domingo, 6 de junho de 2010

Iron 2010, diário de uma insanidade ou 11 horas 35 minutos e 17 segundos que levaram quase um ano pra acontecer

Parte 5 (partes 1, 2, 3 e 4, abaixo)

Na água
Dado o sinal, entramos todos na água. Fiquei posicionada à direita, pois a correnteza puxava pra esquerda. Eu e a torcida do Corinthians. A do Flamengo. A do Boca. E a do River Plate também.
Nas primeiras dezenas de metros não conseguia avistar a bóia e, de verdade, nem me preocupei com isso. Segui o fluxo e vi que tinha gente à minha esquerda e à minha direita. Às vezes em cima e embaixo também. Portanto, não deveria estar no caminho errado.
Tomei algumas bordoadas, mas menos do que imaginava. Depois da prova localizei um tremendo hematoma na coxa. Não tenho a menor idéia de como ele foi parar lá, mas deve ter sido durante a natação.
Finalmente avistei a primeira bóia. Estava indo na direção certa!
No contorno da bóia, formava-se uma correnteza e nem era preciso dar braçadas. Cabeça pra fora da água e ia sendo puxada pela multidão. Pensei "beleza. Não estou fazendo feio. Tou no meio da galera".
Da primeira pra segunda bóia são uns cento e pouco metros. Adernei pra esquerda, mas logo corrigi. Tentei pegar umas esteiras mas, ou o cara acelerava e eu o perdia,  ou eu que estava mais rápida e precisava logo ultrapassar. De qualquer modo, percebi que o fato de estar naquele bolo de gente, torna mesmo a natação mais fácil e rápida.
Contorno da segunda bóia, também com correnteza. Rumo à praia. Como estava loooonge. Para a felicidade dos míopes e astigmáticos como eu, havia um enorme balão de ar na praia, em direção ao qual nadei boa parte do tempo. O inflável vermelho, o ponto exato onde iríamos sair, estava pequeno e pouco visível. Abençoado balão colorido! Corrigi o rumo, virando um pouco mais à direita, quando já estava perto da praia.
Saí da água me sentindo bem. Prometi a mim mesma que não olharia pro relógio. Iria no feeling.
Daí a gente passa por um corredor humano. Caloroso e animado. Vi caras conhecidas, ouvi meu nome ser chamado algumas vezes e, no meio dele, conclamei o público"E aí!? Cadê a torciiiida?!Tenho 4 filhoooos! Mereço ou não mereço os aplausos???" A galera delirava, gritava, aplaudia! Vi minha família, entusiasmada, e parei pra dar um beijo molhado em cada um e pra dizer "Eu tou bem! Eu tou bem!"Tomei um golinho de gatorade. E fui saindo dali com menos fôlego e mais cansada do que quando saí da primeira perna.
Quase entrando no mar, vi o Roi, animadíssimo, gritei "eu te amoooo!" posei pra foto:




Rumo a segunda perna. Comecei mais leve. Estava sem ar de tanta festa.  Respiração normalizou, pensei "Tá facil. Dá pra apertar". E imprimi um ritmo um pouco mais forte. Contorno da terceira bóia, correnteza ainda, mas mais fraca. Quarta bóia ali pertinho. Só cem metros e aí é ladeira abaixo.
Da quarta, pra praia. Os toldos brancos das tendas eram meu norte. De novo, eu insistia em ficar à esquerda deles e ia corrigindo.
Então localizei o pórtico por onde iríamos passar e meu coração acelerou. "Está acabando a primeira parte dessa bagaça!"
Saí da água e o cronômetro marcava 1h 06 minutos. Falei em voz alta "O quêêê??? Não acredito!" O locutor da prova viu e comentou "Ela não acredita! Mas é verdade!! Uma hora e seis minutos de prova!"
Não tinha passado creme suficiente nos braço e, por isso, tive um pouco de dificuldade para arrancar as mangas da roupa de borracha.
Voei pra área onde o pessoal puxa sua roupa e, de lá arranquei pra T1.
Lições aprendidas:
1. Fiz cinco treinos com a roupa de borracha. Quatro na piscina, em São Paulo, e um no mar, na quinta, véspera da prova. Foi muito bom ter feito isso. Estava totalmente à vontade no wetsuit. Não senti nem UM incômodo.
2. Nas semanas que antecederam o Iron nadei bastante com  a cabeça alta. Isso também fez com a posição não me cansasse durante a prova.
3. Faltou treino no mar. Para quem, como eu, tem problema de navegação, uns treininhos em águas abertas, ajudam.
4. A ombrite  (tendinite no supra espinhal)  não me tirou do jogo, mas atrapalhou um  pouco. Teria mais confiança e teria ido mais forte ainda se pudesse ter treinado mais forte e com palmar. Isso praticamente não aconteceu.
5. Fazer um óculos de grau pra natação é algo ser considerado.
6. Mais condicionadorrrrr nas pernas e braço pra roupa deslisar na hora de tirar!


T 1
Cheguei animadíssima na tenda da transição. Dei um gás, passei um monte de gente no tapete azul e, como ao entrar não tinha nenhum staff segurando minha sacola azul, fui direto ao cabide.
Mas minha sacola azul não estava lá. Só a preta. Conferi o número mais uma vez no cabide: 1287. A sacola não estava lá. "Isso não pode estar acontecendo. Estou tendo um pesadelo". Não era. A sacola da bike, com capacete, roupa, comida, não estava ali. Sem ela, eu não poderia continuar a prova.

10 comentários:

  1. C-A-R-A-C-A!!!!

    Espetacular os seus "causos". Tô me sentindo à beira da fogueira com um monte de gente de boca aberta ouvindo você falar.

    Podia durar o ano todo essa sua história!

    Sensancional!

    CONTINUA, CONTINUA!!!!!!

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  2. Concordo plenamente!!! Isso está tão bom que eu não quero que acabe!!!!

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  3. Cláudia, tá parecendo final dos episódios de 24 horas. Se vc já não tivesse me contado da sacola azul já tinha te ligado, hehehe.

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  4. Da um livro a história, só estou passando aqui pra dizer que estou aprensivo hehe.
    O bom é que ja sei o final :D

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  5. cadê o final??? não dá para esperar. Você tem que transformar isso em um livro. "Tá" bom demais!

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  6. Olaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
    cheguei na tenda de troca e logo em seguida vc chegou perguntando da sua sacola....me deu um frio na barriga como se tivesse aocntecendo comigo e logo depois me aliviei qd soube q ja estava tudo em ordem e ja tinhama cahado sua sacola.....parabens pela prova...
    estou esperando o final da sua historia!!!
    parabens somso irongirls!!

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  7. Olhaí gente! tenho uma testemunha ocular do ocorrido! Obrigada, Bruna! parabéns pra vc também.

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  8. Excelente a narrativa!!! Posto logo o resto rs!!!!
    Mais uma vez, parabéns!!!

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  9. Isso tudo vai virar um livro, né? Diz que sim, por favor! Um exemplar eu compro e compareço na noite de autógrafos pro lançamento.

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  10. Suspense! Você é roteirista? :-)

    Abraços!
    Rodrigo Stulzer
    transpirando.com

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