sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Equipamento em manutenção

Uma das coisas que mais me irrita é quando um elevador, uma esteira ergométrica ou um aparelho de musculação estão com a mensagem acima. Escrita num pedaço de papel ou numa plaquinha de plástico, dá na mesma. Na maioria das vezes é a mais absoluta mentira. Não se avista ninguém nas proximidades com uma caixa de ferramentas, macacão sujo de graxa e muito menos fazendo a manutenção do equipamento. Ninguém tem coragem de escrever a triste realidade: equipamento quebrado.

No meu caso, entretanto, “equipamento em manutenção” é a mais pura verdade. Estou funcionando, mas não a pleno vapor e tem sim, alguém trabalhando no equipamento. Ela não está de macacão, nem suja de graxa — pelo contrário. Está de jaleco branco, bem limpinha, mas leva consigo uma série de ferramentas: faixas de elástico, bolsas de gelo, maquininhas de eletrodos e, principalmente, um par de mãos que escondem sua força e a firmeza atrás de unhas delicadamente pintadas.

Mais uma vez, estou cumprindo uma planilha de sessões de fisioterapia. É quase um treino. Ocupa o lugar do treino. Tem momentos de muita dor. Nunca antes na história de tratamentos fisioterápicos desta atleta que vos escreve eu havia sentido tanta dor.

Mariana, com sua carinha de boneca de porcelana, pega meu braço e vai empurrando, empurrando e empurrando até que eu comece a ver estrelas, planetas, cometas e buracos negros. É para o meu bem, eu sei. Mas dói.

Logo na primeira sessão ela me conta sobre um alemão que bateu o recorde em recuperação rápida e em estoicismo. Segundo reza a lenda, ela praticamente se pendurava no braço do senhor Ingo e ele não mexia nem a sobrancelha.

Acho que ela me contou essa história pra me provocar. Decidi que não vou lhe dar o gostinho de me ver gemer de dor nem uma vezinha.

Assim, meu progresso tem sido rápido. Da primeira para a segunda vez que fui lá a amplitude do meu movimento aumentou muito. No primeiro dia eu só levantava o braço à altura do peito. Na segunda, já esta acima da cabeça!

Não contei pra ela, mas fiquei treinando em casa.
O movimento mais doloroso. (Este não sou eu. Não mudei tanto assim por ter ficado sem treinar)

Como viu que sou firme, cada dia ela força mais o meu limite. Estou adquirindo técnicas para suportar a dor e deixá-la ampliar a movimentação do meu braço o máximo possível. Fecho os olhos, respiro, deixo o corpo entregue e tento levar a minha mente pra bem longe dali, me concentro em outra parte do corpo — a mão direita por exemplo, repito, dentro da minha cabeça “já vai passar, já vai passar, já vai passar”. E passa mesmo.

Estou, claro, de olho na marca a ser superada – a do Ingo. Acho que são 10 sessões.


Lições sobre o ombro

De fato, estou cada dia melhor. Aprendi, neste período, muitos fatos interessantes sobre o ombro e adjacências:

1. O ombro é a parte mais sociável do corpo (a expressão "ombro amigo" confirma minha tese. Todo mundo gosta de por a mão nele. Repare: desde os mais íntimos, que apóiam a mão no seu ombro pra dar o beijinho de “oi”, até os nem tão chegados que dão um tapinha amistoso pra manter uma certa distância ou aqueles mais animados que dão logo um tapão. De qualquer modo, aiiii! Acredite se quiser, nem mesmo com a tipóia as pessoas tomam cuidado.

2. Usamos o ombro para uma série de tarefas que eu nunca tinha imaginado. Afivelar o cinto de segurança e ligar o pisca, abrir a tampa de um pote bem fechado, fechar o zíper da calça e girar a chave na fechadura;

3. Homens sabem vestir e desvestir blusas fechadas de um modo que usa muito menos o ombro. Veja: As mulheres, primeiro, colocam a cabeça e depois os braços, os homens primeiro enfiam os braços nas mangas e, por último, a cabeça. Pra tirar, o movimento é no sentido contrário. Tive de aprender este jeito masculino de vestir e desvestir.

5. O ombro é mais importante do que o travesseiro para uma boa noite de sono. Um ombro meia boca é prejudicial ao seu descanso. Os médicos não te contam quanto é difícil conseguir dormir. Acho que se eles contassem ninguém operaria se tivesse escolha.

Aprendi o suficiente por essas cinco semanas. Está bom. Feliz ou infelizmente, diferente de elevadores e aparelhos de musculação, nosso equipamento não sai da manutenção já pode ser usado como se nada tivesse acontecido. Nossa volta é mais lenta e gradual. Mas já estou em uso, sim.

5 comentários:

  1. Vamos lá bater o record do Alemão, isso é que é competiividade, mal soube qual o melhor registo da fisioterapeuta já está a pensar bater a marca.
    Força ;)

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  2. Claudinha,

    Tenho certeza que com a sua persistência e determinação a placa "equipamento em manutenção" vai sair do seu ombro.
    Já virei fã do seu blog, o que mais posso falar ? bjos

    Corina

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  3. Acho que ela vai parar de contar a história do Alemão por de uma "simples" mulher.
    Vais facilitar muito a vida dela daqui pra frente. Boa recuperação, Abração Claudia.

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  4. Olá Claudia, respodendo a sua pergunta eu, visito vários glogs, e acabei encontrando o seu, e achei muito bonito.Um abraço.

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  5. Oi Claudia. Fiquei contente com a sua recuperação. A plaquinha de manutenção já saiu, mas por enquanto tem outra: motor sendo amaciado...Daqui a pouco vc põe outra: à todo vapor!!!!
    Bons treinos.

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