Tenham paciência comigo. Gosto de contar histórias. E, como a Lu (Lúcia Mandel, que trabalha comigo) pediu, vou explicar de onde veio essa insanidade. Mas vou resgatar isso láááá no fundo do baú. E vai virar uma novela. Com alguns capítulos.
Sempre gostei de esportes. Nunca fui muito boa em nenhum deles.
Quando entrei na 5ª série, era a caçula da classe. Saí de uma escolinha com meia dúzia de alunos por turma e entrei, sem direito a período de adaptação, em uma com trinta e três. Saí da 3ª série primária e fui direto pra 5ª, sem direito à transição. Além de mim, duas outras “Claudias” na classe e virei Claudinha (diminutivo que, confesso, até hoje não gosto). As meninas tinham peitinhos nascendo. Eu nem usava parte de cima de biquíni.
As meninas vestiam camiseta hang-ten, calça cocota e tênis All Star. Eu vestia shorts de menino e vivia descalça. As meninas e meninos jogavam vôlei, handebol e basquete. Eu ainda brincava de esconde-esconde e pega-pega. Percebi que deveria ter algo de errado. Comigo. Então, me escondia nas fileiras do fundo da classe. Tinha medo até de tossir na sala de aula.
As aulas de educação física eram um suplício. Basquete, handebol ou vôlei. Aqueles exercícios em fila, em que todos podiam assistir minha falta de habilidade. E lá, as meninas gozavam de mim porque, em vez de comprar aqueles calções bufantes, supostamente femininos, minha mãe comprara, por engano, um shorts masculino.
O pior momento, entretanto, era na hora da escolha dos times. Os tops de linha eram os capitães e escolhiam; os melhores eram disputados um a um; os médios, eram escolhidos; os ruins, ficavam no fim da fila e os “casos perdidos que não têm jeito nenhum pro esporte” bem, esses sobravam nos times. Era indiferente em que time eu, a Daniela-dos-cabelos-verdes, o Sidnei (chamado, graciosamente, de Sidnéia) ou o Peidão, iríamos ficar. Para os líderes do pelotão éramos igualmente imprestáveis e a elite torcia o nariz quando ingressávamos na equipe. E isso era nefasto para nosso IBOPE. Na escola onde eu estudava, ser bom nos esportes, estar entre os escolhidos, era tudo. Ou seja: eu era um nada.
A certa altura, consegui aprender a jogar vôlei. Não sabia dar “saque por cima” e muito menos cortar. Mas meu toque e manchete eram decentes. E eu já não furava mais todas as bolas, nem botava todos os saques na rede.
Veio então o esperado Campeonato Mirim, o evento mais importante do ano. O professor de educação física convocava as diferentes seleções, só com os melhores. Todos os alunos ficavam ansiosos, aguardando “A LISTA”. Os escolhidos teriam um uniforme especial, poderiam faltar na aula (E em provas, o que era ainda melhor!)em dias de jogo e, claro, seu já elevado prestígio cresceria paulatinamente à medida que o time vencesse.
Algumas pessoas eram convocadas para fazer parte de todas as seleções: Zaba, Tiche, Aninha. Eram as mais populares da escola. Outras, tinham vaga garantida em algum dos times, porque eram treinavam em clubes, como a Patricia Botelho, por exemplo.
Na 5ª série eu não nutri nenhuma espécie de ilusão quanto à minha convocação. Já na 6ª série...
(continua... e muito!)
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