sábado, 12 de dezembro de 2009

Meu pé, meu querido pé, que me aguenta o dia inteiro

Meus pés sempre foram um caso sério. Quando eu era pequena, era chato e virado pra dentro. O pediatra sugeriu que eu usasse botinhas ortopédicas. Felizmente, minha mãe bateu o pé e não acatou a sugestão. A outra opção era me tornar um pé-de-valsa e fazer dança. Felizmente, de novo, minha mãe teve o bom senso de não me colocar no balé clássico (esta crueldade fiz comigo mesma mais tarde) mas em aulas menos rígidas.
Embrenhei-me pela tal “expressão corporal”, depois pelo jazz, dança moderna e dança contemporânea, flamenco, danças étnicas e até mesmo o tal do balé clássico. Isso sem falar na capoeira e na ginástica olímpica com as quais dei uma “ficada”.
Meu pé ganhou corpo. Na adolescência usava sandália de couro ou tênis bamba. Nas férias, andava muito descalça pelas pedras das praias. Ele foi se tornando um indomável.
Quando as primeiras situações mais formais foram surgindo, começou o drama. As primeiras vezes de salto alto foram uma aventura. Pensa que é fácil se equilibrar naquelas alturas? Isso sem falar nas bolhas do calcanhar. Acho que determinados sapatos deveriam vir com um aviso igual o de cigarro: O Ministério da Saúde adverte: este calçado é prejudicial à sua coluna.
Bico fino, nem pensar. Sinto-me com a própria irmã malvada da Cinderela, tentando enfiar aquele pezão dentro do delicado — e minúsculo — sapatinho de cristal. A diferença, no meu caso, é que eu não ia garfar nenhum príncipe no caso de conseguir calçar os sapatos.
E olha que não sou Marcelinho Carioca, mas tenho quase pé-de-anjo. Até a gestação dos gêmeos eu calçava 35-36. Agora calço 36-37 e, em um caso excepcional, tenho um tênis USA 8,5 que corresponde ao nosso 38!
Depois que comecei a correr, a vida dos meus pés ficou ainda mais complexa. Não sei, mas acho que eles ficaram ainda mais rebeldes e musculosos. É raro conseguir que eles fiquem felizes confinados em calçados fechados que não sejam tênis e em calçados abertos que não sejam chinelos. Isso é um problema porque a “senhora diretora” não pode ir de tênis ou chinelo ao Gabinete do senhor Secretário e nem tampouco receber pessoas “de fora” nessas condições.
É também difícil conseguir comprar sapatos. Uma coisa é experimentar por 30 segundos na loja, outra, muito diferente, é caminhar da Avenida São Luis até o Largo do Arouche com eles, depois de uma reunião em que eles deram aquela inchadinha. Tenho alguns pares praticamente novos que não consegui usar mais de uma vez. Quando consigo um par que passa pelo teste da reunião/caminhada, meus pés tornam-se absolutamente monogâmicos. Casam com aquele calçado e ficam até que a morte — ou uma sola tão gasta que não possa ser recuperada — os separe.
No dia a dia profissional raramente vou trabalhar de tênis. Só quando tenho certeza de que não serei chamada para nenhum evento mais formal. Mesmo assim, já aconteceu de ser convocada de última hora para uma cerimônia no Palácio dos Bandeirantes e ter de improvisar pegando uma blusinha mais ajeitada com uma e um sapatinho (que ficou apertaaado) com outra, porque naquele dia estava justamente vestindo tênis e camiseta de corrida.
Demorei pra me acertar com os tênis, sapatilhas e meias na minha vida esportiva e ainda não consegui deixar meu parzinho totalmente satisfeito. Rebeldes, fortes, indomáveis e sensíveis meus pés sofrem com bolhas, com um Neuroma de Morton que os deixa dormentes, formigam, incham, ficam apertados. No inverno, ficam gelados durante o pedal da madruga, e, depois de algum tempo, adormecem. Durante as provas longas, incham muito e, em Penha por exemplo, não consegui ficar com a meia do pé direito de tanto que me apertou.
Meus pés também são uma área vulnerável: já tive fratura por estresse no segundo metatarso, fasceíte plantar e tendinite dos fibulares e do calcâneo.
Não tem jeito, pra melhorar a vida desses meus pés de chinelo, tive de fazer várias experiências.
Fiz o teste da passada, meu pé, depois de tanta atividade, não é mais chato, é cavo e estou usando uma palmilha. Isso ajudou. Para correr depois de pedalar 90k, tênis 38 e meia velha! Bolinha de tênis para ser pisada ao longo do dia, quando estou só ou bem acompanhada, na minha sala. Alongamento da panturrilha. Sempre. Unhas curtíssimas. Algumas quase não existem – mas nunca perdi uma delas. Tirar os sapatos sempre que possível. Tênis Mizuno ou Newton. Meia, ainda não me achei. Gostei da biofresh, mas ainda não testei num treino mais longo. Não gostei nem da Adidas nova nem da Asics. Tive umas Adidas simples que eu adorei. Usei-as todas até furar. Alguém tem alguma dica?
Agora, verdade seja dita: meus pés parecem de lavrador. Cheio de calos, ressecados, cheios de cicatrizes das bolhas arrebentadas. Lindos. Tão lindos que eu nunca vou “fazer o pé”. Acho ridículo ter as unhas dos pés pintadas e não vejo mais como domesticá-los: são uns selvagens.
Mas temos que dar a maior atenção para eles. São eles que nos deixam por o pé-na-estrada e correr como um pé-de-vento. Podem mudar a nossa sorte, como um pé-de-coelho ou acabarem com a gente, num pé-d’ouvido. Xiii, melhor encerrar o assunto, que isso já está sem pé nem cabeça.

3 comentários:

  1. Cláudia, pra corridas longas, encharco os pés em vaselina e uso meias com 5 dedos da injinji. Terminei os 75k de Bertioga só com uma pequena bolha do lado do calcanhar! Pra mim, independente da marca, pra não incomodar ou dar bolhas, as meias não podem, de jeito nenhum, ser apertadas ou de algodão. E todos os meus tênis de corrida são 1 ou 2 números maior que meus sapatos sociais.

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  2. Ola Claudia, em relação as meias achei as melhores para mim que são da marca Injinji. Sofri muita descriminação no começo (vc vai entender). Mas meus pés agradecem já que nunca mais depois que comecei a usa-las tive bolhas ou qualquer problema nos pés. Elas usam o tecido coolmax que deixam o pé seco.

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  3. Ola Claudia, as meias Injinji vc só encontra lá nos EUA. Ainda não encontrei por aqui. Caso o seu tamanho for médio (precisa entrar no site deles para ver a medida) teria uma para te arrumar. Me avise. Então sábado passado fiz o treino de bicicleta e vou também nos treinos durante a semana. Treino com o Emerson também. Vou correr na quarta-feira e vou ver se te encontro por lá.

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