quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Clearwater 2008 – venturas e desventuras – parte 2 (parte 1 está logo ali embaixo)

Além de visto e passaporte, tive de organizar toda a viagem: passagens aéreas, reserva de hotel, mala bike. Não tenho um agente de viagem. Até hoje sou eu mesma que faço a cotação das passagens, pesquiso e comparo os hotéis, reservo.
Inicialmente tinha a intenção de dar uma esticada nos States. Mas a grana curta, o tempo escasso e a enorme culpa de deixar a família enquanto ia me divertir sozinha, me impediram de passear. No final das contas, não passei nem uma semana.
Comprei um par de rodas Zipp pela internet e pedi que entregassem no hotel aonde iria me hospedar. Pensei em não levar as minhas rodas. Imagine o trabalho depois na hora de voltar: uma bike e 4 rodas, mais as malas...
Se a gente já fica tensa na preparação de uma prova qualquer, na véspera de uma viagem dessas então, o medo de esquecer alguma coisa, os pesadelos, a insônia e outros sintomas de ansiedade, são proporcionais ao número de quilômetros que você percorrer até chegar ao local da prova.
Fiz uma dúzia de listas deferentes: equipamentos para prova, compras (antes de ir), compras (lá), comidinhas, coisas urgentes - não esquecer e assim por diante. Quase precisei fazer uma lista com o índice das listas.
E lá fui eu. Sozinha rumo à Florida. Bicicleta desmontada e dentro da mala bike. Uma mala de roupas, uma mochilinha de bagagem de mão. Dentro da mochila, uma espécie de envelope de lona com zíper onde coloquei todos os documentos e papéis importantes: passaporte, passagens aéreas, comprovante da reserva do hotel, comprovante de inscrição da prova e, claro, minhas listas.
Eu estava muito animada com a viagem. Mas também um pouco tensa. Só conseguiria relaxar quando tivesse passado pela imigração americana. Aquela idiota do consulado me deixara com a pulga atrás da orelha.
Escolhi um vôo diurno. Como não durmo mesmo em aviões, optei por voar de dia. Eu chegaria cansada e alta noite em Clearwater. Pronta para desmaiar na cama.
O vôo da American Airlines iria até Miami, onde entraria no país. Dali, depois de algumas horas, sairia meu vôo para Tampa, aeroporto mais próximo de Clearwater. Ainda em Cumbica, encontrei Diogo, um colega de treino, e sua noiva. Ele também se classificara e estava indo para lá, nos mesmos vôos que eu.
Chegamos a Miami depois de 7 horas. A diferença de fuso é de 2 horas para menos. Eu teria então cerca de 4 horas para ficar zanzando no aeroporto. Isso se eu passasse pela imigração.
Era dia 5 de novembro. Um dia depois da eleição de Obama. O clima no país era de festa.
Saindo do avião, antes mesmo de pegar as bagagens, lá estava ela. A fila para entrar no país. Escolhi um guichê onde estava um mulato. Pensei “ele deve estar feliz hoje. Não vai encasquetar comigo”. Durante semanas eu tinha ficado na maior dúvida se deveria revelar que estava indo participar de uma competição. E se ele me pedisse o visto de business? Estaria perdida. Mas, e se eu dissesse que estava a turismo e ele duvidasse de mim?
Decidi dizer que era turista. Afinal, a mala bike não estava na minha mão. E lá fui eu, como um boi pro abate.
Não rolou nada. Perguntou o que ia fazer. Respondi turismo. Ele carimbou o visto. Enquanto ele abria meu passaporte, eu ainda tive a pachorra de perguntar o que ele achava da vitória do Obama. Ele deu um sorrisinho e respondeu “let him work and we wil see”.
Sai quase saltitante. Que alívio. Agora nada poderia me deter. Nada?
Bem. Desci as escadas rolantes e comecei a procurar pela esteira onde deveria encontrar minha bagagem. Isso era outra coisa que poderia dar errado. As malas poderiam não chegar. Eu ficaria sem bike para competir. Andei todo o saguão olhando as esteiras. Mas, como estava sem óculos, não conseguia ler o que estava escrito nos letreiros.
Fui até o fim do saguão das esteiras. Parei. Tirei a mochila nas costas. Coloquei meu precioso envelope num carrinho de transportar bagagens, apoiei a mochila nele, abri-a e procurei os óculos. Achei. Coloquei. Vi o mundo! Pus a mochila nas costas e parti de volta, olhando as esteiras. Vi Diogo lááá na outra ponta, retirando sua mala bike. Opa. É minha esteira. Corri até lá e logo vi minhas malas! Uf! Que alívio.
Retirei as duas, coloquei num carrinho. De repente, me dei conta de que não estava mais com meu precioso envelope nas mãos. Onde estava? Onde estava? Lembrei! Eu havia colocado no cestinho de um carrinho quando fui procurar os óculos. Só que lááááá do outro lado, na última esteira.
Sai correndo, desesperada, até o lugar onde o havia deixado. Não estava mais lá. (continua)

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