domingo, 20 de fevereiro de 2011

Revista Alfa

Eu sei, eu sei. Teve o Internacional de Santos e eu não vou fazer um post sobre a prova. Pelo menos, não por enquanto. Sei lá... Tenho medo de ficar repetitiva. Se eu tiver um bom ângulo da história, que fique diferente do ano passado, prometo que faço meu relato.
Por hora, quero compartilhar com meus leitores um acontecimento na vida desta blogueira que a deixou muito feliz e que tem a ver com este blog. Um texto meu, sobre triathlon, foi publicado nesta revista bacanuda, a Alfa. É uma nova publicação da Editora Abril, voltada para o público masculino, classes A e B (mas muitas mulheres gostam dela também!).  Foi lançada em outubro e já está fazendo história. O Kiko Nogueira, diretor de redação, viu o blog e pediu que eu sugerisse uma pauta sobre triathlon e eu sugeri "Dez boas razões pra você fazer triathlon e outras dez (não tão boas assim) pra você continuar em casa". Escrevi o texto, ele gostou e publicou na Alfa que foi pras bancas agora em 11 de fevereiro. O mais legal - achei - é o fato de não ser uma  revista especializada em esportes.
A edição foi super caprichosa e valorizou o texto. A única mancada foi que, na minha minibiografia, num cantinho da página, faltou dizer que eu completei um Iron. Se tiverem oportunidade de ler, está nas páginas 121-124. Depois me contem o que acharam. E está no site deles
Abaixo a primeira página da matéria. E sim, antes que perguntem, o texto todo é meu. Nenhum repórter reescreveu depois de conversar comigo.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Triathlon sem mistérios – pequeno glossário para não triatletas

Caros leitores, como este blog não é lido exclusivamente por triatletas e suponho que muitos devam ter dificuldades para entender os textos aqui postados, decidi, para dirimir as principais dúvidas, escrever um pequeno glossário com os termos básicos, porém fundamentais, para a compreensão do nosso amado esporte.

Alfa. Tipo de macho da espécie humana com alta incidência no grupo de triatletas. Costumam andar em bando e disputar a liderança dos treinos, causando, muitas vezes, a dissolução dos pelotões (vide). Desaparecem durante as competições.

Alimentação de treino. Lanche que seu filho leva pra escola e que você tem vontade de comer mas não tem mais idade para isso, os triatletas consomem, sem constrangimento, antes durante e depois do treinos: bisnaguinha com geléia, melzinho, todinho, bananinhas, entre outros.

Alvará. Permissão concedida pelo cônjuge do triatleta para participar dos treinos longos de final de semana. Obs.: Às vezes o triatleta, não requisitando o alvará com a devida antecedência, arrisca-se a treinar sem ele. Isso pode ter conseqüências matrimônio-judiciais gravíssimas.

Bento box. Pequena bolsinha que fica presa ao quadro da bike onde pode ser colocada a merenda e outros objetos. Costuma ficar melada com os restos de lanche (tal qual a lancheira de seu filho) e, além disso, adquire um odor característico em função da combinação com o suor depositado durante os treinos.

Bomba. Encontrada em dois modelos: de pé e manual, é um objeto que tem a função de encher as câmeras das bicicletas e que o triatleta sempre se esquece de levar (a de pé) quando o pneu está murcho e nunca está com uma (manual) quando seu pneu fura no meio do treino. Na segunda situação ele pode contar com um cilindro de CO2 (ver).

Buraco. Inimigo número 1 dos triatletas. Frequentemente encontrado na raia da USP, ataca os ciclistas ocasionando furos nos pneus, lesões nas rodas, tombos e, acima de tudo, brigas nos pelotões (ver).

Cadência ou ritmo. Modo de dizer a velocidade demonstrando aos demais que não é um corredor de esteira. Enquanto as pessoas dizem 12 km/h, triatletas e corredores experientes dizem 5 minutos/km.

Caramanhola. Conhecida também por squeeze ou garrafinha é um objeto extremamente perigoso, principalmente quando escapa de seu suporte na bicicleta da frente e cai na pista provocando pânico nos ciclistas e, não raro, acidentes sérios. Pode afetar também ciclistas inexperientes que, durante a complexíssima manobra de retirar e colocar a caramanhola no suporte perdem a direção e tombam.

CO2, cilindro de. Pequeno dispositivo que serve para encher as câmeras dos pneus na falta de uma bomba manual portátil. Devem ser atarraxados à válvula da câmera para enchê-las de uma só vez. Apesar de muito práticos, leves e de não ocuparem espaço, não há registros de que tenham funcionado alguma vez..

Chuva. Pretexto preferido dos triatletas para continuar dormindo às 3ª e 5ª de madrugada, sem culpa.

Facebook. Rede social em que alguns triatletas postam seus treinos, outros se irritam com os treinos postados pelos primeiros e todos, de um modo ou de outro, mostram para o mundo que o triathlon é a coisa mais importante que existe.

Feirinha. Local organizado antes de competições de triathlon com estandes de venda de equipamentos e roupas de triathlon onde os triatletas compram uma vasta quantidade de inutilidades caras como se estivessem fazendo barganhas.

Fuel belt. Cinto ridículo onde se encaixam garrafinhas para hidratação em treinos de corrida. Serve para que os triatletas demonstrarem que estão fazendo um treino longo.

Garmin. GPS de pulso que tem como finalidade registrar todos os detalhes dos treinos como: distância percorrida, velocidade média, elevação e frequência cardíaca mas que o triatleta esquece de por a bateria para carregar, de ligar na hora certa ou de levar para o treino.

Ironman. Doença que costuma acometer os triatletas após um ou dois anos de treino e que, frequentemente, leva a um estado de loucura. Nenhum tratamento eficaz foi descoberto até hoje a despeito das inúmeras pesquisas realizadas por cientistas havaianos.

Meia de compressão
Meias de compressão. Mistura de meião de futebol com a meia que minha vó usa, e que os triatletas vestem com muito orgulho. A diferença está nas cores e estampas estapafúrdias.

Padoca. Principal razão pela qual os triatletas treinam no sábado. Alguns, inclusive, nem treinam, apenas vão ao local para encontrar os demais, tomar café e conversar.

Pelotão. Bando de triatletas que querem ser como as escuderias do Tour de France, mas se comportam como as torcidas organizadas dos times de futebol, sem a organização destas.

Planilha. Motivo de sentimento de culpa e desavenças entre triatleta e seu técnico.

Roda, Zé Rodinha. Habilidade de participar do pelotão sem fazer força. Pessoa especialista nesta habilidade.

Roda Zipp, 404, 808, rodas fechadas Equipamento utilizado por triatletas na vã esperança de melhorar seu desempenho mas que funciona apenas quando as pernas destes já são fortes o suficientes para não precisar deste artifício.
Espartilho moderno

Roupa de borracha – wetsuit. Parente próxima do espartilho, é uma vestimenta que serve para apertar, sufocar e assar a nuca do triatleta durante a natação além de dificultar a transição.

Sapatilha. Calçado utilizado para constranger o triatleta iniciante que, na hora de parar, invariavelmente esquece que esta fica presa ao pedal, não lembra de soltá-la e vai pro chão como um saco de batatas na frente de todos.

Suplementação. Pozinhos, líquidos, géis, cápsulas e comprimidos de cor, gosto e consistência estranhos pelos quais se paga uma nota para, supostamente, melhorar a performance do atleta ou causar um desarranjo gastro intestinal providencial nas provas em que ele sabe que não terá uma boa performance.

Técnico. Pessoa a quem o triatleta ouve mais do que seu pai, sua mãe ou seu cônjuge. O que não quer dizer, entretanto, que o triatleta siga as orientações deste.

Transição. Local que o triatleta não encontra depois de nadar esbaforido ou de pedalar como um louco, onde há uma série de voluntários que não sabem o que fazer, à volta do qual seu filho, seu marido/esposa ou técnico ficam gritando – “vai, vai, você ta bem!” enquanto você nem percebe que saiu pra correr com o capacete na cabeça.

Treino. Forma de expressão utilizada pelos triatletas para diferenciar-se de quem faz exercícios ou ginástica.
 Troféu. Objeto de gosto duvidoso com o qual os triatletas adoram tirar foto em cima de um pódio.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Meu querido amigo

Era 2007 e eu estava começando a treinar e também acabara de ser contratada no meu atual emprego. Minha chefa, com quem eu já trabalhava antes e me conhecia bem, disse:

- Conversa com ele. Vocês vão se entender. Ele também gosta de esportes.

E não demorou que, num desses almoços descompromissados que a gente tem com as pessoas de trabalho, nos sentássemos lado a lado e começássemos a trocar confidências sobre nossas respectivas paixões: triathlon, a minha, tênis, a dele.

Então, ao longo destes quatro anos, almoçamos quase todos os dias juntos e conversamos de tudo - mas nosso assunto predileto – o esporte - esteve sempre em pauta.

Com ele aprendi a admirar Federer (embora, só pra provocá-lo, eu diga que gosto mais do Nadal), a considerar Roland Garros A prova de Grand Slam e descobri que há tantos – ou mais – torneios de tênis para amadores quanto há provas de triathlon e corridas de rua.

Por outro lado, ele aprendeu tudo sobre triathlon. Sabe o que é o clipe, uma caramahola e a diferença entre uma speed e uma contra-relógio, entre outras tantas coisas.

E quando ficamos mais próximos, ele também me ensinou coisas da política, da administração, da gestão. E eu pude falar mais sobre relacionamentos, conflitos, convívio.

Ao longo desses quatro anos tivemos discordâncias – sobre aspectos do nosso trabalho – mas nunca brigamos. Fui à sala dele chorar algumas vezes. Ele não foi à minha – porque é duro na queda – mas deixou escapar uma angústia ou outra, que acolhi como pude.

Ano passado, quando estava me preparando pro Iron ele me perguntava todo o dia como tinha sido meu treino. E seu interesse era genuíno. Entendia as minhas restrições alimentares e não se importava se, durante uma semana inteira, eu só quisesse comer no 7 Grill.

Na véspera da minha viagem para Floripa em maio do ano passado, ele estava de férias, mas combinamos de almoçar juntos. Eu estava insuportável. Não conseguia falar de outra coisa que não fosse a prova. Durante o almoço ele fez todas as perguntas que eu queria responder, disse o que eu queria ouvir e me acalmou sem nem se dar conta.

Muitas vezes durante o horário do almoço saímos para encontrar um cadarço de tênis pra ele entre os camelôs, comprar um pacote de maltodextrina ou à caça de baterias CR 3032 para o frequencímetro. Por incrível que pareça, nos divertíamos nessas pequenas jornadas. Conhecemos lugares escondidos como a “Casa das Baterias” e personagens inusitadas, como a sra Chun, da loja de perfumes importados. Temos em comum um pequeno e curioso repertório de pessoas e situações.

Ano passado ele perdeu o pai e, logo em seguida, a mãe. Estive no velório de ambos e no enterro e cremação de um e outra. Vivemos também um repertório de tristezas e perdas compartilhadas.

Agora, neste início de ano ele e várias outras pessoas de quem gosto muito, foram demitidos.

Quando a percebi a iminência de sua demissão me dei conta de como iria sentir sua falta. Vi que ele é muito mais do que um companheiro de trabalho. É um amigo. Meu melhor amigo.

Claro, vamos continuar a nos falar e sempre que possível, almoçar juntos. Não tê-lo no convívio diário, entretanto é, para mim, uma grande perda.

De qualquer modo, não posso deixar de registrar: obrigada por tudo, querido amigo!