sábado, 15 de agosto de 2009

Penha, em 2008 - 2ª parte

Terminei o pedal inteira. Quer dizer... Faltava metade do meu pé direito, que estava dormente. Fui pra tenda, coloquei meia, tênis e boné, passei protetor solar e pernas pra que te quero.
O percurso começava e terminava dentro do Beto Carrero World e isso foi meio complicado, porque o parque estava aberto ao público. Ao público não-atleta e, pelo jeito, muito pouco familiarizado com este tipo de evento. Então, embora houvesse uma sinalização indicando o caminho e staff avisando pro pessoal não ultrapassar a linha, não adiantava. Crianças, idosos, mães com carrinhos de bebê, pai levando filhos pelas mãos, passeavam desavisados por nosso trajeto. Não tive a menor dúvida. Fui buzinando o tempo todo: “ói eu! ói eu! Ói eeeeu!”. Assim consegui evitar vários acidentes.Na saída do parque, o Emerson, meu técnico, falou “Agora você está em casa!”. De fato, a corrida sempre foi o meu forte. O plano era começar moderado, até o km 4, aumentar progressivamente até o 7 km, fazer um ritmo forte dali até o 17km e depois ir pra morte.
Ainda dentro do parque, ultrapassei uma das minhas concorrentes. Ela tinha quebrado. Pensei “humm, minhas chances de pegar a vaga, agora, aumentaram!”. E me animei.
Acontece que meu pé, além de dormente, ficou inchado depois dos 90 quilômetros pedalando. O incômodo do pé apertado foi ficando insuportável. Lá pelo km 5, não agüentei mais. Parei, tirei a meia só do pé direito, enfiei no bolso lateral, e segui.
Encaixei um ritmo bom logo de cara. Sem esforço. Fui passando alguns “leões de treino” (caras que sempre querem treinar forte, mais forte do que está sendo pedido, mas, na hora da prova, não agüentam) que quebraram.
Tomei um gel a cada 7 km, bebi em todos os postos, pelo menos um pouquinho, alternando água e gatorade. O sol estava pegando. Eu nunca tinha comido durante uma corrida, mas senti que meu corpo precisava de sal, então comi uns pedacinhos de biscoito.
Lá pelo 14 km meu pé sem meia começou a incomodar. Uma bolha estava em formação no meu calcanhar.
No km 17 a bolha estourou e começou a arder. Faltavam 4 km e era a hora de dar o máximo. Fiz um trato comigo: eu não tenho pés. Meu corpo termina no meu tornozelo. E corri. Corri. Ultrapassei uma atleta da minha faixa etária (vi pelas letras na perna) fazendo vento. Corri. Cheguei. Feliz da vida. Inteira. Só o pé que sangrava.
Fui me hidratar, me alimentar, colocar gelo nos pés. Peguei a medalha e a camiseta e saí da área de chegada para comemorar.
Não sabia minha classificação. A Kiki achava que devia estar em segundo, portanto, a vaga seria minha! Fiquei animada. Como os resultado estavam demorando pra sair e eu estava louca pra tomar um banho, resolvi ir embora e voltar mais tarde pro momento da convocação das vagas. Combinamos de almoçar no mesmo lugar onde havíamos jantado na véspera. Queríamos tomar um chopinho, claro!
Fui pro hotel e enviei um torpedo para várias pessoas contando que eu tinha terminado bem e que tinha chance de pegar a vaga. Mandei um pro Emerson, agradecendo todo o trabalho e a força que ele me deu nos últimos meses e perguntando se ele achava que eu tinha chance de pegar a vaga. Ele respondeu “Claro que tem, Claudia! Vem pra cá!

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