domingo, 27 de setembro de 2009

Nem só de triathlon vive a triatleta

Tive de me render a Bob. E também ao veterano Jake, a Pedrinho, a Adam, a PLG (lê-se em inglês, por supuesto) e até a um cabeludo que respondia pelo esdrúxulo nome de Lorifice (“O orifício”???).
Meus pequenos estão contagiados pela febre do skate. O único que ainda não pegou foi o Theo e, a essas alturas, acho que não vai pegar. Mas posso me enganar. De qualquer modo, o trio ganhou skates do pai, aula de skate de um professor contratado pela mãe e, embora o futebol ainda ocupe parte da rotina e pensamento, o esporte sobre rodinhas está em primeiro lugar na competição.
Neste fim de semana acontecia um dos grandes eventos do skate. A tal da megarampa. Vagner, meu piloto, me deu a letra. Fiz o pedido dos ingressos pelo site. Meu plano era passar essa bola (ou seria essa roda?) pro pai. Afinal, era programa para meninos. Eu ia aproveitar pra pintar o cabelo que já faz uns 4 meses...
Mas, quis o destino que o pai não voltasse de sua viagem de trabalho. Eu não poderia deixar os meninos de fora dessa. Imbuí-me do espírito de “pãe” (espécie de pai misturado com mãe) e lá fomos nós ao sambódromo. Já quer era pra ir, eu iria aproveitar.
Chegando lá, certa confusão acontecia na entrada. Não estavam deixando as crianças entrarem sem apresentar documentos. Imaginei que isso valia para os adolescentes que vinham sozinhos. Afinal, no site, no ingresso e nos emails enviados pela promoção, não havia nenhuma menção a isso.
Peguei os três pelas mãos e fui entrando.
Um primeiro segurança me barrou: “Documentos!”.
Eu “os meus?
Ele “Das crianças”. Eu “Não trouxe, ninguém avisou”.
Ele “sinto muito, senhora, não está autorizada a entrar”. A pimenta me subiu. O coração acelerou. Decidi comigo mesma que iria entrar.
Disse pra ele “vou entrar. Isso não está certo. Ninguém avisou em lugar algum”.
O cara veio com aquela conversa idiota “senhora, eu só cumpro ordens”.
Retruquei “Ah, é? Ordens de quem? Chame a pessoa aqui, que eu vou conversar com ela!” O segurança, investido do seu poder que deve vir no bolso de seu terno ridiculamente preto para o calor da ocasião, me ignorou solenemente. Sabe o que fiz? Catei os meninos pelas mãos e fui entrando. Ele tentou me segurar. Não conseguiu. Soltei-me e sai andando rápido. Gritou para outro segurança que tentou me impedir, também me desvencilhei e segui em frente.
A galera vibrava “Deixéla entrar! Deixéla entrar!”.
O Ian chorava “mãe, você vai ser presa!
E eu “Não Ian, não vou. ELES é que estão errados, não nós”. Acho que os seguranças não contavam com a minha determinação. Me deixaram passar, contando com os próximos controles. No seguinte ninguém pediu nada. No terceiro, um gigante me pediu os documentos. Olhei bem nos olhos deles e disse que afinal, eu era uma senhora de 45 anos, com três filhos pequenos, que tinha vindo de longe e agora não ia voltar porque eles não tinham feito a divulgação deste detalhe. Ele pediu meu documento (afinal, tinha de ter uma saída honrosa para eles) e nos deixou entrar. Mais tarde, em virtude da revolta que este requisito estava causando, eles recuaram e improvisaram um termo de responsabilidade para os pais assinarem na hora. Mas isso foi só depois do barraco que eu armei.
Bom, mais isso é um detalhe.
Lé encontramos o Vagner e seus filhos, depois a Brigitte (que trabalha comigo) e seu filho Daniel com quem os meus fizeram a maior farra jogando aviõezinhos de papel nas pessoas que ficavam de pé.
A apresentação dos skaters e dos BMXs foi show de bola. Ou melhor, show de rodas. Não posso descrever as manobras que eles fizeram porque, para mim, a descrição dos narradores parecia toda inventada. Em uma das manobras, a impressão que tive foi que o Bob Burnquist (nosso brasileiro, exportado para a Califórnia) pegou o skate embrulhou, envelopou, mandou pelo correio, recebeu a remessa, tirou do envelope, desembrulhou, montou em cima e voltou pra rampa. Inacreditável.
Pedro Barros, um menino de apenas 14 anos, fez bonito. Bom. Só de estar lá, já é um feito.
Eles erram muito. Tomam muito tombos. Sabem cair. Levantam, sacodem a poeira e pegam o elevador. São aplaudidos no erro e no acerto. Mas no acerto, a multidão vai ao delírio. Não importa se é um brasileiro ou um estrangeiro. Mas Bob era, de longe, o mais querido. Diga-se de passagem, é megassimpático! Aliás, aparentemente, todos são humildes. Olham para o público, agradecem, se desculpam. Brigam com o skate.
Na segunda parte, foi colocado um corrimão entre a mega rampa e a outra rampa. E por lá eles deveriam passar, tentando manobras das mais variadas. O vento começou a soprar mais forte e aí estava mais difícil ainda de acertarem. Aí foi a vez do cabeludo Lorifice, fazer bonito. Levantamos a hipótese de que seu cabelo ajudava a planar sobre o corrimão.
A esquadrilha da fumaça também deu as caras, desenhando “ois” no céu. Pena que a anta da repórter que ficava “na galera” (acentue-se com sotaque carioca) chamou de ESQUADRIA da fumaça.
Os meninos ficaram fascinados. Eu também. O que mais gostei foi do fato de eles errarem tanto e seguirem tentando fazer de novo, fazer melhor, fazer mais difícil. Gostei, porque é belo. É contra a gravidade e a favor da gravidade. Por que a queda faz parte e porque é fundamental saber cair. E às vezes a queda é também ridícula. E é tão, mas tão corajoso ser ridículo na frente de uma multidão!
Quero mais é que meus filhos joguem bola e andem de skate e pratiquem toda a sorte de atividade que os façam viver uma ampla gama de sensações físicas e afetivas. Isso vai torná-los aptos a fazer o quer que venham a escolher como esporte, mais tarde em suas vidas e, penso eu, também vai deixá-los mais flexíveis para as rampas, corrimões, buracos e estradas que o destino lhes vai oferecer.

Um comentário:

  1. Hahaha, fico imaginando você peitando os armários e se desvencilhando deles...sou sua fã! Super pãe!!!!!!

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