domingo, 31 de janeiro de 2010

Super 12 horas - ou "vamos pular de mãos dadas?"

The Superpower Girls: Cris, Gra, eu e Dani

Foi uma noite e tanto. Conforme Josélia Pegorim  e eu havíamos previsto, a chuva parou e Perigeu pode dar as caras.
Chegar ao local da prova já era o início da aventura. Saindo da Anchieta, passando por motéis que ofereciam suas acomodações por apenas R$ 15,00 - incluindo camarão, entrávamos numa estradinha de lama, areia e cimento, entrando nas obras do Rodoanel, cruzando as pistas de um lado a outro, por entre máquinas, homens e viadutos, até que se avistasse uma aglomeração de carros, tendas e pessoas.
Felizmente, o Zé Edu, atleta MPR que havia entrado em contato comigo uns dias antes para falar sobre a prova, já estava por ali, perto da área de largada, montando a sua tenda presidencial.  Como a Dani e o Celso - que estavam incumbidos de trazer a nossa tenda - não haviam chegado, decidi queficaríamos por ali mesmo. Bom para todos: Zé Eduardo e sua dupla - Faustolo, teriam sempre gente para olhar as coisas nos momentos de "passar o bastão" e nós estaríamos confortáveis, próximos da saída e, claro, em boa companhia.
Logo chegaram Graciela e o inseparável marido, Junior seu marido, Cris e sua trupe - Robert, o marido,e os filhos Thomas e Nicholas. Eles trouxeram uma também barraca presidencial que seria nosso vestiário e local para descanso. Ela foi montada num ponto estratégico, meio dentro da tenda. Ficamos muito bem estruturados: dois coolers, mesa, poltronas, colchonetes, sleeping bags, canivete suíço, comida e bebida suficientes para passar um mes. Faltou só uma toalhinha bordada pra colocar na mesa. Duas casas pra baixo, meu marido, Marcos e sua equipe, instalaram sua humilde morada. Como bons vizinhos, emprestamos xícaras de açucar e canivete suíço sempre que eles pediram.
Mas havia gente com mais recursos do que nós. Ônibus e motorhomes, com banheiro privativo e até mesmo um jardinzinho!
Aos poucos, uma estranha cidade foi se configurando em cima daquele viaduto. Tendas acompladas a carros, barracas de camping, cadeiras de praia, mesas cheias de frutas, isotônicos, barrinhas, energéticos. E bicicletas. Para onde quer que se olhasse. Bicicletas penduradas, sentadas e deitadas, de todas as cores e marcas.
Dani, nosso quarto elemento, e Celso, seu noivo e ciclista prof, chegaram em cima da hora. Mas não tivemos problemas. Às 20 horas estava tudo pronto para a largada.
A primeira atleta fui eu. Fiz as voltas 1, 5 e 9. Eram 26,6 km num percurso em H, com alguns aclives e declives não muito íngremes, algumas curvas abertas, terreno de cimento na maior parte do tempo, asfalto em alguns trechos (os melhores) e outros de "elemento X" ( que diabo era aquilo?).
O grande problema era a escuridão. Na primeira volta a lua ainda não havia nascido e estava um breu. Sou míope, tenho astigmatismo e, pra não usar um termo mais forte e mais feio, sou medrosa. Ou prudente. Deixei o pelotão sair e fui sozinha, adivinhando o caminho. Não deu pra ir na roda de ninguém. Os faroletes iluminavam, mas não a ponto de me deixar segura. Em lugares onde havia máquinas, estreitamento de pista e nos retornos, havia enormes holofotes que ofuscavam completamente a visão de quem ia ao encontro deles. A salvação era tentar focar nas silhuetas dos cones que marcavam o trajeto. Quando eles estavam nas costas, era ótimo.
Dani e Celso, Zé Edu e eu

Foi um alívio terminar a primeira volta.
Nas primeiras voltas, o clima no acampamento era animado. Parecia uma festa. Um woodstock sem hippies e sem maconha.  O povo da favela ao lado se interessou pelo evento. Famílias, casais, turmas de meninos e adolescentes, passeavam entre as tendas, cervejinha na mão, admirados. Nos olhavam como quem olha um animal num zoológico.
Gente caiu e se machucou, circulou um boato de que um pessoal estaria jogando pedras nos ciclistas e isso deixou o ambiente tenso por um tempo.
Mas aí, ela, a lua, deu o ar da graça, a polícia entrou em ação e a segunda rodada de voltas foi mais gostosa pra todo mundo.
Recebemos a visita da Thelma, com Mônica e Cururu - duas amigas da Sumaré Sports- e, como eu estava no meu período de descanso, fiquei tomando um banho de lua, falando bobagens e bebendo energético. Demos boas risadas.
A esposa do Zé Edu, com uma amiga e uma de suas filhas, também apareceu a uma da manhã com sanduíches fresquinhos. Que corajosa! Embrenhar-se por aqueles buracos,, naquela hora.
Na madrugada, a temperatura foi caindo e os ânimos esfriando. Um orvalho úmido e gelado se depositou nos bancos das bikes expostas.
Uns se enfiaram dentro do carro para dormir um pouco, outros encolhiam-se como podiam em suas tendas. 
Na terceira rodada de voltas, estavamos todas cansadas. Somos seres diurnos. Passar a noite em claro é um esforço supremo. As conversas diminuíram, o tom de voz abaixou. Só não havia silêncio pois alguns insistiam em compartilhar seu som com todos da cidadela, colocando num volume desagradável.
Entrei para meu último trecho as 4 da matina. Mais escuro. A lua estava encoberta, não havia sinal do amanhecer e eu já estava vesga de cansaço, principalmente por não ter pregado o olho nem por um minuto. Obviamente, foi meu pior tempo. Cada um de nós que se dirigia à area de largada em seu último trecho, ia quase a contragosto. Não dei a sorte de pedalar à luz do dia, mas aqueles que o fizeram, disseram que foi muito mais gostoso, apesar do cansaço.
Às 8 horas da manhã, a prova começou seu término. Cris, nossa atleta 4, terminou sua terceira volta fechando 12 horas e 15 minutos de prova para as Superpower Girls.
Havia apenas um outro quarteto feminino. Meninas bem mais jovens e mais forte do que nós - incluindo a minha querida fisioterapeuta, Cacau. Portanto, estávamos totalmente conformadas com a idéia de ficar em 2º (e último) lugar. Ao longo da prova, elas foram abrindo uma distância respeitável. Qual não foi nossa surpresa ao sermos chamadas para o primeiro lugar! Uma delas teve um problema com o pedivela e o carro teve de resgatá-la. A organização da prova ( ou seja, o Célio)  decidiu desclassificá-las. Mas, como ele meio maluco, desclassificou, mas deu o segundo lugar. Vai entender... Elas estavam até reticentes em receber os troféus.
Eu e Gra subimos no pódio e comemoramos. Afinal, pra vencer, às vezes é preciso um pouquinho de sorte também. Dani já havia ido embora e Cris estava recebendo uma massagem (deliciosa) que havíamos contratado.


Mais tarde, largada ao lado de uma piscina, tentando me recuperar da falta de sono, escutei uma menina propor às suas amigas: "Vamos pular na água de mãos dadas?". Todas  toparam, todas entraram juntas. Eram quatro.
Lembrei de como gostava disso quando era criança e, de repente, me dei conta de que, nesta noite, havíamos acabado de fazer.
Nos jogamos, as quatro juntas, dentro de uma aventura. Nos lançamos na escuridão, com apoio recíproco umas das outras. Nos momentos em que tivemos vontade de pular fora, o compromisso firmado entre nós, falou mais alto. Nenhuma ficou pra trás, nenhuma brecou o mergulho, nenhuma foi forçada. Entramos, como aquelas quatro meninas na piscina: mãos dadas, apertadas, friozinho na barriga, mas confiança naquela união. Valeu, meninas!

Um comentário:

  1. Parabéns IronMom!!!Embora todos esses problemas que as provas no Brasil ainda sofrem, vcs se saíram muito bem diante de tantas adversidades. Parabéns pela loucura que foi a prova e claro, o pódio!!!!
    Grande Abraço!!!!!!!

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