domingo, 27 de setembro de 2009

Nem só de triathlon vive a triatleta

Tive de me render a Bob. E também ao veterano Jake, a Pedrinho, a Adam, a PLG (lê-se em inglês, por supuesto) e até a um cabeludo que respondia pelo esdrúxulo nome de Lorifice (“O orifício”???).
Meus pequenos estão contagiados pela febre do skate. O único que ainda não pegou foi o Theo e, a essas alturas, acho que não vai pegar. Mas posso me enganar. De qualquer modo, o trio ganhou skates do pai, aula de skate de um professor contratado pela mãe e, embora o futebol ainda ocupe parte da rotina e pensamento, o esporte sobre rodinhas está em primeiro lugar na competição.
Neste fim de semana acontecia um dos grandes eventos do skate. A tal da megarampa. Vagner, meu piloto, me deu a letra. Fiz o pedido dos ingressos pelo site. Meu plano era passar essa bola (ou seria essa roda?) pro pai. Afinal, era programa para meninos. Eu ia aproveitar pra pintar o cabelo que já faz uns 4 meses...
Mas, quis o destino que o pai não voltasse de sua viagem de trabalho. Eu não poderia deixar os meninos de fora dessa. Imbuí-me do espírito de “pãe” (espécie de pai misturado com mãe) e lá fomos nós ao sambódromo. Já quer era pra ir, eu iria aproveitar.
Chegando lá, certa confusão acontecia na entrada. Não estavam deixando as crianças entrarem sem apresentar documentos. Imaginei que isso valia para os adolescentes que vinham sozinhos. Afinal, no site, no ingresso e nos emails enviados pela promoção, não havia nenhuma menção a isso.
Peguei os três pelas mãos e fui entrando.
Um primeiro segurança me barrou: “Documentos!”.
Eu “os meus?
Ele “Das crianças”. Eu “Não trouxe, ninguém avisou”.
Ele “sinto muito, senhora, não está autorizada a entrar”. A pimenta me subiu. O coração acelerou. Decidi comigo mesma que iria entrar.
Disse pra ele “vou entrar. Isso não está certo. Ninguém avisou em lugar algum”.
O cara veio com aquela conversa idiota “senhora, eu só cumpro ordens”.
Retruquei “Ah, é? Ordens de quem? Chame a pessoa aqui, que eu vou conversar com ela!” O segurança, investido do seu poder que deve vir no bolso de seu terno ridiculamente preto para o calor da ocasião, me ignorou solenemente. Sabe o que fiz? Catei os meninos pelas mãos e fui entrando. Ele tentou me segurar. Não conseguiu. Soltei-me e sai andando rápido. Gritou para outro segurança que tentou me impedir, também me desvencilhei e segui em frente.
A galera vibrava “Deixéla entrar! Deixéla entrar!”.
O Ian chorava “mãe, você vai ser presa!
E eu “Não Ian, não vou. ELES é que estão errados, não nós”. Acho que os seguranças não contavam com a minha determinação. Me deixaram passar, contando com os próximos controles. No seguinte ninguém pediu nada. No terceiro, um gigante me pediu os documentos. Olhei bem nos olhos deles e disse que afinal, eu era uma senhora de 45 anos, com três filhos pequenos, que tinha vindo de longe e agora não ia voltar porque eles não tinham feito a divulgação deste detalhe. Ele pediu meu documento (afinal, tinha de ter uma saída honrosa para eles) e nos deixou entrar. Mais tarde, em virtude da revolta que este requisito estava causando, eles recuaram e improvisaram um termo de responsabilidade para os pais assinarem na hora. Mas isso foi só depois do barraco que eu armei.
Bom, mais isso é um detalhe.
Lé encontramos o Vagner e seus filhos, depois a Brigitte (que trabalha comigo) e seu filho Daniel com quem os meus fizeram a maior farra jogando aviõezinhos de papel nas pessoas que ficavam de pé.
A apresentação dos skaters e dos BMXs foi show de bola. Ou melhor, show de rodas. Não posso descrever as manobras que eles fizeram porque, para mim, a descrição dos narradores parecia toda inventada. Em uma das manobras, a impressão que tive foi que o Bob Burnquist (nosso brasileiro, exportado para a Califórnia) pegou o skate embrulhou, envelopou, mandou pelo correio, recebeu a remessa, tirou do envelope, desembrulhou, montou em cima e voltou pra rampa. Inacreditável.
Pedro Barros, um menino de apenas 14 anos, fez bonito. Bom. Só de estar lá, já é um feito.
Eles erram muito. Tomam muito tombos. Sabem cair. Levantam, sacodem a poeira e pegam o elevador. São aplaudidos no erro e no acerto. Mas no acerto, a multidão vai ao delírio. Não importa se é um brasileiro ou um estrangeiro. Mas Bob era, de longe, o mais querido. Diga-se de passagem, é megassimpático! Aliás, aparentemente, todos são humildes. Olham para o público, agradecem, se desculpam. Brigam com o skate.
Na segunda parte, foi colocado um corrimão entre a mega rampa e a outra rampa. E por lá eles deveriam passar, tentando manobras das mais variadas. O vento começou a soprar mais forte e aí estava mais difícil ainda de acertarem. Aí foi a vez do cabeludo Lorifice, fazer bonito. Levantamos a hipótese de que seu cabelo ajudava a planar sobre o corrimão.
A esquadrilha da fumaça também deu as caras, desenhando “ois” no céu. Pena que a anta da repórter que ficava “na galera” (acentue-se com sotaque carioca) chamou de ESQUADRIA da fumaça.
Os meninos ficaram fascinados. Eu também. O que mais gostei foi do fato de eles errarem tanto e seguirem tentando fazer de novo, fazer melhor, fazer mais difícil. Gostei, porque é belo. É contra a gravidade e a favor da gravidade. Por que a queda faz parte e porque é fundamental saber cair. E às vezes a queda é também ridícula. E é tão, mas tão corajoso ser ridículo na frente de uma multidão!
Quero mais é que meus filhos joguem bola e andem de skate e pratiquem toda a sorte de atividade que os façam viver uma ampla gama de sensações físicas e afetivas. Isso vai torná-los aptos a fazer o quer que venham a escolher como esporte, mais tarde em suas vidas e, penso eu, também vai deixá-los mais flexíveis para as rampas, corrimões, buracos e estradas que o destino lhes vai oferecer.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Clearwater 2008 – venturas e desventuras – parte 2 (parte 1 está logo ali embaixo)

Além de visto e passaporte, tive de organizar toda a viagem: passagens aéreas, reserva de hotel, mala bike. Não tenho um agente de viagem. Até hoje sou eu mesma que faço a cotação das passagens, pesquiso e comparo os hotéis, reservo.
Inicialmente tinha a intenção de dar uma esticada nos States. Mas a grana curta, o tempo escasso e a enorme culpa de deixar a família enquanto ia me divertir sozinha, me impediram de passear. No final das contas, não passei nem uma semana.
Comprei um par de rodas Zipp pela internet e pedi que entregassem no hotel aonde iria me hospedar. Pensei em não levar as minhas rodas. Imagine o trabalho depois na hora de voltar: uma bike e 4 rodas, mais as malas...
Se a gente já fica tensa na preparação de uma prova qualquer, na véspera de uma viagem dessas então, o medo de esquecer alguma coisa, os pesadelos, a insônia e outros sintomas de ansiedade, são proporcionais ao número de quilômetros que você percorrer até chegar ao local da prova.
Fiz uma dúzia de listas deferentes: equipamentos para prova, compras (antes de ir), compras (lá), comidinhas, coisas urgentes - não esquecer e assim por diante. Quase precisei fazer uma lista com o índice das listas.
E lá fui eu. Sozinha rumo à Florida. Bicicleta desmontada e dentro da mala bike. Uma mala de roupas, uma mochilinha de bagagem de mão. Dentro da mochila, uma espécie de envelope de lona com zíper onde coloquei todos os documentos e papéis importantes: passaporte, passagens aéreas, comprovante da reserva do hotel, comprovante de inscrição da prova e, claro, minhas listas.
Eu estava muito animada com a viagem. Mas também um pouco tensa. Só conseguiria relaxar quando tivesse passado pela imigração americana. Aquela idiota do consulado me deixara com a pulga atrás da orelha.
Escolhi um vôo diurno. Como não durmo mesmo em aviões, optei por voar de dia. Eu chegaria cansada e alta noite em Clearwater. Pronta para desmaiar na cama.
O vôo da American Airlines iria até Miami, onde entraria no país. Dali, depois de algumas horas, sairia meu vôo para Tampa, aeroporto mais próximo de Clearwater. Ainda em Cumbica, encontrei Diogo, um colega de treino, e sua noiva. Ele também se classificara e estava indo para lá, nos mesmos vôos que eu.
Chegamos a Miami depois de 7 horas. A diferença de fuso é de 2 horas para menos. Eu teria então cerca de 4 horas para ficar zanzando no aeroporto. Isso se eu passasse pela imigração.
Era dia 5 de novembro. Um dia depois da eleição de Obama. O clima no país era de festa.
Saindo do avião, antes mesmo de pegar as bagagens, lá estava ela. A fila para entrar no país. Escolhi um guichê onde estava um mulato. Pensei “ele deve estar feliz hoje. Não vai encasquetar comigo”. Durante semanas eu tinha ficado na maior dúvida se deveria revelar que estava indo participar de uma competição. E se ele me pedisse o visto de business? Estaria perdida. Mas, e se eu dissesse que estava a turismo e ele duvidasse de mim?
Decidi dizer que era turista. Afinal, a mala bike não estava na minha mão. E lá fui eu, como um boi pro abate.
Não rolou nada. Perguntou o que ia fazer. Respondi turismo. Ele carimbou o visto. Enquanto ele abria meu passaporte, eu ainda tive a pachorra de perguntar o que ele achava da vitória do Obama. Ele deu um sorrisinho e respondeu “let him work and we wil see”.
Sai quase saltitante. Que alívio. Agora nada poderia me deter. Nada?
Bem. Desci as escadas rolantes e comecei a procurar pela esteira onde deveria encontrar minha bagagem. Isso era outra coisa que poderia dar errado. As malas poderiam não chegar. Eu ficaria sem bike para competir. Andei todo o saguão olhando as esteiras. Mas, como estava sem óculos, não conseguia ler o que estava escrito nos letreiros.
Fui até o fim do saguão das esteiras. Parei. Tirei a mochila nas costas. Coloquei meu precioso envelope num carrinho de transportar bagagens, apoiei a mochila nele, abri-a e procurei os óculos. Achei. Coloquei. Vi o mundo! Pus a mochila nas costas e parti de volta, olhando as esteiras. Vi Diogo lááá na outra ponta, retirando sua mala bike. Opa. É minha esteira. Corri até lá e logo vi minhas malas! Uf! Que alívio.
Retirei as duas, coloquei num carrinho. De repente, me dei conta de que não estava mais com meu precioso envelope nas mãos. Onde estava? Onde estava? Lembrei! Eu havia colocado no cestinho de um carrinho quando fui procurar os óculos. Só que lááááá do outro lado, na última esteira.
Sai correndo, desesperada, até o lugar onde o havia deixado. Não estava mais lá. (continua)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Troféu Brasil subaquático

Quem foi competir domingo ainda está enxugando as sapatilhas, torcendo as meias e colocando o tênis atrás da geladeira para ver se seca mais rápido. Com o clima que tem feito, o perfume inebriante de chulé com mofo não vai sair nunca mais.
Provinha encardida. A chuva começou 15 minutos antes da largada e não parou mais. Veio atrás da gente e chegou a São Paulo ontem. O mar, agitado, assustou alguns estreantes. Uma pessoa que conheço, chegou até a primeira bóia e desistiu. Uma pena. O mais difícil era justamente chegar até ali, com o mar batendo na cara, tentando manter um trajeto mais ou menos reto. Dali em diante, era ir no vai da valsa até a segunda bóia. Depois, Iemanjá jogava pra praia. Os homens de 40 anos ou mais largaram antes de nós 3 minutos. Ainda assim, trombei com vários pelo caminho. Um, inclusive, nadando de costas!!! Como é possível alguém se orientar num mar daqueles nadando de costas?
Pedal cauteloso. Ano passado tomei um chão bonito num dos retornos da portuária. Chovia, também. Eu estava bem devagar, mas a roda dianteira pegou um desnível do asfalto, o chão escorregadio... Foi como se alguém tivesse puxado meu tapete. Cai de lado e bati o capacete no asfalto com tudo. Fiquei zonza. Levantei sacudi a poeira (ou melhor, a lameira) e segui em frente. Depois é que eu vi o tamanho do estrago no capacete. PT – perda total. Se aquela rachadura fosse no meu crânio, duvido que eu ainda tivesse a habilidade de pedalar.
Tudo isso pra justificar minha lerdeza no bike. Ainda assim, ultrapassei muitas mulheres. Alguns homens também.
Corrida. Quase nada a declarar. Bom mesmo foi não sentir dor. Isso sim.
Faltando um poucos metros da linha de chegada percebi que alguém vinha chegando no meu encalço. Uma mulher. Apertei o passo. Quase morri pra deixá-la pra trás. Não, dá né. Ultimos metros!!! Eu não deixo.
Esperamos até a premiação. Subi solitária ao pódio das 45-49. Ganhei por W.O. Assim é fácil levar troféu. Mas 1h14m40 não é feio, não.
Depois fomos almoçar. Thelma, Julinha, Marcos, Marquinhos, meus afilhados Dani e Celso mais tooda a família da Dani. Gosto muito dessa parte. Rir, relaxar, falar bobagens sobre a prova. Comentar sobre o que não fizemos direito, como o Marcos grunhindo: “Pedalei como uma moça” ao que Thelma retrucava “que moça? de que moça você está falando? Porque se for uma moca como eu, você mandou bem!”. A Dani, rindo, e falando de como é fácil achar sua bike depois da natação: não sobrou mais nenhuma ali...
A gente reclama um pouco, mais se diverte sempre.

sábado, 19 de setembro de 2009

Clearwater 2008 – Venturas e desventuras – parte 1

Como já escrevi anteriormente, fiquei muito feliz ao conseguir a vaga para o Mundial de 70.3, ano passado, em Penha. Na véspera da prova, quando Emerson, meu técnico, aventava a possibilidade de eu pegar a vaga, fez uma pergunta que me deixou um pouco tensa: “Você tem visto pros EUA?” Óbvio que eu não tinha. E o pior, meu passaporte estava para vencer e os americanos não colocam visto em passaportes com menos de 6 meses de validade. Bom, pensei eu, primeiro vamos nos preocupar em fazer a prova. Segundo, em conseguir a vaga e, por último, em ir atrás de passaporte e visto.
Fiz a prova. Consegui a vaga. Portanto, teria de ir atrás de passaporte e visto.
O passaporte foi tranqüilo. Mas o visto... Pelo site do consulado americano, eu só conseguiria marcar entrevista em MARÇO! E a prova era em novembro, certo? Portanto, pelas vias normais, nada feito. Tentei na modalidade “casos excepcionais”. Nem sequer me responderam! Apelei até pra gentes bem relacionadas, pra ver se conseguia um lugar nessa fila, ANTES de novembro... Estava difícil. Até que a Nilma minha querida amiga, me passou o nome de um despachante salvador. É incrível e lastimável. Mas essas coisas ainda são assim. Você paga alguém que sabe um macete pra conseguir encaixar você na hora que alguém desiste da entrevista!
Passaporte pronto, inscrição confirmada, entrevista marcada, aquele monte de documentos agrupados (comprovante de endereço, comprovante da inscrição, holerite, extrato bancário, certidão de casamento, declaração de que você não é terrorista etc). Lá fui pro consulado, numa manhã fria e chuvosa de outubro, aguardar a minha vez de conseguir a HONRA de pisar em solo norte-americano.
Obviamente solicitei visto de turista. Minha viagem era puro lazer. Nunca me ocorreu que participar de uma competição como amadora, pudesse ser considerado business.
Depois de algumas horas de espera. Chegou a minha vez de ser tratada como suspeita. A lady no outro lado da intimidadora janela de vidro me pergunta, em inglês, o que estou indo fazer lá. Respondo que é uma prova de meio-iron. Ela pede que eu explique o que é isso.
Depois da minha breve explanação, me passa um papel e diz “você precisa pagar a taxa para visto de negócios, depois volte aqui”.
Ao que eu respondo “Negócios?! Mas eu não estou indo a negócios!
E ela “you are doing all that JUST FOR FUN?! You’re not earning any money?!” (tradução: "você está fazendo tudo isso só por diversão?! Não vai ganhar nenhum dinheiro?!”).
"Não", respondi. "E ainda tive de pagar por isso!"
Ela não se conformava. Continuou, bem desconfiada “Mas e se você ganhar, ficar em primeiro lugar? Não ganha nada?
E eu “não, não ganho nada. Sou amadora. Apenas os profissionais ganham”.
Ela deu de ombros, carimbou e, só pra me deixar com a pulga atrás da orelha, arrematou “Tudo bem, você pode ir como turista, mas talvez, lá, na entrada, você tenha problemas”.
Filha da mãe. Aquilo me deixou cabreira até a entrada no pais. E teve conseqüências quase desastrosas. (continua)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

To Clear or not to Clear


Passada a euforia da passagem do Dean Karnazes por São Paulo (e por nossas vidas), volto ao meu dilema: ir ou não a Clearwater. Não é esnobismo. É dúvida mesmo.
Estive lá em 2008, para o Mundial de 70.3 e foi uma experiência ótima. Por sinal, estou devendo um texto sobre o assunto. Tenho de tomar a decisão esta semana, pois a inscrição que fiz em Penha tem de ser confirmada no site active.com.
Ir para lá significa, por mais econômica que eu seja, gastar dinheiro. E gastar em dólares. Ir para lá, significa usar dias das minhas férias. Daqueles parcos 21 dias (já aproveitei um pouquinho) que me restam. Vinte um dias que preciso dividir com marido e quatro filhos.
Ir para lá significa encontrar atletas de todos os lugares do mundo. Significa viver no universo do triatlon em período integral. Significa conhecer gente legal, fazer novos ou curtir alguns bons e conhecidos amigos. Usar uns dias das férias só para mim, sem ter de negociar com ninguém a hora de comer ou dormir ou treinar. Significa estar, afinal de contas, num mundial! Fazer uma prova bonita, bem organizada, animada.
Quero e não quero.
Posso e não posso.
Passei o ano pagando dívidas por ter gasto na viagem do ano passado e nas férias deste ano. Não foi fácil.
Pensei em juntar as duas coisas: levar todos para a prova e, depois, para a Disney. Mas somos muitos! O preço é indecoroso. Inviável. Além do fato de os meninos perderem aula em pleno novembro. E aí, em janeiro, o que eu faço com eles?
Poderia então ir só com o marido... Mas quem disse que ele pode? Ou quer? E aí, também vai o tempo e o dinheiro... E como ficam as férias dos Karnazinhos?

Quanto mais eu penso, mais claro que not to Clear vai ficando. Com dor no coração.

Dean Karnazes - noite de autógrafos

Valeu a pena esperar. Foram quase duas horas até chegar nossa vez. Mas o sorriso, as palavras e as dedicatórias foram à altura de toda a jornada. A primeira coisa que ele pediu foi que agradecesse aos meninos por terem tido a paciência de esperar todo aquele tempo. Depois, ao ver a minha pilha de livros para que autografasse, comentou que sou muito atenciosa com meus amigos. Agradeceu - de novo - a participação da gente no Desafio 24 horas, disse que tenho uma linda família e, por último, me convidou a ir correr com ele nos Estados Unidos.


Podem escrever: eu vou. Não sei quando, mas juro que vou.



segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Uma jornada com Dean - Parte 1

Minhas expectativas eram altas o que é sempre perigoso, pois aumenta a chance de frustração. Isso não aconteceu. O Desafio 24 horas com Dean Karnazes já está entre os Top Hits da minha vida. Não só da vida de esportista, mas da vida.
Vamos fatos.
Acordei antes de o despertador tocar, pois o dia já raiava. Como estou acostumada a acordar antes de clarear, é só o sol botar a cara pra fora e acordo achando que estou atrasada.
Chamei o Martim (filho nº2, 9 anos), que iria acompanhar a jornada desde o começo. Tomamos um lanche rápido. E o Vagner chegou. Abro parênteses para falar do Vagner.
Mais do que meu piloto, o Vagner se tornou um amigo e um dos meus anjos da guarda (tenho mais dois, ou melhor, duas). Durante a semana ele me atende como motorista na empresa em que trabalho e, de vez em quando, faz uns bicos nos fins-de-semana. Dessa vez ele se ofereceu para fazer um apoio particular e, principalmente, fotografar o Desafio. (Esta bela foto foi ele que tirou). E ele foi fundamental para que tudo corresse do jeito que correu.
Fomos para Paulista, no ponto de encontro. Vagner e eu pedimos a para ver o percurso exato no mapa, para que meu apoio particular pudesse seguir ou encontrar o comboio. Vi que passaríamos pela Avenida Corifeu de Azevedo Marques e não me contive: “Por que vocês vão fazer isso com ele? Que sacanagem! Um lugar feio, sujo e poluído!”. O rapaz que estava com o mapa deu de ombros.
Dean estava em algum canto descansando um pouquinho antes da próxima largada. O pessoal da organização emprestou o megafone para o Martim dar um “bom dia”. Ele aproveitou e emendou um “Good morning, Dean!”
Logo Karno apareceu, demonstrando um pouco de cansaço, mas esbanjando simpatia. Autografou minha regata e a de outros tantos e posou para várias fotos sempre, sempre sorrindo.
Saímos Paulista afora (uma pena, deveríamos ter ido um pouco mais!), descemos Pamplona, pegamos a Nove de Julho e fomos embora. Logo consegui me posicionar ao lado dele. E fui direto ao assunto. Disse que estava muito feliz de poder correr ao seu lado, que tinha lido o livro e adorado e contado para todo mundo sobre ele e que mal pude acreditar quando soube que ele vinha pro Brasil. Ele agradeceu com um sorriso sincero, quase tímido.
Fiz algumas perguntas pra ele sobre a ida ao Rio de Janeiro (ele vai surfar por lá), comentei um pouco sobre o percurso que iríamos fazer (aproveitei pra avisar que passaríamos por uma região muito feia). Conversinhas amenas, como a brisinha que soprava na Nove de Julho.
Depois, recuei um pouquinho, pra dar chance de outras pessoas ficarem com ele.
Conheci muita gente legal durante o percurso e nas paradas.
Eduardo, triatleta e blogueiro do tr3s meios, com quem conversei um bom trecho sobre a vida de esportista amador; o Marcelo, cinegrafista e editor, que havia conhecido em Penha e com quem tive uma liga imediata; Harry, blogueiro do site webrun e escreveu um post muito legal sobre a gente; Lenícia, nutricionista, que disse que iria rasgar o diploma depois de ver como o Dean se alimentava; Natale, que estava no apoio, é capitão da polícia e professor de educação física e me contou sua vida enquanto o Dean fazia xixi num posto; Rodrigo, também triatleta; João, ultramaratonista, que foi pacer de um amigo em Badwater este ano; Antônio, jornalista da Runners, para quem eu prometi que iria escrever meus comentários sobre a publicação e enviar ao chefe de redação; o Pinguim que sprintava na frente do Dean, para fotografá-lo e treina subida lá na Vila Formosa; Karin, barriga-verde que vai correr Berlin junto com o marido; Cecília que ia correr no Ibirapuera com o marido, mas encontrou a trupe no meio do caminho e acabou aderindo. Todo mundo estava no mesmo pace, na mesma, e gostosa, vibração.
Pegamos a Faria Lima inteira, seguimos pela Pedroso, passamos a Panamericana e entramos no Parque Villa Lobos. Enquanto isso, Vagner foi com o Martim até em casa, buscar os dois pequenos e mais duas acompanhantes.
Quando saímos do Parque, a minha turma estava toda lá tomando sorvete. Foi perfeito. Porque demos uma paradinha para hidratar e alimentar. Aproveitei para oferecer as minhas bananinhas para todo mundo. Sucesso! Todo mundo comeu. Pena que o Dean não quis.
Martim quis correr um pouquinho. Fez uns 4 ou 5 kms! No maior pique. Correu ao meu lado, ao lado do Dean, sempre com uma sorrisão na cara. Quando chegamos na Corifeu, o sol rachando e aquela paisagem deprimente, Martim quis parar. E o Dean também! Ele não gostou nada daquilo. Ainda por cima, teve subida.

Uma jornada com Dean - Parte 2

Demos uma parada num posto. Aí foi a vez do Ian correr conosco. Não agüentou tanto quanto o Martim, mas não fez feio. De calça comprida, naquele calor, também foi ao lado do ultramaratonista até não agüentar mais. De novo, super Vagner o resgatou.
Passando o túnel do Jóquei, foi a vez do Félix. Ele estava com um calção de futebol muito largo e teve de correr segurando pra não cair. Muito engraçado. Mas pensa que ele desistiu fácil? Também não! Foi pro lado do Dean, pedir a benção (a cada um que aparecia ele dizia “Champion!”) e só parou depois que chegamos num ponto determinado.
E pronto! Chegamos ao Alfredo Volpi. Quase 26 kms tinham se passado e eu nem senti! A Gra estava me esperando com o Junior e a Minnie e foi muito legal ter uma cara querida e conhecida para festejar este momento.
Era pouco. Eu queria mais. E eu estava bem. Quando uma oportunidade dessas vai aparecer outra vez? Conversei com o Vagner, perguntei se ele topava acompanhar mais um pouco. Olhamos o percurso, combinamos um novo ponto. Ele iria até em casa levar a Sandra e a Laís (que também estavam no apoio familiar)e buscar o Theo pra correr um pouquinho.
A transição durou uns 45 minutos. Nem sentei. Bebi, comi. Comi um Mac Chicken!! Coisa que eu nuuuuunca faço! Muito menos num treino ou corrida. Eu tinha certeza de que não iria fazer mal. Como não fez. Tomei Redbull (outra coisa que nunca faço), comi maçãs e bananas.
Largamos de novo. Mas o Dean pediu que fizéssemos um percurso sem avenidas movimentadas, feias e poluídas como a que havíamos passado (eu não disse?! eu não disse?!), então ficamos dando voltas e mais voltas pelas ruas do Morumbi, mais exatamente, no Jardim Guedala: passamos umas cinco vezes na alameda das Jabuticabeiras, na das Acácias e na dos Manacás. Mesmo andando em círculos (em oitos, em espiral, em elipses e outras formas do gênero) e fazendo subidas, estava uma delícia. O único problema é que o Vagner não conseguia nos localizar.

Uma jornada com Dean - parte 3

Parada estratégica. Nós todos nos hidratamos

Chegando ao Clube Paineiras, nos encontramos. Martim e Theo desceram pra correr conosco. Apresentei meu number 1 pro Dean, que ficou ainda mais espantado com meu time. Martim puxou o pelotão junto com um corredor de elite, que dava dicas para ele. Tivemos que diminuir o ritmo, pois nosso atleta estava bem cansado. Paramos numa pracinha. Dean abriu um potinho de balas para o qual os meninos lançarm olhares cúpidos e mãos ávidas. Antes que eu os impedisse, ele sorriu e ofereceu as balas!
A essas alturas eu já havia feito 41km. Decidi completar a maratona. Eu, que nunca havia corrido mais de 25 km na vida.
E fomos todos com ele. Theo, Martim, Ian e Félix segurando o calção. Eles foram a atração. Corremos mais uns 3 kms. Os meninos não queriam parar embora estivessem cansados. Eu também não queria parar. Minha vontade era ir até o fim, até a chegada. Mas o bom senso que me restava falou mais alto. Era tarde, as crianças estavam cansadas e com fome, meus tendões estavam apitando fazia algum tempo. Eu que nem dei bola pra eles.
Aproveitei quando Dean diminuiu o ritmo numa ladeira e fomos nós cinco agradecer e nos despedir. Ele agradeceu a cada um de nós, com um Thank you olhado nos olhos. Foi emocionante.
Saímos plenos. Mais do que testemunhar, meus filhos puderam captar a essência dessa experiência e senti-la na própria pele, nos músculos, no coração.
Inesquecível para todos nós.

sábado, 12 de setembro de 2009

Team Dean e os caras

O cara é realmente especial. Acabamos de ir à Frutaria São Paulo onde uma elite de corredores (não corredores de elite) aguardava o início do Desafio 24 horas. TVs, jornalistas, muitas câmeras com flashes acuavam o atleta num canto da Frutaria. Mas ele não se fez de rogado. Atendeu a todos com extrema simpatia.
Fiquei deseperada pois levei a câmera do meu filho Theo e nao sabia onde diabos ligava o flash. Que nervoso!!! O Dean fazendo pose com os meninos e eu sem ligar a droga do flash. Patético. E era só levantar uma tampinha na parte de cima. Estava tão ansiosa pra fotografá-lo que demorei muito mais do que seria normal pra achar o flash.
Minha sorte é que ele é gentil, solícito e tem uma paciência de Jó. Então, pouco antes da largada, posou mais uma vez com eles.
O clima era festivo. Gente com cara de corredor experiente. E uma senhora, Dona Lucina (acho), de mais de 60 anos que promete fazer as 24horas com ele. Fiquei até com vontade. Mas não seria prudente.
O dia de amanhã será especial.
Vou descansar. Quero estar bem para não fazer feio.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Semana puxada e jogo de cintura

Desculpem nossa falta. Mas esta semana foi mais complexa do que de costume para conseguir manter todos os pratos girando sem deixar nenhum cair. O marido está fora de São Paulo, trabalhando, desde a semana passada – isso implica em ter mais tarefas em relação aos filhos do que de costume e, o mais importante, estar mais disponível, pra cobrar a falta que faz o pai. A chuva que castigou São Paulo tornou todos os trajetos complicados. A gente que precisa cronometrar cada atividade para caber na rotina, passando de uma a outra sem folga alguma, ficou com a vida ainda mais espremida. Isso sem falar no estresse que é ficar horas preso em um engarrafamento quando nosso tanque está assim — ó — de roupa pra lavar. E por último, mas nem por isso menos importante, está o fato de o meu caçulinha ter pego uma virose. Isso, em tempos de suína, acrescenta uma dose de tensão extra ao enredo – já tenso por natureza — de filho doente, além, é claro, de reduzir as minhas já reduzidas horas de sono. Tudo isso pra justificar o fato de não ter conseguido me manter em dia com as postagens.
Não há de ser nada. Ian sarou. Foi só ir ao PS que a febre baixou e a garganta desinflamou. Não precisou nem de remédio. A chuva passou e, com isso, os engarrafamentos diminuíram. O marido ainda não voltou e ainda vai levar uns dias, portanto, terei de continuar meu papel de “pãe”. Isso tem um preço, mas, por outro lado, os meninos e eu temos conseguido alguns momentos especiais, nossos, para compensar a falta do pai.
Os treinos ficaram prejudicados com todas essas intercorrências. Mesmo assim, não deixei de treinar. Fiz rolo em vez de ir à USP, diminui o volume da natação e a musculação foi caseira.
Ser flexível para fazer essas adaptações é essencial para quem é amador. A vida como ela é se impõe – que a gente goste, quer não. Detesto não conseguir derrubar minha planilha de cabo a rabo. Mas, há momentos em que é necessário ter jogo de cintura. Filho doente menos tempo de treino -> menos horas de sono -> menos disposição = volume menor e treinos em casa.
De qualquer modo, o fim-de-semana promete. Treino de bike amanhã, com direito a café com bobagens na padoca. E na manhazinha de domingo, 26 km junto com um dos meus ídolos do esporte. Vai ser legal.

domingo, 6 de setembro de 2009

Team Dean


Acabei de ler “O Ultramaratonista” (ou, em inglês, “Ultramarathon man: confessions of an all-night runner”, de Dean Karnazes. Foi o Borejo que me emprestou (aquele colega de treino que me emprestou o “Becoming an Ironman”).

Comecei ler uns dias antes de ir para Penha e o livro acabou sendo uma ótima pedida para antes da prova. Inspirador. Karno, como é chamado pelos amigos, é um corredor obsessivo e um bom contador de histórias. Somos convidados a acompanhá-lo em suas incríveis façanhas: correr a noite inteira sem parar (e pedir uma pizza para ser entregue no meio do caminho), correr por cem milhas subindo e descendo montanhas de até 3 mil metros em menos de 24 horas ou terminar uma maratona em pleno pólo sul. Nos detalhes de seus relatos quase sentimos a exaustão. Muitos perguntam: por que você faz isso? Pergunta essa que muitos de nós, triatletas amadores, ouvimos. A resposta não é simples nem direta e ele a responde de muitas maneiras em diferentes trechos do livro.

Também como nós, amadores, Karno tinha (pelo menos ao escrever este primeiro livro) seu trabalho das 9h às 17h, mulher e filhos pequenos. E ele é muito franco quando fala do delicado equilíbrio necessário para compor todas essas dimensões da vida, das renúncias e sacrifícios e de certa dose de egoísmo que existe em quem treina com tanto afinco. É bom a gente perceber que não esta sozinho nas loucuras!

Bem... estava eu, semana passada, totalmente apaixonada pelo livro e seu autor, comentando com Deus e o mundo quando recebo um email do site ativo.com com os seguintes dizeres:
Desafio 24 horas – com Dean Karnazes.

Resumo da ópera: o ultramaraonista estará em São Paulo nos próximos das 12 e 13 de setembro para lançar seu novo livro (“50 maratonas em 50 dias”). Para isso, fará uma corrida de 24 horas por 116 km em ruas e parques de São Paulo. A loja The North Face fez a seguinte promoção: os autores das 100 melhores frases respondendo “porque devo correr com Dean Karnazes” poderão estar com ele na largada e na chegada do Desafio e, o melhor, poderão escolher um trecho de 21 kms para correr com ele.

Na mesma hora, entrei no site, fiz o cadastro e respondi a tal pergunta. Pra dizer a verdade, achei que era por sorteio ou por ordem de inscrição e nem me preocupei em escrever uma frase muito inspirada. Só depois é que fui ver que seriam selecionadas as cem melhores respostas. Aí fiquei desapontada, porque poderia ter escrito algo melhor.

Mas eis que na sexta-feira, antes de dormir, recebo um email com os seguintes dizeres: “Parabéns! Sua frase foi escolhida e você participará do desafio 24 horas com Dean Karnazes”.
Fiquei saltitante feito uma pipoca na panela. Nem dormi direito. Não sei ainda como vai ser esta história, mas, pelo que entendi, serão poucas pessoas por vez que correrão cada trecho. Escolhi o trecho que começa na Avenida Paulista, às 4h30. Quero ver o sol raiar na cidade adormecida, correndo ao lado de uma das figuras mais interessantes, inspiradoras e influentes do mundo dos esportes.

Prometo contar cada detalhe.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ai ai... que difícil voltar (suspiro)

Não que eu não goste da minha vida, da minha rotina. Gosto sim. É bem agitada, cheia de gentes queridas e bacanas por perto, com um ritmo tal que acordar as 5h20 ou às 5h22 faz diferença. Mas... Dançando na chegada


...É dureza, essa obrigação de voltar à realidade. Sinto como se tivesse ido para um universo paralelo, vivido outra vida: intensa, cansativa, repleta de afazeres bastante práticos. Quando ingresso nesse outro mundo, vou de corpo e alma. Quase esqueço minha existência entre os mortais. Cada instante gira em torno da prova que virá, que está sendo ou que acabou de acontecer. A sintonia com o próprio corpo é finíssima e as necessidades básicas que, geralmente relegamos ao segundo plano das nossas ocupações, passam a ser centrais: descanso, sono, hidratação, nutrição. Ficar deitada, lendo, relax com uma garrafinha de água e gatorade é quase um dever do atleta antes da prova. Aquilo, que, no dia a dia, fica espremido entre o horário ir para o trabalho e a hora de ficar com os filhos, entre a necessidade de dormir e a de cuidar da casa, das contas, das compras – ou seja, o treino – ganha exclusividade no dia da competição. O assunto, que a gente precisa maneirar para não irritar os amigos e familiares não atletas – o esporte – é o tema nas ruas, nas filas, nas mesas, nas feiras, nas camisetas.
Mas, depois de apenas 40 minutos de vôo, a bicicleta, nossa carruagem encantada, vira abóbora. Nós, tratadas como rainhas da categoria no triathlon, voltamos a ser reles malucas da categoria “como-é-que-pode-treinar-tanto-assim?”. Os seres extraterrestres que estavam conosco neste universo paralelo, dispersam-se.
Não é fácil. Deveria ser obrigatório um período de quarentena para a volta à rotina.