Você procurou por "ironman" no Google? Desculpe, foi engano. Talvez tenha dado uma busca por "triathlon", ou, quem sabe, "treinos"? Lamento informar, mas hoje esses assuntos estão temporariamente fora do ar. Do mar, do chão e das rodas. Fica pra próxima, tá?
Não vou contar nada de triathlon. Nem de treinos. Esquece. Não tem utilidade. É perda de tempo você insistir. Está achando que vou contar alguma coisa sobre corrida? Relatar alguma prova, dar alguma dica, compartilhar alguma sensação? Errou.
Não conto nada. Me recuso a contar a falta que faz entrar naquele transe de uma corrida longa e lenta, onde cada passo combina com a respiração, como o baixo e a bateria numa balada de soul music.
Não conto nada também da sensação de correr até o coração sair pela boca. Não gosto mesmo. Detesto correr até o coração sair pela boca. É horrível aquela pulsação tão forte, tão rápida, tão techno. Aquele suor pingando, aquele cansaço. Ninguém vai me convencer a contar nada disso.
Não conto nada sobre correr falando sobre nada com os amigos, e rir.
Mas o que você pensa que está fazendo? Eu avisei que não iria falar de triathlon. Você está aqui ainda? Não falei de corrida e também não vou contar nada sobre ciclismo. Desista.
Recuso-me a contar sobre a vontade que estou de sentir um ventinho no rosto. Muito menos a discorrer sobre um pelotão desorganizado, que não tem ninguém pra puxar ou aquele que quem puxa não respeita o ritmo e larga os outros pra traz e não avisa os buracos... e que a gente depois passa horas reclamando desse tal pelotão como se fosse a coisa mais séria e importante do mundo. E quem foi que disse que vou contar sobre o pelotão mais organizado de todos, comandado pelas mulheres, que revezam, mantém o ritmo proposto, dão dura nos marmanjos e ainda conseguem trocar confidências quando não falta o fôlego? Não conto.
Leu até agora por que? Você é persistente, hein? Natação, nem pensar.
Não tenho nada a declarar sobre a modalidade. Tem cabimento contar sobre o paradoxo que é treinar sozinha, numa água transparente, quente, sem roupa de borracha, com uma trilha a ser seguida bem ao alcance dos olhos, uma borda para apoiar a cada 25 metros para depois nadar em águas abertas, frias, sem direção exata, levando tapas e pontapés, de roupa de borracha e sem lugar algum pra descansar? Nunca. Jamais vou contar sobre essa insanidade.
Nem tampouco sobre a insanidade que é acordar num domingo às 6 da manhã pra nadar na raia gelada da USP, ou às 5 e descer a serra pra pedalar numa avenida esburacada como a Portuária ou ainda, pegar um avião pra Penha! Sabe onde é Penha? Não conto. Não conto que é em Santa Catarina e que tem meia dúzia de quatro hotéis de meia estrela e que a gente vai pra lá e acha o máximo.
E pra que vou contar que a gente organiza a vida em função de treinos e de provas? E que incluimos no vocabulário palavras estranhas como cateye, volantão, 404, clincher, clipe, endurox R4, accel e bento box? Imagina se vou contar que são equipamentos, alimentos e outras frescurar dos triatletas. Não interessa.
Você ficou maluco? O que há com você? Acho que tem algum problema. Um problema sério. Você é obsessivo. Não desiste nunca. Vai até o limite. Até o fim. É insano. Será que você é o que estou pensando?
Genial, adorei, que belo texto!
ResponderExcluirOk, sei que está fogo, a recuperação mais difícil do que esperava, mas, como me dizia sempre o Claudio, tudo passa - e quando passa, "uno se olvida". Daqui a pouquinho você sente o vento na cara, corre como se fosse música, e nada como nada. E então vai ver que tudo valeu a pena.
Excelente Cláudia ! Quando é que acaba este tempo de recuperação pra contar algo ?
ResponderExcluirAbraço
O que dizer, sem ser redundante, óbvio e ululante????????
ResponderExcluirESQUECE. Não vou contar que como sempre, achei espetacular, apesar de imaginar e até poder sentir que por trás disso tudo está um profundo mal humor, cheio de dúvidas e questionamentos.
Relaxa. Logo a capitã do pelotão está de volta ao posto!
Claudinha,
ResponderExcluirMais uma vez amei seu texto. Acho que vc deveria escrever um livro. Vc brinca com as palavras,o texto corre solto, leve, gostoso de ler.
A verdade é que amamos treinar e essa insanidade chamada triatlon.
Espero que vc se recupere logo, tá ? beijos da sua fã
Corina
Ah mas quando voltar 100% vai cansar de contar então...vamos cobrar!
ResponderExcluirClaudia,
ResponderExcluirTá ficando louquinha, hein!!!!? kkkkkkkkk
Toma uns chás para se acalmar, my dear! Logo vc tá de volta.
Olha, ontem o Vagner Bessa me presenteou com o "A Travessura do Canal da Mancha". Só vou acabar de ler um livro do Jack London. O livro da Ana Mesquita será o próximo.
Neste sábado vou cedinho para Campos do Jordão, pois tenho um desafio de 18km do Montain Do. Vamos ter que deixar para o próximo, pois acho que até lá já estou recuperado.
Que horas vocês costumam aparecer lá na padaria?
Haha, ia falar alguma coisa aqui, mas esquece. Não conto! :-)
ResponderExcluirAbraços!
Rodrigo Stulzer
transpirando.com
KKKKKKKKK que demais Claudia,escreve um livro por favor.Fantástico esse texto.No mínimo vc deveria ser colunista da Vo2,trisport,O2 qualquer uma de esporte.Sem palavras.Que talento para descrever o sentimento,cotidiano e outras frescuras dos triatletas.Simplesmente Showwwwwwwww!!!
ResponderExcluirPerfect, hehe. demais mesmo.
ResponderExcluirSe você tivesse contado, eu teria ouvido.
ResponderExcluirRecupere-se logo e depois venha contar tudo, com esse jeito poético que, quem diria, pode ser despertado não por um "ser amado", mas por um "meio de ser", um "meio de viver".
É mesmo assim, nunca conheci ninguem tão teimosamente persistente quanto um Triatleta, é paixão um capricho eterno que primeiro se estranha mas depois se entranha.
ResponderExcluirNão tem mais jeito não...