segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Pelo fim da animosidade

Impossível deixar o tema escapar. Sei que os meus fiéis leitores acessam este blog atrás de posts sobre treinos, provas etc mas, sinceramente, me sentiria ridícula em escrever sobre meu treino de hoje (o primeiro de natação depois de quase dois meses), ignorando o que acabou de acontecer.

Não, não se preocupe. Não farei campanha pra nenhum candidato. Não escondo meu voto, mas não acho que seja relevante divulgá-lo. Quero, sim, fazer um apelo ao espírito esportivo no período eleitoral. Estou muito incomodada com a falta de respeito de pessoas supostamente educadas e esclarecidas no debate político. Uns desqualificam o Serra porque ele seria carrancudo ou “limitado espiritualmente” outros acusam Dilma de “trator” e de idiota, assim como havia os que chamavam Marina de “filha de Maria” em tom de deboche. Que espécie de debate é esse? Atire a primeira pedra quem não bate na mesa de vez em quando, acorda mal humorado, fica meio abestalhado em algumas situações ou que tenha convicções espirituais, religiosas ou esotéricas . Não seria mais útil, interessante e honesto que avaliássemos e discutíssemos programas, propostas, idéias, currículo e atuação profissional?

E quando escrevo “discutir” não estou falando em bater boca. Embora pareça, política não é futebol. No futebol, não tem acordo. Nasceu corintiano, corintiano até morrer – menos o meu marido, é claro – mas isso é história pra outra ocasião. Torcida não tem racionalidade alguma. É paixão. E, a menos que ultrapasse os limites da civilidade como, infelizmente às vezes vemos acontecer, não há mal em que seja paixão. É legítimo defendermos nossa paixão clubística sem nenhum argumento decente.

Mas, com política não pode ser assim. Não podemos ser sectários e defender partidos ou pessoas apenas porque um dia em nossa vida os escolhemos e nunca mais revimos essa escolha. Não podemos defender nossa posição na base do grito, da torcida mais barulhenta, da bandeira maior – há que se ter argumentos.

Política também não é religião. Religião tem a ver principalmente com fé, crença, dogmas. Sim, há também os valores, mas é a fé o eixo central. O debate político não deveria ser uma questão de fé, nem de crença, mas de princípios. Quais são os princípios que regem os seus atos? Quais os princípios regem as suas escolhas? Não basta escolher candidatos que se aproximem mais de seus princípios – mas de ser fiel a esses princípios quando se posicionar, quando decidir compartilhar sua posição ou debate-la com alguém.

Por que é tão difícil um debate civilizado? Por que tanta animosidade? Por que ficamos irritados, raivosos, com os que não pensam como nós? Por que raramente conseguimos ouvir o que pessoas que pensam diferente de nós têm a dizer? Discordar, sobretudo, é uma arte. Assumir uma posição que não é condescendente tipo “ah, perdoai-os pai, eles não sabem o que dizem” nem agressiva “é um bando de idiotas mesmo” “chuuuupa, fulano(a)!”, ou cínica “ah, é tudo a mesma porcaria” mas, sinceramente disposta ao diálogo.

Somos uma democracia novata, mas já saímos das fraldas. A tranqüilidade com que transcorreram as últimas eleições é um feito do qual temos todos de nos orgulhar. Em poucas horas tivemos o resultado das urnas – e o volume de votos era sem precedentes— mais de 135 milhões! Ainda assim, ninguém contestou os resultados.

Mas temos muito, muito mesmo que aprender em termos de confronto de idéias, coerência de princípios, capacidade de escuta e posicionamento. Quando digo “temos” me incluo não apenas por força de expressão, mas porque também acho que preciso de um treino.

Como qualquer outra coisa que se queira fazer bem, dá trabalho. Exige autocrítica, conscientização, empenho e jogo de cintura. Bom... mas se você está planejando fazer um iron, não há de ser tão difícil assim!

8 comentários:

  1. mas...e o treino de natação????

    rsrsrsrs

    Bjos

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  2. Ahhhh, parabéns pelo texto - me sinto desobrigado de escrever qualquer coisa sobre o assunto depois desse show de bom senso.

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  3. Muito bom!
    Vale para tudo na vida, inclusive a politica.

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  4. Oi, Claudia. Gostei muito do texto. Realmente ficou muito cansativo e desgastante discutir em quem votar, uma vez que não há discussões de fato, apenas troca de acusações e calúnias. Imagine como deve ser difícil ser candidato nessas condições. Realmente, Ironman deve ser fichinha. Como não pretendo ser candidata a nada, acho que vou começar a treinar.
    Um abraço,

    Marcia Gregori

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  5. Já dizia Eça de Queirós - "A única crítica é a gargalhada! Nós bem o sabemos: a gargalhada nem é um raciocínio, nem um sentimento; não cria nada, destrói tudo, não responde por coisa alguma. E no entanto é o único comentário do mundo político". Modificado para o cenário atual.

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  6. Brilhante como sempre Clau,mas como sou cínico por natureza,"é tudo a mesma porcaria".Brincadeiras a parte,concordo com vc,porque é tão difícil para nós ouvirmos uma coisa que não é o que pensamos.O voto hoje é simpatia,benefício próprio,ou por motivos religiosos.Porque não votar por projetos que beneficia o todo?Apesar da democracia imperar no Brasil,não acredito em um povo que acha que votar no Tiririca é uma forma de protesto e viva a democracia.O tiririca é um exemplo,porque vc precisa ver os que foram eleitos no Rio,putz muito pior do que em São Paulo."
    Bjs Clau e parabéns.

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  7. Oi, Claudia! Também tenho a mesma sensação. O pior é que nesse momento até a religião voltou à baila, como se estivéssemos na Idade Média. E com certeza isso põe a emoção ainda mais à flor da pele. Percebo muito preconceito, ódio, intolerância, enfim, duvido muito que isso mude, até porque a mídia parece estimular essa insanidade... ops!! Nada a ver com a insanidade desse blog. beijos!

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