sexta-feira, 24 de julho de 2009

Caravelas ao mar

Em janeiro tirei uma semana de férias e fui com as crianças para um hotel em Angra dos Reis. Escolhi um lugar em que eles pudessem se divertir e eu também. Onde eu não tivesse preocupações as refeições de modo que os momentos junto a eles fossem de puro desfrute.
A diversão deles é futebol, amigos e água. A minha diversão é treinar, treinar e treinar. Por isso, levei todos os meus equipamentos. Para a natação: maiô, sunquíni, óculos, touca e roupa de borracha. Para o pedal: bike, rolo e sapatilhas. Para a corrida: tênis, boné, i-pod e roupas adequadas.
Chegamos no domingo à tarde e pude ver como o mar, em frente ao hotel era calmo e estava com uma temperatura super agradável.
Decidi que manteria uma parte dos meus treinos no horário que costumo, ou seja, bem cedinho. Assim, quando eles acordassem, eu estaria voltando da minha primeira sessão de treinos e iríamos todos tomar café da manhã juntos.
Na segunda, um lindo dia amanhecendo, vesti o maiô, peguei touca e óculos e rumei para a praia. Cheguei a pensar em usar a roupa de borracha, mas a temperatura da água estava convidativa. A roupa seria um estorvo.
A praia era pequena, particular do hotel. Sai nadando da frente do nosso apartamento. Na ponta oposta ficava o píer. Mas a distancia não devia chegar a 300 metros. Fui até lá. Não havia uma alma na praia. O sol aparecia no horizonte. As embarcações, enormes, estavam a quilômetros de distância.
Nadei até a ponta oposta, no píer e comecei a voltar. Quando estava chegando na frente do lugar de onde havia começado decidi continuar em frente, passar por um ponta de pedras e ir até uma outra ponta, de frente a uma praia deserta. Não queria ficar nadando como se estivesse em uma piscina: indo e vindo num trecho pequeno e repetitivo. Afinal, eu estava no mar!
Lá fui eu. De repente, senti uma picada nas minhas costas. Foi rápido, mas deu pra sentir. Não vi nada.
Mais adiante, já chegando na outra ponta, senti de novo, mas, dessa vez, mais forte. Algo enroscou no meu braço e queimou. Então eu vi. Era uma caravela – um destes animais gelatinosos, transparentes e até bonitos, que vagueiam pelo mar e queimam. Elas se parecem com um cogumelo, mas em vez de uma haste, tem vários tentáculos que são cheios de uma espécie de ferrão com uma substância venenosa.
Então senti meu outro braço sendo queimado. E o meu rosto. E senti por dentro do decote, queimando meu peito. Olhei em volta. Estava cercada.
E estava longe do hotel. E não havia ninguém por perto. Ninguém. Pensei: preciso sair daqui. Rápido. E tentar me queimar o mínimo possível. Fui nadando e tentando me desviar. Mas era difícil, elas estavam em todos os lados, e também embaixo. A toxina estava fazendo efeito e ardia muito doía. De repente me lembrei de ter viso que a substância inoculada por esses ferrões pode causar alterações no sistema nervoso. Parada respiratória. Ou seja: não adiantava eu nadar para a praia mais próxima que era deserta, apenas para sair do mar. Eu precisava de medicação. E rápido.
Meu coração estava acelerado, minha respiração, curta. Eu olhava pro hotel, pro quarto onde estavam meus meninos e dizia para mim mesma: não posso morrer. Tenho quatro filhos. Eles estão ali, dormindo sem saber de nada. É aniversário do Martim, eu não posso morrer no dia do aniversário do Martim!
Consegui chegar à praia do hotel. Fui imediatamente a busca de socorro. Estava deformada. Toda vermelha, ardendo. Nem conseguia chorar. Só gemer. Para a minha sorte, o hotel contava com uma enfermaria com médico. E ele estava chegando exatamente naquela hora. Eu tremia e mal conseguia me explicar. Ao me ver e saber do que acontera, imediatamente aplicou um anti-histamínico intramuscular. Aí comecei a chorar. De medo. De alívio. De susto. Sei lá. Em cinco minutos o remédio fez efeito. A vermelhidão passou. O médico disse apenas uma vez: você poderia ter morrido. Teve sorte. Por outro lado, também comentou que nunca vira nada parecido desde que estava ali.
Fui para o quarto, tomar um banho e chamar os meninos pro café. Já estava mais calma.
Fiquei imprestável por três dias. Uma diarréia daquelas. Apetite zero. Disposição nenhuma. Febre. Tontura. Não conseguia parar em pé.
Naquela noite, não deu nem pra cantar parabéns pro Martim. Eu precisava deitar. Felizmente, os monitores fizeram a festa pra ele e depois levaram até o quarto.
Consegui aproveitar os outros dias. Minha disposição e apetite voltaram. Mas ficou uma lição pra não esquecer: NUNCA nade sem que alguém saiba que você está no mar e consiga ver ou ouvir você, caso precise de socorro. Eu poderia não estar aqui pra escrever esta história.

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