Hoje comprei as passagens aéreas e fiz minha reserva de hotel em Penha. Não por acaso. Afinal, voltei a correr depois de duas semanas parada. Este ano, o nome do filme de meu treino de corrida é O Eterno Retorno. É a quarta vez que volto. Agora quero ir direto, sem escalas na terra dos ortopedistas, até Penha. Penha, Santa Catarina, bem entendido. Lá acontecerá a prova dos 70.3 para a qual espero, boto fé e investi dinheiro (na passagem e na reserva do hotel), estarei pronta para competir.Estive lá em 2008 – por sinal, estava na ponta dos cascos, correndo sem medo de ser feliz depois de me recuperar de uma lesão no quadril com o luxuoso auxílio da Cacau, minha fisio. Mas, no ano passado, vacilei e deixei pra fazer a reserva de hotel quando já era tarde demais. Sobrei. Não que haja grandes opções em Penha, a maioria dos lugares é bastante simples e muito pouco charmosa. Mas o Hotel Lorimar superou minhas piores expectativas. Cheguei dois dias antes da prova, de mala e cuia, ou melhor, de mala e bike, e do aeroporto fui direto ao hotel. Seu Lorimar, um autêntico barriga verde, branquelo e simpático me levou, pessoalmente, ao meu quarto. A porta se abria em cima da cama de casal, que era quase dentro do banheiro, onde pia, chuveiro e vaso sanitário se amontoavam. Do outro lado da cama, se espremia uma beliche e, pendurada no teto, uma pequena televisão. E o armário? Onde ficava mesmo? Acho que embaixo do beliche ou atrás da porta do banheiro.Quando seu Lorimar afastou a porta – porque era impossível abri-la – quase cai de desgosto. Mas não havia onde. Que remédio. Quem manda deixar tudo pra última hora? Não tinha pra onde ir.Colocar a bike dentro do quarto foi um sufoco. Tive de tirar as duas rodas. Exagero. Só uma. E, como estava sozinha mesmo, acomodei a magrela na cama de baixo da beliche. Isso me causou um certo transtorno porque, durante a noite, não conseguia me ajeitar na cama porque o colchão era muito macio e estou acostumada com colchão firme. O colchão da beliche era melhor. Então, me desculpei com minha companheira e fiz contorcionismo para conseguir tira-la da cama, puxar o colchão, empurrar o meu colchão para a cama de cima da beliche, colocar o outro colchão na minha cama (que era de casal) e ajeitá-la novamente sobre o estrado. Uf. Depois de tudo isso quase que eu não precisava mais fazer a prova.Mas o pior ainda estava por vir. O meu maravilhoso quarto ficava no térreo, praticamente colado à recepção. Ou seja, toda a movimentação, os diálogos, as reclamações e até os chavecos chegavam até mim em stereo system.Ocorre que seu Lorimar tem uma filha muito bonita, Shirley, na flor da idade. Não que ela não fosse flor que se cheire, pelo contrário – ela fazia sucesso com todos, inclusive com crianças. Criancinhas. Falantes. E isso não foi bom.Eu estava cansada, não tinha nada pra fazer e iria encarar meu primeiro meio Ironman dali a menos de dois dias. Precisava descansar. Fui dormir. Você acha???Impossível. Seu Lorimar, na recepção, fazia questão de puxar papo com todos. Em alto e bom som. E a maioria respondia. Em alto e bom som. Até que ela chegou. A criancinha. Ela e seu pai. E, por sugestão de seu Lorimar, em alto e bom som, pediram uma pizza, em alto e bom som. Mas antes mesmo de pedirem a pizza, ela perguntou, em alto e bom som: “Onde ta a Shirley? A Shirley ta aqui?”. E, não sei porque, ela repetiu esta pergunta umas quinhentas e setenta e quatro vezes. Em alto e bom som. E, não sei por que cargas d’água, ninguém parecia se importar. Nem tampouco se dar ao trabalho de responder.Até a minha bicicleta já estava nervosa. Às 22 horas, achei que já podia pedir silêncio. Então afastei a porta, apenas o suficiente para colocar a boca para fora, e gritei: “A SHIRLEY NÃO ESTÁ!!! E SERÁ QUE AGORA DÁ PRA FAZER MENOS BARULHO???”Mas, seu Lorimar parecia ter compulsão em falar. Nessa hora porém, tentou ao menos abaixar o volume. Só depois da meia-noite, quando o movimento diminuiu, é que se calou de vez e eu pude adormecer.No dia seguinte, rodei a baiana e a Shirley, que estava no comando, para minha alegria, me mudou para um quarto na parte de cima, do lado do Nick (que treina na mesma assessoria que eu) e do Douglas (seu irmão). Nossa, este segundo aposento era um luxo comparado ao primeiro. Até a bike ficou contente. Mas o melhor foi que, à tarde, descobri que tínhamos uma ilustre companheira hospedada na nossa pousada. Nada menos que a triatleta olímpica Mariana Ohata! Então, quando encontrava o pessoal e me perguntavam onde eu estava hospedada e se meu hotel era bom, eu respondia: ”é uma espelunca. Mas é uma espelunca olímpica. Seu hotel tem algum atleta olímpico hospedado? Pois o meu, tem!”Este ano, não arrisquei. Fiz logo minha reserva no Vila Olaria. Afinal, eu duvido que a Mariana repita a dose e fique no Lorimar. E não sendo olímpica, tou fora!
Olá Cláudia, finalmente consegui chegar ao seu blog e lê-lo por completo, adorei os relatos e sobre tudo o bom humor. É bom saber com quem você trata suas lesões, quem sabe eu vá precisar rs, também é bom saber que tenho alguém com quem dividir o hitler, é bom saber também em qual hotel não ficar em Penha, o duro é ter um descente em que se possa ficar, mas como não irei para Penha esse ano mesmo nem irei me preocupar, continuarei a ler, abraços !!!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOi Cláudia !!! Como vc escreve bem !!! uma verdadeira comédia!!!...só risadas quando li sua descrição do hotel!
ResponderExcluirAliás! acabei de me inscrever para Penha! e vou correndo reservar o Vila Olaria, fiquei lá no ano passado e posso garantir que é bem melhor que o "Lorimar" ...! Que bom saber que está "quase recuperada"...dessa vez amiga, vc vai arrasar ainda mais em Penha!
Um beijo!
...Espero que o seu "Lorimar" não leia seu blog !!!
ResponderExcluir