terça-feira, 7 de julho de 2009

Fim do T(o)urno


A hora de dormir é um caso sério para os triatletas. Para quem acorda duas vezes por semanas às 4:20, três vezes por semana às 5:15 e mais uma ou duas às 5:45, estar na cama cedo é uma meta a ser alcançada todos os dias, ou melhor, noites. Mas, com quatro meninos em casa, não é assim tão simples.
Depois de um dia de trabalho fora, resolvendo as brigas entre os filhos, organizando a ida ao futsal (ou a volta da escola no dia em que o carro quebra), pelo telefone, procuro não chegar tarde. O horário de dormir fica piscando na minha cabeça, particularmente às segundas e quartas, por causa do treino da madrugada. Não posso desperdiçar um minuto ou acabo dormindo tarde demais. É um autêntico contra-relógio.

O jantar está pronto. 1ª Etapa: conseguir trazê-los para a mesa.
Eu – Pessoal, está na meeeeeesa!
Eles – Ah, mãe, deixa a gente jogar futebol só mais um pouquinho! Bem agora que o Martim ia catar no gol, droga!

2ª Etapa: conseguir fazê-los lavar as mãos sem ensopar o chão ou uns aos outros. (E, enquanto eles discutem comigo para ganhar mais uns minutinhos de jogo eu, para não perder nem um minuto, aproveito para pegar a bicicleta na garagem, encher os pneus e, se der, já solto a roda da frente. Tudo isso, sem sujar o modelito “senhora diretora”, que estou usando.)

3ª Etapa: jantar em paz.Todos querem falar. Ao mesmo tempo. Quando Ian começa, Félix, seu gêmeo, reclama que é ele quem deve falar primeiro, porque, afinal, nasceu 57 segundos mais cedo. Martim ri, e chama Félix de chorão. Félix se enfurece e chuta a canela de Martim. Ian começa a chorar porque ninguém está prestando atenção na história dele. Theo, o adolescente, suspira fundo e me olha, solidário. Alguns arrotos e peidos, gritos e reclamações mais tarde, terminamos. (Enquanto tiramos os pratos da mesa, aproveito para preparar meu papaia, e pegar as caramanholas.)

4ª Etapa: subida para o banho.
Eu: quem vai pro banho primeiro?
Martim: Último!
Ian: Segundo!
Félix: Ah, não vale! Vamos tirar jó-quem-po!
Eu: logo pro banho, senão não vai dar tempo de ver “Drake e Josh”.
Martim: Primeiro!
Ian: Segundo!
Félix: Ah, não vale!!! Vamos tirar jó-quem-po!
(E, enquanto isso, eu preparo as caramanholas e ponho na geladeira).

5ª Etapa: banho sem desastres e nem (muito) desperdício de água e gás. (Barulho de água escorrendo)
Eu: Ian, você não entrou no banho ainda?
Ian: Deu vontade de fazer cocô!
Eu: Então desliga a água, né Ian!
Ian: Agora não dá... tou no “vaso solitário”!
E lá vou eu, fechar as torneiras, mas ele já saiu do “vaso solitário” e ligo a água de novo. (Desço correndo as escadas, abro a porta da frente e destranco o carro para por a bike, e quando vou por a bike, vejo que o Félix ainda não subiu pro banho!)

6ª Etapa: segundo banho sem desastres, nem molhaceira no banheiro.
Eu: Félix! Você não foi pro banho ainda?
Félix: Calma, mãe! O Ian ainda não terminou.
Eu: Ian! Você ainda não terminou!?
Ian: Já tou no “queme”!
Eu: vai logo, Ian! Olha o desperdício de água!
(E o tempo vai escorrendo. Desço de novo e consigo encaixar a bike no carro, mas não sem deixar uma linda marca de corrente na calça da “senhora diretora”. Ainda falta o resto do equipamento. Subo novamente).
Eu (exaltada): Félix! Não entrou no banho ainda! Ian! Que molhaceira é essa!?
Finalmente, Ian sai e Félix entra debaixo do chuveiro.

7º Etapa: terceiro banho. Martim é mais eficiente. Mas preciso averiguar se ele realmente se lavou. Quando ele senta na cama pra ver televisão, sinto o cheiro de chulé.
Eu: Martim, você lavou seu pé?
Ele: Claro, mãe!
Eu: e esse chulé?
Martim: Não sei...Que chulé?
Eu: Pode voltar pro chuveiro e esfregar direito, com bastante sabonete.
Ele: Ah, mãe que saco!!! Posso ir no intervalo??
(Desço de novo e coloco sapatilhas, luvas e capacete no carro).
8ª Etapa: assistir TV no meu quarto. Enquanto assistem“Grandes destruições”, pego a calça de ciclismo, o a blusa, a jaqueta, bandana, e coloco no meu banheiro.
Dou uma olhada para ver se reina a paz. Então pego o monitor cardíaco, tênis e meia, levo pro banheiro.

9ª Etapa: colocar o time pra dormir.
Reclamam, mas me beijam e vão escovar os dentes e deitar.
Aí vou fazer a transição, digo, toalete: barba, cabelo, bigode, ops, dentes, pele, cabelo. E a casa ta caindo lá no “dormitório” deles. Vou até lá.
Eu: Agora chega! Acabou o dia! É pra dormir! Ian, você não vai se aquietar?
Ian: kikikikikihihihihi.
Eu: Ian! Você quer ir dormir lá embaixo na sala, sozinho?
Ian: Não!
Eu: então sossega.
(Volto pro meu quarto, visto o pijama). Algumas ameaças e broncas mais tarde, finalmente, acalmam.

10ª Etapa, colocar o time pra dormir de novo. Quando tudo parece silencioso, escuto passinhos ligeiros descendo as escadas.
Eu: onde vocês pensam que vão???
Ian: Tou com sede!
Félix: tou com fome, quero comer banana.
Eu: Rápido. E, Félix, vai ter que escovar os dentes de novo.
Eles voltam e, finalmente, encerramos esta etapa.

Última etapa. Mandar o Theo pra cama. Encostar a cabeça no travesseiro e apagar. Previsão de horas de sono: 6.

Pergunta: será que o Lance Armstrong encarava um Tour desses?

Um comentário:

  1. Carambola, é isso todo dia?
    Que tal você falar um pouco da sensação de estar em cima da bike por quilômetros, ou do que você pensa enquanto nada, ou quando corre? Você pensa em quê? Você sente o quê? Como tudo isso começou?
    Tô achando tudo novo, obrigada por compartilhar...

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