Meus pequenos estão contagiados pela febre do skate. O único que ainda não pegou foi o Theo e, a essas alturas, acho que não vai pegar. Mas posso me enganar. De qualquer modo, o trio ganhou skates do pai, aula de skate de um professor contratado pela mãe e, embora o futebol ainda ocupe parte da rotina e pensamento, o esporte sobre rodinhas está em primeiro lugar na competição.
Neste fim de semana acontecia um dos grandes eventos do skate. A tal da megarampa. Vagner, meu piloto, me deu a letra. Fiz o pedido dos ingressos pelo site. Meu plano era passar essa bola (ou seria essa roda?) pro pai. Afinal, era programa para meninos. Eu ia aproveitar pra pintar o cabelo que já faz uns 4 meses...
Mas, quis o destino que o pai não voltasse de sua viagem de trabalho. Eu não poderia deixar os meninos de fora dessa. Imbuí-me do espírito de “pãe” (espécie de pai misturado com mãe) e lá fomos nós ao sambódromo. Já quer era pra ir, eu iria aproveitar.

Peguei os três pelas mãos e fui entrando.
Um primeiro segurança me barrou: “Documentos!”.
Eu “os meus?”
Ele “Das crianças”. Eu “Não trouxe, ninguém avisou”.
Ele “sinto muito, senhora, não está autorizada a entrar”. A pimenta me subiu. O coração acelerou. Decidi comigo mesma que iria entrar.
Disse pra ele “vou entrar. Isso não está certo. Ninguém avisou em lugar algum”.
O cara veio com aquela conversa idiota “senhora, eu só cumpro ordens”.
Retruquei “Ah, é? Ordens de quem? Chame a pessoa aqui, que eu vou conversar com ela!” O segurança, investido do seu poder que deve vir no bolso de seu terno ridiculamente preto para o calor da ocasião, me ignorou solenemente. Sabe o que fiz? Catei os meninos pelas mãos e fui entrando. Ele tentou me segurar. Não conseguiu. Soltei-me e sai andando rápido. Gritou para outro segurança que tentou me impedir, também me desvencilhei e segui em frente.
A galera vibrava “Deixéla entrar! Deixéla entrar!”.
O Ian chorava “mãe, você vai ser presa!”
E eu “Não Ian, não vou. ELES é que estão errados, não nós”. Acho que os seguranças não contavam com a minha determinação. Me deixaram passar, contando com os próximos controles. No seguinte ninguém pediu nada. No terceiro, um gigante me pediu os documentos. Olhei bem nos olhos deles e disse que afinal, eu era uma senhora de 45 anos, com três filhos pequenos, que tinha vindo de longe e agora não ia voltar porque eles não tinham feito a divulgação deste detalhe. Ele pediu meu documento (afinal, tinha de ter uma saída honrosa para eles) e nos deixou entrar. Mais tarde, em virtude da revolta que este requisito estava causando, eles recuaram e improvisaram um termo de responsabilidade para os pais assinarem na hora. Mas isso foi só depois do barraco que eu armei.
Bom, mais isso é um detalhe.
Lé encontramos o Vagner e seus filhos, depois a Brigitte (que trabalha comigo) e seu filho Daniel com quem os meus fizeram a maior farra jogando aviõezinhos de papel nas pessoas que ficavam de pé.
A apresentação dos skaters e dos BMXs foi show de bola. Ou melhor, show de rodas. Não posso descrever as manobras que eles fizeram porque, para mim, a descrição dos narradores parecia toda inventada. Em uma das manobras, a impressão que tive foi que o Bob Burnquist (nosso brasileiro, exportado para a Califórnia) pegou o skate embrulhou, envelopou, mandou pelo correio, recebeu a remessa, tirou do envelope, desembrulhou, montou em cima e voltou pra rampa. Inacreditável.
Pedro Barros, um menino de apenas 14 anos, fez bonito. Bom. Só de estar lá, já é um feito.
Eles erram muito. Tomam muito tombos. Sabem cair. Levantam, sacodem a poeira e pegam o elevador. São aplaudidos no erro e no acerto. Mas no acerto, a multidão vai ao delírio. Não importa se é um brasileiro ou um estrangeiro. Mas Bob era, de longe, o mais querido. Diga-se de passagem, é megassimpático! Aliás, aparentemente, todos são humildes. Olham para o público, agradecem, se desculpam. Brigam com o skate.
Na segunda parte, foi colocado um corrimão entre a mega rampa e a outra rampa. E por lá eles deveriam passar, tentando manobras das mais variadas. O vento começou a soprar mais forte e aí estava mais difícil ainda de acertarem. Aí foi a vez do cabeludo Lorifice, fazer bonito. Levantamos a hipótese de que seu cabelo ajudava a planar sobre o corrimão.
A esquadrilha da fumaça também deu as caras, desenhando “ois” no céu. Pena que a anta da repórter que ficava “na galera” (acentue-se com sotaque carioca) chamou de ESQUADRIA da fumaça.
Os meninos ficaram fascinados. Eu também. O que mais gostei foi do fato de eles errarem tanto e seguirem tentando fazer de novo, fazer melhor, fazer mais difícil. Gostei, porque é belo. É contra a gravidade e a favor da gravidade. Por que a queda faz parte e porque é fundamental saber cair. E às vezes a queda é também ridícula. E é tão, mas tão corajoso ser ridículo na frente de uma multidão!
Quero mais é que meus filhos joguem bola e andem de skate e pratiquem toda a sorte de atividade que os façam viver uma ampla gama de sensações físicas e afetivas. Isso vai torná-los aptos a fazer o quer que venham a escolher como esporte, mais tarde em suas vidas e, penso eu, também vai deixá-los mais flexíveis para as rampas, corrimões, buracos e estradas que o destino lhes vai oferecer.