Então, como eu ia dizendo, na sexta-série eu já não era assim totalmente toupeira.
Naquele ano fiquei em êxtase quando vi meu nome na famosa lista. Óbvio que eu era a reserva da reserva e, provavelmente, esquentaria o banco o tempo todo. As minhas chances de entrar em quadra eram remotas. Mas meu nome estava lá. Eu teria o uniforme COM NÚMERO. Participaria de treinos especiais. Faltaria na aula nos dias de jogo. Seria vista pelos outros. Deixaria de ser um nada.
O dia em que saiu a convocação foi o melhor dia de todos os meus onze anos de vida.
Peguei o uniforme, experimentei. Ficava um pouco grande, mas nem liguei. Levei os documentos necessários e entreguei, feliz da vida, na secretaria da escola, explicando que era para me inscrever no campeonato, na seleção de vôlei.
Na noite da véspera, quase não dormi de excitação e expectativa. Deveríamos chegar um pouco mais cedo na escola para pegar a condução que nos levaria ao ginásio do Pacaembu (que era do lado da minha casa, mas é claro que eu preferia ir junto com o time).
Meu pai me levou. Chegamos à escola e fomos direto pra secretaria, conforme havia sido a orientação. Mas meu nome não estava lá. Alguém extraviara meus documentos e, oficialmente, eu não estava inscrita. Entrei em choque. Não consegui falar. Comecei a chorar sem acreditar no que estava acontecendo.
Meu pai me abraçou e me levou de volta para casa. Emudeci por uma semana (quase o tempo de duração do Campeonato Mirim) pois tive uma amidalite daquelas: febre alta e injeção de benzetacil duas vezes por dia.
Até hoje não sei direito o que aconteceu, onde foram parar as cópias dos meus documentos, ou quem foi o responsável por essa trapalhada. Foi um episódio difícil de digerir.
Acho que pro meu pai, também. Depois daquele dia, ele também mudou comigo e com meus irmãos. Mas isso é mais uma parte da história.
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