sábado, 19 de março de 2011

Treinos

Nada, nada já estou entrando no auge da temporada de treinos para o Iron. Falta pouco mais de dois meses. Agora o corpo já sente o cansaço acumulado e, ainda assim, o volume de treinos vai aumentar.

Segundo Iron
Não me senti muito estimulada a escrever sobre os meus treinos deste ano. Para ser bem honesta, fugi o mais que pude do tema que é a razão de ser deste blog. Por um lado, tive medo de me repetir – relatar fatos muito semelhantes aos que narrei ano passado, por outro, há cada vez mais gente na web escrevendo sobre seus treinos, gente que treina mais e tem mais experiência – de novo, temi chover no molhado.
Mas, pensando bem, tenho algumas coisas pra contar. Treinar para fazer um segundo Iron é diferente de treinar para a estréia.
Quando a gente se inscreve para o segundo, sabe exatamente onde está se metendo. O medo de não conseguir completar a prova ainda existe, mas é uma sombra muito mais tênue.
No ano passado, meu objetivo – principalmente nos treinos longos – era conseguir completar o volume. Isso era coerente com minha meta central: completar o Iron. Em quanto tempo? No que fosse possível. Eu tinha alguma idéia. Mas nenhum compromisso.
Hoje é diferente. Tenho um tempo a ser superado – o meu mesmo, do ano passado. E isso tem implicações diretas em cada treino.

Natação e ciclismo
Na piscina, tenho prestado atenção para não deixar o ritmo ficar muito mole. Não é que me mate. Mas também não é pra sair da água como se nada (nado??) tivesse acontecido.
O pedal é onde tenho me aplicado mais. Durante a semana, nos treinos da USP, tento acompanhar o pessoal mais forte, ficando na roda. E, quando estou sozinha, mesmo cansada, luto para manter a velocidade acima dos 30km/h. O Wagner, meu técnico, me disse algo que pode soar óbvio, mas não é: “Se você treinar com média de 28km/h não vai fazer 32/h na prova. Vai fazer 27-29, mas não 32!” Então, nos longos, tenho feito 80% do tempo com a cara no vento e me esforço, mas me esforço mesmo, pra fazer a média acima dos 30km/h o que, para mim, não é fácil.
No ano passado sempre anunciava meus treinos para conseguir companhia. Agora, se alguém me pergunta ou oferece companhia, ótimo. Mas estou muito concentrada em fazer meu pedal como manda o figurino, buscando o ritmo certo para mim.

Na corrida
Como relação à corrida, também estou em busca de mais qualidade. Foi o que fiz melhor na prova passada, mas sei que dá pra ir além. Mantive treinos com média de 5m30/km e fiz a maratona para 5m35/km. Agora tenho treinado em 5m/km ou menos! Além disso, o ano passado, eu completava o volume indo até o parque correndo ou correndo pelas ruas perto de casa. Isso faz com o ritmo não seja tão constante, porque você tem de parar nos cruzamentos, tomar cuidado com as calçadas, desviar de obstáculos... Agora treino direto no parque ou, quando o volume é menor, faço esteira.

No geral
Também tive algumas mudanças globais – o dia de treino longo de corrida tem sido às 4ªs feiras, pra não ficar próximo do longo de pedal. Tenho tido mais volume de pedal e natação do que ano passado e um pouco menos de quilometragem semanal de corrida. O ciclo mensal: leve, moderado, forte, regenerativo – tem sido muito mais marcado que ano passado. Termino a semana forte realmente precisando me regenerar.
Fora uma dorzinha ali (piriforme é a mais recente) e outra ali (dos fibulares, é das mais antigas) tenho gostado e me sentindo bem. Tem momentos de extremo cansaço. Semana passada, depois de pedalar 140km sozinha na ciclovia tudo que eu queria era alguém para carregar minha bike passarela acima/abaixo! Cheguei a pensar em oferecer dinheiro. Mas todo mundo já tinha sua própria bike pra carregar. Depois de um banho, uma hora jogada imprestável no sofá e um prato de macarrão, ainda tive disposição de levantar e fazer brownies para os meninos.

domingo, 6 de março de 2011

Ilusões e sonhos

A aula de balé

Quando crianças, meninos e meninas sonham em ser bailarinas, jogadores de futebol, judocas, artistas de circo, guitarristas... E o uso do verbo “sonhar” não é mero acaso. Sonham com o palco onde vão brilhar, com o golaço que vão fazer, a faixa preta que vão vestir, os solos de guitarra que vão abafar. Sonham, iludem-se, criam fantasias. São crianças e conhecem apenas um lado dessas ocupações. O mais óbvio, aparente e sedutor. Por isso muitos pais e mães se decepcionam quando seus filhos vão animados ao primeiro treino ou primeira aula e já na segunda ou terceira querem desistir. Ao defrontar-se com sua primeira seqüência de “pliés”, a pretendente à bailarina percebe que não será tão simples e rápido conseguir dançar uma maravilhosa coreografia e encantar a platéia. O mesmo se dá com o pequeno guitarrista ao sentir que as pontas de seus dedos doem depois da simples e árdua combinação de dois acordes, que produziram um som surdo e desafinado tão distante daquele que ele imaginara tocar.
Muitos desistem. Alguns, com a firmeza e empenho dos pais, permanecem, ainda que a contragosto.
Às vezes, depois de um tempo, quando começa a ter sucesso na aprendizagem daquela arte ou esporte, a criança começa a gostar e já não é mais preciso vencer uma batalha a cada aula ou treino. Ela vai com gosto. Começa a ter prazer em executar aquela pequena seqüência de pliés com perfeição ou a surpreender-se com os acordes que já não soam mais surdos. A ilusão vai se desfazendo e o que vai se delineando em seu lugar começa a interessar.
Outras vezes, não. O menino desiste de brigar, vai à aula ou treino, cumpre tabela mas não se entusiasma. Se pudesse optar, pularia fora na primeira oportunidade.
Como mãe, penso várias coisas a respeito disso, mas não vêm ao caso.

Os adultos
Nós, adultos, conhecemos mais sobre o mundo e seu funcionamento. Sabemos que as aparências enganam que, dificilmente o sucesso vem de mão beijada e que deus ajuda quem cedo madruga.
Então, nós, adultos muitas vezes paramos de sonhar. Não nos vemos fazendo algo diferente, ousado, difícil. Por achar que nos conhecemos bem, deixamos de nos atrever, de testar nossos limites. Por outro lado, não estamos livres das ilusões. Elas ainda nos seduzem de diversas formas: na idéia de que poderíamos ter outra carreira que nos fizesse mais feliz ou uma mulher mais bonita, (ou um marido mais sensível), uma grama mais verde que a do vizinho...

Sonhando com o Ironman
O triathlon – principalmente o Ironman – desperta os sonhos dos adultos. Alguns logo pensam “não é para mim”, outros se imaginam cruzando a linha de chegada. Os primeiros, que acham que não é possível, não lembram a incrível capacidade humana de aprender, de resistir, de se superar. E os outros, não imaginam as inúmeras horas que terão de ser passadas com a bunda no selim, nos zilhões de ladrilhos contados no funda piscina, nas corridas pra longe da família e dos amigos.
Mas, tanto uns como outros, só irão compreender a essência do triathlon - e depreender algum prazer dela  -, se persistirem por algum tempo. Pode ser que rapidamente a ilusão se desfaça e alguns voltem pra sua modalidade favorita ou, ao contrário, cada passo seja encarado como uma pequena vitória, cada pequeno aumento no volume de treino como superação de um desafio e tudo isso vai, aos poucos, revelando para o novo adepto novidades a respeito dele mesmo.

Sonho realizado
Não sei quanto a vocês mas me lembro que o Iron era um sonho distante quando comecei a treinar.
Também não imaginava a dimensão que o triathlon teria na minha vida. As duas coisas foram se consolidando aos poucos e simultaneamente. Na medida em que fui me vendo capaz e gostando de aumentar o volume de horas com a bunda no selim, o número de ladrilhos contados e a quilometragem das corridas, a possibilidade de fazer o Iron foi despontando na paisagem.
E é muito curioso como tornei algo que me parecia sobre-humano, possível. Sonhar é importante, mas mais do que acreditar no sonho é necessário des-iludir-se. Ou seja, apreciar cada parte do esforço, desmontando a ilusão e transformando em real-ização.