sábado, 4 de junho de 2011

Ironman II - Pimenta (ou shampoo) nos olhos dos outros, não arde! - Natação

Vai começar...

 Passei o pórtico e perdi a Juju. Queria ter dado mais uma abraço na filhinha – para quem não sabe “adotei” a Julia desde o ano passado. Só tenho filhos meninos (quatro) e, a essas alturas do campeonato não tenho intenção alguma de adotar um bebê e nem condições de produzir mais um. Mas uma menina faz falta na minha vida. Como a família da Ju mora fora de São Paulo, ela me adotou como mãe eventual. Os meus filhos amaram a idéia de ter uma irmãzinha e se dão todos muito bem. Então eu queria desejar boa prova pra ela embora soubesse que ela iria fazer uma boa prova. Até tranquilizei seus pais “verdadeiros” garantindo que ela faria abaixo de 12 horas.
Perdi-a no meio da confusão. Mas achei Nilma e Daniel o Marquinhos e mais 1800 atletas com nervos à flor da pele que, para seu bem, estavam devidamente protegidos por roupas de borracha.
Tentei girar um pouco os braços, mas não havia espaço. Conformei-me em rodar os ombros, mas sem exageros. Só o que faltava era eu tirar as minhas âncoras do lugar bem naquela hora – era naufrágio na certa (pra quem não sabe, em agosto fiz uma artroscopia de ombro e coloquei duas âncoras – vai entender como isso pode ajudar uma nadadora).
Foi aí que lembrei que tinha esquecido de 1, tomar o gel planejado para 15 minutos antes  e que estava por dentro da minha roupa de borracha, 2, passar filtro solar e 3, de tirar o excesso de shampoo jonhsons  para crianças que, supostamente deveria me ajudar a enxergar durante a natação. Pus os óculos. Estava uma meleca. Não dava pra mais pra ir até o mar. Faltavam 3 minutos pra largar. E eu não tinha nem um copinho d’água pra dar uma lavadinha. Danou-se. Vou no faro.
Começou!
O sol apareceu, soou a buzina. Disparei o Garmin e vambora.
O mar estava manso, a temperatura fria, sem ser congelante mas logo de cara, começou a pancadaria. Estava difícil achar um espaço pra nadar. Mas já havia aprendido em Penha, 2008. Vale-tudo, jiu-jitsu, boxe e, principalmente kickboxing. Teve uma hora que me senti até culpada. Acho chutei a cara de alguém. Mas não parei pra olhar, não. Ainda mais que eu estava cegueta, não ia enxergar mesmo. Na água é assim mesmo. Salve-se quem puder. 
O shampoo formou uma grossa película que dava a impressão de que o mundo à minha frente estava derretendo. Quando cheguei à primeira bóia, que forma uma tremenda correnteza que leva todo mundo sem necessidade de nadar.   Bem na curva, encontrei o Rodrigo Previatti Contheux, que também tinha levantado os óculos. Olhei pra ele e disse "Oiii! Você vem sempre aqui?"
Tirei os óculos e dei uma lavada. Não sei se foi pior ou melhor.
Olha eu ali, de touca vermelha.
Inferno 1.  Meu olho começou a arder. Um deles. “Será que estou louca? Este ardor deve ser psicológico! Shampoo jonhsons para crianças não arde!!!” Psicológico ou não, ardia de verdade. Segui nadando feito um pirata, só com um olho aberto.  Já não enxergo direito,  caolha... estava fácil.  Não tinha a menor idéia do lugar que deveria mirar. Não achei a bola inflável vermelha que marcava a entrada do retorno nem quando cheguei à praia. Ela estava lá? Disseram-me que sim. Mas não vi. Segui o fluxo e, pelo que vi do meu trajeto no Garmin,  fiz apenas um “v” desnecessário. No mais, fui quaaase em linha reta.
Beijinho, só de longe
Cheguei à praia vi o maridão firme, na torcida e entrei no corredor polonês. Tinha muita gente andando e gente que gritava, tentando correr “vamô gente, isso é um Iron, não é passeio no parque, não!!! Bora! Bora!” Engrossei o coro do “vamo gente!” Não estava lá pra brincadeiras. Vi a mãe e, dessa vez, não parei. Mandei o beijo de longe. (O Wagner disse que me batia se me visse parando pra dar beijinho e eu estava com medo de apanhar. É sério.)
Ondas!
A hora que avistei o mar pra encarar a segunda perna, vi que o vento tinha mudado. Duas ondas estouraram enquanto eu me aproximava, fazendo um strike. Assim que a segunda estourou, o mar baixou e eu, vupt, atravessei a área de maior risco e fui embora. Timing! Como diz o Kevin Johansen “timing is the answer to success!”
A correnteza parecia puxar mais e, na volta, consegui avistar a bóia amarela e me alinhar com ela. O efeito jonhson tinha, felizmente, passado.  Do outro lado tinha pedras. Eu lembrava bem disso. Queria passar bem longe delas. Com o mar feroz daquele jeito, era prudente passar o mais longe possível.
Assim que deu pé, puxei o zíper da roupa e comecei a tirá-la. No meio treino na piscina, tirar a manga do braço com o Garmin tinha sido um tormento. Teria de fazer isso dentro d’água – seria muito mais rápido.  E a onda veio e me ajudou a arrancar as mangas. O creminho da cunhada – karité butter da Body Shop, foi sensacional. Valeu, Roxana!
Saí com 1 hora e nove minutos do mar. Não tão bem como em 2010 mas, pelas condições, acho que não fui a única. Desta vez minha sacola não estaria perdida (se estivesse seria fácil localizá-la com todos aqueles adesivos) e, assim, meu tempo de transição compensaria essa diferença.

3 comentários:

  1. Oi Cláudia, o que aconteceu com o restante do relato???? Estou esperando :) a mais de 1 semana :)

    Bjs
    Lu

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  2. Caramba Clau....no fim o shampoo não foi uma boa idéia. Antes tivesse confiado no bom e velho "cuspe"...rs.

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  3. Parabéns pela prova (já li todos os posts), e com relação ao shampoo fica aquela lição que você com certeza conhece de cor: jamais use algo pela primeira vez no dia da prova. Como ex-nadador eu informo que NADA é melhor do que o cuspe colocado com óculos seco. Parabéns de novo, e boa sorte na (inevitável) tentativa de ir pro Hawaii.

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