo pra curtir os amigos e, sem dúvida, e isso é ótimo.  A gama de assuntos se ampliou e, não sei se é impressão minha, parece que o leque de problemas, idem. Mas deixa isso pra lá.
Entretanto, sem dúvida, há um vazio.

Churras com amigos e família. Agora dá tempo.
Sabedoria
Rikka, um amigo querido de longa data, surfista e massagista,  que vem cuidando de mim há mais de ano com suas massagens que me endireitam,  me deu o conselho mais sábio.
Eu me queixava dessa sensação de vazio, da falta daquela intensidade toda e da ansiedade que eu estava pra ter algum Iron no horizonte.
E ele me disse algo mais ou menos assim: "Curta este momento. Sinta esse vazio. Aquiete seu coração e sua alma.  Não dá pra gente ficar o tempo todo vivendo no pico, na intensidade, no máximo, visando sempre o próximo desafio. Viva o dia de hoje. É importante aprender a viver o presente com suas características e não ficar só olhando pro futuro. É importante tirar lições desses momentos difíceis."
Tenho me esforçado por colocar em prática os ensinamentos de meu amigo. Não tem sido fácil. Mas quem disse que gosto do que é fácil?

8 comentários:

  1. Minha Prezada Claudia,
    Creio que para quem fez DOIS IM seguidos tem o sagrado direito de descansar e assim praticar o exercicio da ociosidade que muitos tem como estilo de vida... enfim... descanse...afinal 2013 esta quase ai e quem sabe você não encaixa uma ultra até para para esquentar os motores...
    Abraço.

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  2. Lindo texto.
    Curta a familia.
    Compre uma MTB, pedale pela cidade de bobeira.
    Vai fazer bem, ampliar os horizontes.
    Nos vemos nos Ibira. Puuutz, talvez eu vá em agosto, talvez....

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  3. Bom, Cláudia, com certeza não é qualquer "senhora" de 47 anos que faz o que você fez. hehe

    Curta esse seu "descanso" (pra mim treinar para um maratona não é descanso nenhum, mas vai saber o que se passa na cabeça de uma IronWoman). =]

    Abraço,
    Mário
    http://aspiranteacorredor.blogspot.com

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  4. Ótimo post Cláudia!!!! Estava mesmo qerendo saber como é a vida pós iron e quais eram seus novos objetivos esportivos.

    4.7 com a sua energia...sou sua fã a quase 1 ano, sempre acompnahndo suas aventuras e superações!!!

    Bjs
    Lu

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  5. Oi Cláudia! Como estão os treinos pra Buenos Aires????

    Bjs
    Lu

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  6. Olá, Claúdia!
    Eu só decidi fazer o que vc fez após completar 9 ironman e depois de ouvir críticas dos "Mestres" em Fisiologia do exercício da USP...vc percebeu beeem antes de mim...parabéns pela decisão...vc está certíssima!

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  7. muito legal seu depoimento...
    passeando por alguns blogs, te encontrei.
    ok, parou de escrever porque???? rss
    pace de 4'50" - uau!!

    sucessos adiante!

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  8. Parabéns!!!
    Estou passando por esta mesma fase... fiz o IRON BRASIL em 2012 e depois veio o "vazio"... entrei em academia, às vezes nado um pouco, corro "avulso", mas não é a mesma coisa. De todo modo, não pretendo mais fazer outro IRON.. sinto falta dos treinos, mas acho q às várias horas q passamos isolados treinando acabam sendo uma "fuga" de enfrentar os dilemas ordinários da vida. Boa sorte p vc nas novas missões!

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