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Cada macaco... (ilustração tirada do Blog Sopa de Idéias) |
Entretanto há situações que em que é necessário compartilhar o galho e isso promove encontros, no mínimo, inusitados.
Estrada dos Romeiros
Como o próprio nome diz, a estrada é deles. Assim, pelo menos uma vez por mês, eles vêm aos montes, simulando uma ida à Roma, carregando em suas carroças aparelhos de som turbinados de onde bradam músicas sertanejas narrando histórias tristes de amores, despedidas, jornadas, saudades, amigos e, claro, cavalos. Estes, e seus primos jumentos, também fazem parte do tour religioso. Ao longo da pista é fácil identificar os rastros que deixam pelo caminho. Há também bicicletas paramentadas com chupetas(?), ursinhos de pelúcia e outros souvenires intrigantes. Participam jovens, velhos, crianças, mulheres, chapéus, bonés, garrafas de cachaça, cobertores, estandartes, berrantes e até santos e santas.
E, de repente, no meio deste happening, surgem os triatletas, também fazendo sua peregrinação. Nossa Meca é outra: Hawaii, mas nos contentamos em sonhar com Floripa, Pirassununga ou, simplesmente, Santos. Mas nos vemos ali, dividindo o chão com outra turma. Eles nos olham espantados, rapidamente notam que não pertencemos à romaria deles mas, os mais atentos, perceberão que também há devoção em nossos olhos. Assim, na maioria das vezes, não há brincadeiras de mau gosto ou atrevimento. Seguimos cada qual com seu Deus, com sua oração, mantra ou ladainha (WIT- what it takes é a de alguns).
No final, pagamos nossos pecados na subida do “cala a boca”, enquanto os romeiros pagam suas promessas.
Riacho Grande – os cantores de karaokê
Ali, ao lado da represa, enquanto tiramos a bike do carro, vestimos capacete e sapatilhas, abastecemos as caramanholas e passamos protetor solar, a música no boteco em frente rola alta e umas poucas vozes desafinadas denotam o clima de fim de festa. Uma moça, vestida a caráter (ou seria melhor dizer falta de?), sai de dentro trançando as pernas. Sem a menor cerimônia, ela vomita. Num carro ali perto, um rapaz e uma moça fumam, discutem, gritam um com outro e ela chora. Sua maquiagem já se transformou numa máscara de pierrô.
Por uns 20 ou 30 minutos, triatletas e karaokeiros (karaokistas??) compartilham o estacionamento. Os primeiros começando o dia enquanto a família dorme, entre planilhas e quilômetros, suplementos e endorfinas, os outros, terminando a noite, enquanto a família dorme – entre tapas e beijos, cigarros e vômitos.
A troca de olhares entre os dois grupos não chega a ser hostil, mas não é tampouco amistosa. Parece que cada um olha para o outro e pensa: como eles podem viver assim?
Riacho Grande – pescadores
Tá estressado? Vai pescar! São os dizeres do adesivo que decora o Voyage 89 estacionado à beira da represa. Eles também levantam cedo, munem-se de paciência, alimentos, equipamentos e rumam pra beira da Billings.

Nós triatletas passamos pra lá e pra cá, pra cá e pra lá, sentimos o cheiro da carne sendo assada, ouvimos a algazarra das crianças na água, observamos aquele pescador que, como nós, persiste em sua atividade, incansável. Somos observados por eles com crescente indiferença a cada volta. Eles se acostumam como nosso ir e vir, nós nos acostumamos com o ficar deles.
Na praia
Biquínis mínimos, sungas e calções de tamanhos variados, grande profusão de barrigas máximas.. Eis que... O que é aquilo? Um pingüim? O Aquaman? Um ET? Não. Magro e emborrachado dos pés à cabeça, é um triatleta pronto para treinar.
Longe da beira, pra não trombar com os banhistas, o triatleta muitas vezes é perseguido e admirado por remadores (eventuais) de caiaques e botinhos de borracha, que costumam se aproximar pra ver que espécie de animal aquático é aquele.
O convívio costuma ser pacífico. Já a aproximação de lanchas e jetskis pode deixar o triatleta nervoso e agitado.
Ciclovia
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Placa na ciclovia - (do blog De Verde Casa) |
Ali os habitantes são outros mamíferos: roedores. As placas avisam logo no início do trajeto: cuidado com os animais silvestres – capivaras. E lá estão elas, tomando sol à beira do perfumado Rio Pinheiros, sem tomar conhecimento dos primatas sobre rodas.
Mas não são apenas as simpáticas capivaras que freqüentam o pedaço. Outros roedores, nada simpáticos, também atravessam a pista sem a menor cerimônia. Outro dia estávamos por ali e o mesmo rato (que parecia mais um cachorro) cruzou a pista na nossa frente três vezes.
Eca.
Outras
Estas são algumas situações permanentes em que invadimos ou compartilhamos os galhos alheios. Mas há outras, mais esporádicas: entrar no banheiro do posto de gasolina no meio de uma estrada – suada, de capacete e sapatilhas – enquanto o pessoal que veio de ônibus lá de Aparecida faz uma parada. Aparecer na piscina da academia com a roupa de borracha pra fazer um treininho pré prova. Parar no meio de um longão na chuva, ensopado e entrar numa padaria qualquer pra comprar um gatorade.
Por um lado, a gente vai se acostumando com os olhares incrédulos, mas, por outro, é preciso tomar cuidado pra não achar que somos mais donos dos galhos do que os outros macacos que os freqüentam conosco. Com exceção, é claro, do que não são macacos, são ratos.