terça-feira, 21 de julho de 2009

Meu primeiro short - Parte 2

Antes de dormir eu disse aos meninos que se eles preferissem ficar no hotel, brincando na piscina em vez de assistir à minha prova, eu entenderia. Mas que iria ficar muito contente em tê-los por perto.
Acordei ainda era noite. Saí pé ante pé do quarto, deixando meus dois companheiros dormindo um sono solto.
No café da manhã conheci Bertha uma argentina campineira, já experiente em triathlon, com quem conversei um pouco. Não tinha fome alguma mas sabia que precisava comer. Banana, pãozinho com requeijão e queijo branco, um pedaço de bolo, suco de laranja.
Chegando à área de transição, aquele clima de festa meio sonolento. O dia estava lindo. As pessoas, concentradas, encaixavam as suas bicicletas no cavalete, organizavam seus pertences ao lado, vestiam roupas de borracha, passavam protetor solar. Fiquei um tempo assistindo. Era a primeira vez que eu entrava numa transição de triathlon. Vi que várias mulheres tinham colocado as sapatilhas já encaixadas no pedal. Achei o máximo – um indicador da superioridade delas sobre mim. Tentei algumas vezes fazer a operação de vestir a sapatilha pedalando e demorei uns 5 kms até conseguir. Conclusão; na prova eu não ia arriscar. Melhor sair como uma pata choca, batendo o taquinho no chão, mas encaixar a sapatilha parada do que me arriscar a fazer isso em movimento e, de quebra, atrapalhar algum atleta.
Também notei que eu era uma das únicas sem roupa de borracha. E a única de sunquíni. A única coisa que eu queria era terminar a prova e, de preferência, não ser a última.
Uma atleta mais velha, percebendo meu ar meio perdido, veio me perguntar se era o meu primeiro triathlon. Devia estar estampado na minha cara. Nazaré, 51 anos, vários triathlons nas costas. Foi uma simpatia, me tranqüilizou, me deu dicas sobre a natação e garantiu que eu não teria problemas. Foi ótimo.
Antes de sair da área de transição, coloquei um pouquinho de vaselina na sapatilha e no tênis, conferi mil vezes se estava tudo em ordem, e escolhi a tabela de basquete em cima da bike como ponto de referência pra encontrá-la no meio das outras na hora que saísse da água.
Fui para a praia esperar a hora de largar. E aí, o melhor dos mundos! Ligia estava lá com Helena, Theo e Martim! Encontrei meu técnico, Emerson, e nervosa, pedi a benção.


Toca a buzina, é aquela correria. Não houve muito atropelo porque a largada feminina foi depois da masculina. Engoli um pouco de água, me perdi porque o sol no rosto dificultava a visão das bóias mas, um pouco no faro, um pouco na cola de outras nadadoras, consegui terminar. E não fui a última. Tempo 14m 48s – 750 mts.
Uau! É uma festa cumprir a primeira etapa! Quase tão bom como uma chegada. Ver os meninos ali, fez com que eu enchesse o peito, corresse com mais vigor. Passei pelo chefe, digo, técnico, joguei o óculos e a touca pros meninos e corri pra bike.

Achei sem problemas. Vesti as sapatilhas, a faixa com o número de peito, coloquei o capacete e fui, toc toc toc, até a saída.
Na hora de clipar a sapatilha, quase caio! O Hermann, marido da Ligia que estava lá pra fotografar, testemunhou me vacilo. Que vergonha.



O pedal foi uma delícia. Engatei um volantão (catraca maior e, portanto, mais pesada) e fui embora. Nos treinos eu tinha usado o volantão pouquíssimas vezes! Era sempre giro, giro e giro no volantinho! Me senti uma verdadeira atleta. Terminei em 40m17s os 40km. E consegui desvestir a sapatilha em movimento sem me atrapalhar!
De novo, a chegada do pedal deu uma sensação ótima, de ter cumprido a parte mais difícil. Faltava só a corrida, a parte em que tinha menos chance de errar ou ter problemas.


Boné na cara, tênis no pé e vambora! Estava cansada, mas inteira. No começo, parecia que a perna estava um pouco desencaixada mas, no segundo quilometro, já consegui imprimir um ritmo e fui passando algumas mulheres. Olhava pro relógio e não acreditava! Ia fazer um tempo bem melhor do que o previsto.
Fiz a corrida em 23m08s.
Na chegada, tinha uma curva e o Martim ficou me esperando lá. Passei, radiante, peguei-o pela mão e ele correu comigo os últimos metros, até a linha de chegada.

Foi demais. Terminei em 1h18m13s e, para o meu espanto, fui a primeira colocada na categoria e a nona no geral.
Ter o Theo, o Martim, a Ligia, o Hermann e a Helena foi ótima. Eles puderam testemuhar e compartilhar minha felicidade, um momento especial.
Fiz a maior festa no pódio. Imagino que a emoção de terminar um Iron seja esta que eu senti, mas numa intensidade muito maior. As outras atletas, mais experientes que eu, fizeram festa junto. E isso é uma das coisas de que mais gosto nas competições – embora haja classificações, troféus, categorias – a maior competição é da gente com a gente mesmo e as pessoas não torcem contra as outras, mesmo que sejam da mesma faixa.Adorei viver este momento e, cada vez que termino uma prova, essas emoções são despertadas novamente. Não são mais inéditas, mas são intensas, alegres, plenas.



Um comentário:

  1. Nossa Claudia , depois ler estes seus posts , estou percebendo o quanto é importante relatar e documentar tudo que acontece conosco .As vzs pensamos que ninguém vai se interessar pelo que fazemos , mas francamente , estou maravilhado com cada detalhe que você nos contou neste seu Diário ....Muito obrigado , continue sempre escrevendo todos os detalhes dos seus treinamentos, provas , e etc....Abraços do Mineiro.

    ResponderExcluir

Sua opinião é muito importante para nós. Escreva-a! Caso queira uma resposta, escreva para clauarat@gmail.com