domingo, 13 de junho de 2010

Lições da corrida, pequenas histórias e algumas reflexões

Lições da corrida
1. A meia injinji é tudo. Tive ZERO desconforto nos pés. Zero bolhas, zero calos, zero unhas caídas. Obrigada pela dica João Paulo Conrado.
2.Tênis Newton, 2 números maiores, também nota dez.
3. Na próxima, vou marcar mais a diferença entre frente/costas da camiseta de manga comprida. Tinha sim, umas bolinhas marcando as costas, mas não tinha etiqueta (o que é ótimo, porque incomodaria se tivesse). Eu que não estava ligada!
4. Dá pra melhorar esta maratona. E vou treinar pra isso.

Pequenas histórias
O Sarhan, conforme ele mesmo havia anunciado, foi até o limite. Não. Passou do limite. Quebrou na corrida. Nem ao menos conseguiu voltar de carona numa moto. Estava sem capacete, teve de descer da garupa e vir andando.
O tal do gordinho, não só faturou os 40 mil reais como, no dia seguinte, durante o café da manhã, apostaram com ele mais R$ 100 que não faria 100 agachamentos. Não só ele fez, como o fez com uma cerveja - que estava tomando - na mão.
Nilma sofreu um acidente que quase acabou com sua prova. Por volta do km 120 do pedal, um amigo emparelhou com ela e começou a conversar - o que ela reconhece que não é muito adequado. Um terceiro ciclista veio e, ao ultrapassá-los, deparou-se com uma caramanhola da qual quis desviar-se mas´acabou caindo. Nilma passou por cima dele e caiu também.
O cara ficou meio atordoado. Nilma teve várias escoriações, rachou o capacete (aquele novinho, que ela comprou na véspera e não era cor-de-rosa), mas não foi nada sério. Esperaram o socorro chegar. E aí foi uma piada porque ela ajeitou o capacete com os dedos que sangravam e, como o capacete ficou sujo de sangue, acharam que ela estava com a cabeça machucada e não queriam deixá-la continuar na prova. Na primeira oportunidade, ela montou na bike e se picou. O cara atropelado, teve um estrago na bike, mas mesmo assim, continuou. Mais adiante teve de descer e empurrar por 12, 15 ou 21 km - cada um que deu sua versão do fato estipulou uma distância diferente. O nome dele? Tubarão.
Evandro Lopes, parceiro de treinos, terminou a prova em 13horas 25 min. Cruzei com ele na volta de Canas - ele subindo, eu descendo e, depois passei por ele na minh segunda volta. Ele estava andando, cansado, mas no firme propósito de terminar. Ele fez o Iron depois de uma batalha dura contra muitos, mas muitos, quilos a mais. Tinha pouco tempo de triathlon, mas muita obstinação. Tenho certeza de que ano que vem ele vai fazer uma prova melhor e mais rápida.
No dia seguinte a prova, eu soube que perdi o terceiro lugar por três minutos. Fiquei muito muito chateada. Mandei o seguinte e-mail pro Carlos Galvão:

Oi Galvão
Parabéns pelo IM 2010. Foi realmente sensacional! Participei das duas provas em Penha e do mundial em Clearwater, mas a experiência de completar um Ironman supera, em muito, a do 70.3.
Minha prova foi quase perfeita. De minha parte, saiu tudo como planejei. Entretanto, perdi o 3º lugar da categoria e, portanto um troféu que para mim teria um grande valor, por um erro da organização. Como você pode conferir, meu tempo na T1 foi de 11 minutos! Sabe por quê? Porque a minha sacola da bike não estava onde deveria e levou cerca de 5 minutos para ser encontrada. Eu sabia exatamente onde ela deveria estar. Tinha decorado local, que era fácil, pois era na fila H, no alto, na parte onde o cabide era de metal amarelo. E só estava a sacola preta. Ela foi encontrada do outro lado do suporte, embaixo, depois de muita procura e estresse. Chorei, fiquei desesperada. Achei que a prova terminaria ali, naquela hora.
No dia seguinte, soube que a terceira colocada chegou apenas 3 minutos antes de mim.
Sei que nem sempre as coisas saem como deveriam, mas um problema deste tipo deve ser evitado a qualquer preço! Os staffs precisam estar mais atentos, talvez seja preciso ter mais gente cuidando desta parte e as pessoas devem realmente estar capacitadas! É um momento muito importante do apoio! Meu marido tb testemunhou muita confusão na entrega de special needs.
Como o Iron só cresce a cada ano, acho importante lhe dar este feedback, pra que casos como o meu não voltem a ocorrer. Não sei se há algo que possa ser feito pra reparar meu dano – pouco provável - mas se houver, gostaria que fosse feito.
Um abraço,
Claudia Aratangy (nº 1287, mãe de 4 filhos, amiga da Lidiane e aquela que apareceu na matéria da Sportv!)

Ele me respondeu o seguinte:
Prezada Cláudia,
Obrigado pelo seu email e Parabéns pela sua prova............
Levantamos o ocorrido e tivemos uma situação na Tenda de transição que fugiu do nosso controle.......
Três cavaletes(cabides) quebraram durante a natação e algumas sacolas foram movimentadas. E muito provavelmente a sua foi recolocada na posição errada da original. Somente temos essa explicação para te dar.....Não podia ter acontecido, mas lamentávelmente algumas situações fogem ao nosso controle como mencionei acima.
Lembre-se que trabalhamos com mais de 1.200 staffs voluntários, que são brifados por mais de 80 coordenadores de área e tentamos manter todas as situações 100% monitoradas.....mas às vezes, imprevistos acontecem.
Enfim, lamento a situação e mais uma vez te parabenizo pela prova!
Um abraço,

Carlos Galvão
Latin Sports S/A

Pelo menos ele explicou o que aconteceu. Mas poderia pelo menos ter me dado um desconto na inscrição de 2011, não é?

Algumas reflexões
Ironman não é uma prova, é um projeto. Requer meses de preparação, organização, logística, experimentação, testes, treinos, estudo, tomada de decisões e, principalmente, a utilização e o desenvolvimento de uma série de competências.
Não acho que a gente sofra uma transformação ao cruzar a linha de chegada. Acredito que a transformação se dá ao longo desta preparação e é no momento da prova que colocamos à prova (desculpem a obviedade) tudo aquilo que planejamos e preparamos ao longo dos meses.
Reveses podem acontecer mas, a maioria deles não vai impedir você de terminar a prova caso você tenha desenvolvido seu projeto adequadamente.
Posso dizer que minha prova foi absolutamente coerente com minha preparação e meu planejamento. Eu havia estimado fazer um tempo entre 11 e 12 horas. Teria feito 11 e 30 se minha sacola não tivesse sido extraviada. Bastante precisa a minha estimativa, portanto.
Além de cumprir minha planilha com disciplina, cuidei e treinei minha alimentação e minha suplementação, experimentei roupas e tênis diferentes,  levei a sério a musculação e o alongamento, conversei e tirei dúvidas com várias pessoas mais experientes - esse blog, inclusive, foi um espaço onde pude trocar idéias e experiências com muita gente legal e que me ajudou.
Embora tenha todo um lado bastante racional e objetivo, pra mim, a preparação para o Iron foi também extremamente prazerosa. Gostei de ter um volume grande de treinos pra fazer, gostei do cansaço que senti depois dos treinos longos, gostei da sensação de estar dando conta de cada semana de treino, gostei de levar uma vida espartana. A parte das privações e dos sacrifícios todo mundo já sabe e é verdade. Mas é uma escolha, afinal de contas. Somos maiores de idade, esclarecidos e, se optamos por treinar para uma prova como o Iron, não cabe ficar reclamando e choramingando.
No meu caso, tentei alterar o mínimo possível minha rotina com a família. Isso significou, em alguns momentos, horas de descanso a menos. Por exemplo, aos domingos, mesmo podendo dormir até mais tarde, acordava bem cedo pra poder treinar e chegar em casa logo depois do café da manhã deles. Mas, como já disse, foi uma escolha.
Uns dias antes da prova, conversando com minha mãe, quando eu tentava explicar pra ele que triathlon é mais do que um estilo de vida, ela disse "é uma ideologia". Fiquei com aquilo martelando na cabeça. Fui atrás do significado literal de ideologia: conjunto de convicções filosóficas, sociais, políticas etc., de um indivíduo ou grupo de indivíduos.
Então, é isso mesmo. Não é apenas um jeito de viver. É a forma de sentir, pensar e entender o mundo. Nesta jornada para o Iron me dei conta da profunda mudança que eu e minha vida passamos ao longo dos últimos três anos. Não é superficial, não é passageira, não é um modismo. Aconteceu gradativamente e veio pra ficar.

No próximo (e provavelmente último) capítulo, respondo àquele post "Existe vida após o Iron?"

6 comentários:

  1. SÉRIO que vou ter que considerar a ideia de correr com uma meia com de "arco íris" . Pô...isso não vai pegar bem...hahahahah!

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  2. Claudia, fiquei triste com esse seu relato - triste porque acabou! ;-)
    Agora deu uma vazio, acredita?

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  3. "Vida Espartana", gostei dessas palavras...
    É verdade acabou a "Vida Insana 1" uma pena, mas ja começou a "Vida Insana 2" e outras histórias virão. Abração

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  4. show de bola. Pena só ter conhecido esse seu blog agora já perto do IronMan. Mas, com certeza, outros desafios virão.
    Grande abraço
    Sergio Melo
    http://correndocomsaude.blogspot.com

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  5. Sensacional seus relatos, agora essa é a pergunta que não quer calar, "Existe vida após o Iron?", estou curioso para ver a resposta, hehehhe.
    Abraço!!!!

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  6. querida claudia!!!
    li teu relato sobre o erro dos staffs...
    e o fulano, "carlos galvao", nem ao menos pensou num trofeu "paralelo" ao d terceiro colocada ja que seria 1 desconforto pra menina q o ganhou...
    lamentavel....
    ctz q o cara nao tem noção de quanto isso significaria pra vc e pra tua torcida!!
    mas com ctz na nossa consciencia ta la que vc foi a terceira colocada..

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