domingo, 19 de julho de 2009

Meu primeiro short - Parte 1

Minha experiência era em provas de corrida – várias – e alguns biathlons (natação e corrida). A grande novidade era bike. E aí, apesar dos meus 43 anos, eu era novata — não tinha nunca pedalado aquelas magrelas, usado sapatilha ou clipe.
Eu estava treinando fazia apenas dois meses e o Emerson, meu técnico, colocou na minha planilha “short triatlon – Ubatuba”. Levei um susto. Será que ele não estava sendo precipitado? A idéia de fazer uma prova me deixou animada e apavorada ao mesmo tempo.
Para complicar a situação, estava acontecendo um surto de dengue em Ubatuba e então eu tinha mais uma preocupação (ou uma desculpa) para (não) ir. Pelo sim, pelo não, fiz minha inscrição e comecei a procurar hospedagem.
No treino de pista, na 4ª feira antes da prova, azucrinei o Emerson com um milhão de perguntas: você acha que eu vou conseguir? E se tiver dengue? Não vai estar muito calor? Não vai estar muito frio? Não tenho roupa de borracha, dá pra fazer a prova sem roupa de borracha? Não vou me atrapalhar na transição? E se eu derrubar alguém da bike? E se eu cair da bike? Não vai me dar dor de barriga? Vou conseguir beber água enquanto pedalo? E seu eu não souber onde é o retorno? E seu eu passar mal? Não vou ter cãibras? E assim por diante. A única parte que não tinha erro, era a corrida. Mesmo assim, não sabia se ia agüentar tudo.
Ele teve a paciência de Jó. Respondeu cada uma das minhas dúvidas e fez mais: foi narrando passo a passo tudo que iria acontecer desde a véspera até a hora de cruzar a linha final e ainda estimou que meu tempo seria abaixo de 1h30.
Passei os dias seguintes sonhando que a prova acontecia e que eu me atrasava e perdia a largada. Estava preocupada mesmo que algo não desse certo. Conversei sobre isso com a minha amiga Lucia Mandel e ela me disse: “Olha, divirta-se. E se der alguma coisa errado, você certamente vai ter uma ótima história pra contar!” Era mesmo. Afinal, iniciando no triathlon com 43 anos! O que mais eu queria? Certamente não era pra ganhar, nem pra provar nada pra ninguém. E, definitivamente, não era pra me angustiar.
No sábado cedo saímos de SP Theo (com 13 anos, na época), Martim (com 7) e eu. Meu marido não quis ir, então dividimos a família e fiquei com os dois mais velhos. Durante a viagem levei água e gatorade. A cada 30 minutos meu relógio tocava e eu bebia um pouco de um, um pouco do outro. Claro que isso fez com que, ao final da viagem, o xixi estivesse chegando à orelha e não chegássemos a nenhum lugar com banheiro.
Chegamos ao hotel, nos instalamos e fomos para piscina. A orientação do técnico era descansar.
Mais tarde, minha grande amiga Ligia e sua filha surfista, Helena, vieram nos encontrar para o almoço. Depois deveríamos ir buscar o kit. Eu assistiria ao congresso técnico enquanto Ligia e Helena passariam com os meninos.
Quando chegamos à praça onde estavam as tendas com os kits, Martim, que havia ganhado uma daquelas bolinhas de borracha que pulam muito alto, deixou a bolinha escapar, saiu correndo atrás dela e PAF! Não viu que o cavalete onde iriam ficar as bikes estava no seu caminho. Bateu de cara nele e caiu de costas no chão. Foi uma autêntica videocassetada. Meu coração parou. Sai correndo até ele, que estava atordoado com a pancada. Peguei-o no colo e fui atrás de uma tenda onde tivesse gelo pra colocar em seu nariz. Tive cabeça ainda pra entregar meus documentos pra Ligia e pedir que ela retirasse o kit pra mim.
Encontrei o Célio, organizador da corrida, que foi muito atencioso e arranjou gelo para meu pequeno contundido. Na hora cheguei a pensar que o acidente tinha sido sério e que eu nem conseguiria fazer a prova. Mas, felizmente, não foi nada.
Enquanto isso, minha amiga, que definitivamente não é do ramo esportivo, foi até a tenda retirar meu kit. Na hora que entreguei o comprovante a ela, ainda avisei: pegue uma camiseta tamanho P!
Pois bem, eis que a mocinha que a atende pergunta: "Short?"
E ela responde, perguntando: "Short? Short, não sei. A camiseta é P."
A mocinha olha espantada.
Ligia se explica: "Não é pra mim, é de uma amiga."
E então a moça desfaz o mal entendido: "mas sua amiga vai fazer a prova mais curta, não? O Short triathlon."
Martim de nariz roxo, camiseta P, adesivo para o capacete, número de peito... Tudo certo. Depois de jantarmos, combinei que a Ligia iria cedinho tomar café e pegar os meninos. Se desse tempo, estariam lá para a largada.
Na véspera, conferi umas 500 vezes se estava tudo certo: capacete, número de peito, pneus cheios, gel, caramanholas, gatorade, boné, tênis com elástico, vaselina para a virilha, protetor solar etc. Eu não tinha nem macaquinho de triátlon, nem roupa de borracha. Fiz a prova com um sunquíni mesmo!
Foi difícil dormir. Mas não era tensão. Era como uma criança na véspera do acampamento – ansiosa pela diversão que virá.

Theo, Helena, Ligia e Martim, na véspera.

Na pizzaria, na noite anterior, da esquerda para direita: Martim, Yan (filho da Ligia), Theo, Herman (marido da Ligia e aniversariante do dia), Ligia, eu e Helena.

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