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Ronaldo, Serginho, Diogo, Kaká, eu, Wagner e Roi. Missão cumprida. |
Pico
Domingo, dia 1º de maio, rolou
o treino de bike. É aquele tal, de 180 kms, para o atleta ganhar confiança, saber que dá conta do recado, que segura as pontas (as costas, as pernas, os quadris). Nessa mesma semana rola também o famoso
mais longo de corrida que, para alguns ultrapassa os 30 kms mas, a maioria faz até esta marca. É o pico do treinamento. E a sensação é essa mesmo. Vamos subindo, subindo e a cada semana a trilha fica mais íngreme, mais cansativa.
Temores
O Wagner, meu querido técnico, decidiu organizar um treino na estrada: Ayrton Senna/Carvalho Pinto. Relutei muito em ir. Muito mesmo. Tenho um medo lascado de morrer na estrada. Sou cautelosa, não solto o freio e vou a 60 por hora nas descidas, ando o máximo possível à direita, presto a maior atenção nas entradas e saídas da rodovia mas... Não depende apenas de mim. Um carro desgovernado, um caminhão distraído, um buraco no acostamento... A chance de um incidente transformar-se em acidente e em uma tragédia, existem e não são remotas. Além disso, não gosto de retardar o grupo quando sei que a maioria pedala mais forte que eu. E ficar sozinha na estrada, não dá.
Depois de muito ponderar, discutir com o Wagner todos estes medos e saber que: 1. teríamos dois carros de apoio, 2. ele pedalaria uma boa parte com os mais lentinhos, 3. que meu maridão iria me escoltando, acabei topando.
Amanhecer
Chegamos no posto BR da Ayrton Senna com o dia clareando. O grupo era: Kaká, Ronaldo e Diogo - mais fortes e Serginho e eu - cafés com leite - e o Roi, meu marido, que não é café com leite, mas foi um doce e nos acompanhou. Wagner saiu pedalando junto e ficou - até decidir ir pro apoio - na rabeira. Karlinha, namorada do Kaká, e Dani, esposa do Wagner, deram o apoio, cada uma em um carro.
Primeiros quilômetros
No início, não escondi de ninguém que estava absolutamente tensa. Agarrava o guidão como se ele pudesse tentar escapar. Não parava de me perguntar "porque diabos entrei nesta enrascada? 180 quilômetros! Não vai acabar nunca!"
Chegamos ao primeiro pedágio e foi uma piada, pois passamos por uma cancela do Sem Parar, sem parar, o que fez com que um alarme disparasse e uma das cobradoras viesse correndo atrás da gente. Fizemos de surdos e seguimos em frente.
Relaxing
Depois da entrada para Mogi, o movimento diminui um pouco e comecei a me acalmar. O Wagner, que não é tatu, ficou do meu lado um bom tempo batendo papo, me dando uns toques sobre mudança de marcha e outros temas técnicos, falando da vida...cuidando de mim, me pageando sem me constranger.
A Dani parecia estar escoltando uma prova, não um treino. Torcia, vibrava, fotograva (todas as deste post são dela), gritava "Vaaaaaai Irooooooon!" "Vaaai Chrissie Wellingtoooon!". Era ótimo. Eu dava risada e lembrava porque estava ali.
Lá pelas tantas o Wagner ficou atrás com o Serginho e o Roi cuidou de mim, me ajudando em todos os trecho em que havia bifurcações, saídas e entradas de outras rodovias. Eu imaginava que ele devia estar louco pra ir com os caras que dispararam na frente, mas ele se controlou bem.
Túneis
Uma das partes mais desagradáveis é passar pelos túneis. São três, não são muito extensos, mas a combinação de barulho com escuridão é apavorante. Quando calha de passar um caminhão, o ruído é ensurdecedor. A única vantagem é que dentro deles o acostamento tem o dobro do tamanho.
No Iron, também passamos por um túnel, mas sem o trânsito de carros, então, não há o barulho. Em compensação, não sei porque, é o lugar em que muitos atletas decidem descer de suas bikes e marcar território. Dá pra imaginar o cheiro.
Agua e gatorade
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O xerife, esperando eu passar. |
Normalmente, quando treino na USP, na ciclovia ou outros lugares, costumo dar uma paradinha para reabastecer as caramanholas de agua e gatorade, já que, diferente da prova, não tem ninguém pra me entregar enquanto pedalo. E, confesso, acho ótimo. Essas paradinhas são providenciais, pois o treino é longo, estou exausta e é uma desculpa legítima pra parar por um minutinho que seja.
Mas não quando você vai treinar com seu técnico e ele decide que não tem paradinha, não. Ele mesmo vai dar uma de voluntário e entregar a água e o gatorade enquanto você passa por ele. É mole?! 180 km e nenhum refresco?! Só faltou ele me dizer "minha filha, é pro seu bem! você ainda vai me agradecer isso um dia..."
A volta e o pneu
Então o retorno foi feito já pertinho de Taubaté, sem nenhuma paradinha no Frango Assado. (E olha que eu adoro entrar no banheiro feminino, de sapatilha e capacete, toda desgrenhada, enquanto a mulherada do Cometão, tão desgrenhadas quanto eu, após 36 horas de viagem, me olham com aquela cara de "de que planeta ela veio?)".
E a volta é mais dura. Não só porque vc já está com 90 kms em cada perna mas porque a gente sai de 800 metros de altitude e chega a 300. Na ida não parece que tem mais descidas. Mas na volta COM CERTEZA tem muito mais subida.
Lá pelas tantas, Dani e Karlinha emparelharam o carro (o Wagner estava no outro, traidor, não pedalou na volta) e eu implorei: dá uma caroninha??? Só uns 10 kms... eu não conto nada pro Wagner... depois eu te recompenso... você não vai se arrepender!" Não teve jeito. Ela não cedeu.
A coisa estava tão feia que comecei a pensar "fura pneu! fura pneu! assim vou poder esticar as pernas um pouquito!"
Um anjo passou, fez amém na mesma hora. Entre o primeiro e o segundo túnel, furou não uma, mas duas vezes! Nunca fiquei tão feliz em ter um pneu furado! O Roi ficou comigo quase todo o tempo, e estava ali àquelas alturas. (Obrigada, amor!) Embora eu tenha feito boa parte da operação sozinha, tem um pedaço que as minhas mão femininas não dão conta: terminar de colocar o pneu na roda. É muito duro!!!
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Subida na ida... |
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...subida na volta! |
Chegada
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Karla, eu e Dani - mais que apoio, torcida! |
Custou mas acabamos chegando. No início de um retão, Karlinha cantou a bola "é logo ali!". Só que não era. Era
lááá, não
ali. Não chegava nunca. Minhas costas, ombro e quadris estavam imprestáveis.
Finalmente chegou. Paramos no posto no sentido SP. Lá Karlinha, Dani, Roi e eu aguardamos Wagner para fazer o transporte para o outro lado. Fomos de carro já que parece que o retorno perto do posto onde deixamos os carros é perigoso. Enquanto esperávamos, Roi foi se trocar e eu e as meninas levamos aquele papo feminino, que cria intimidade em cinco minutos. As duas - Karla e Dani - já moram no meu coração!
Lá chegando revelei a surpresa que havia preparado para todos: pão de ló recheado de doce de leite (leite moça cozido) - praticamente um bem-casado, só que sem o açúcar por cima. Delícia! Foi devorado com muito prazer por todos.
No final, gostei de ter ido. Sim, Wagner, nem vai demorar o dia pra eu dizer "você tinha razão". Independente do resultado da prova, sei que
já sou uma atleta melhor do que era antes de treinar com você - e você é sim o maior responsável por isso. Obrigada.
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Repartindo o bolo. Hummmmmm. |